Caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirme presença na inauguração do Hospital do Médio Sertão, prevista para os próximos dias em Palmeira dos Índios, Alagoas, o evento poderá ser marcado por manifestações paralelas. Produtores rurais da região organizam um protesto em resposta direta à possibilidade de o chefe do Executivo Federal anunciar a homologação da Terra Indígena Palmeira dos Índios — medida que, segundo eles, colocaria em risco a posse de propriedades centenárias na região.

A mobilização dos produtores acontece como contraponto à manifestação já anunciada por lideranças indígenas, que cobram a homologação da área há anos. O movimento indígena vem sendo articulado desde o início do terceiro mandato de Lula, quando o presidente prometeu a homologação de 14 terras indígenas em todo o país. Até o momento, 13 foram oficializadas. Resta apenas a da etnia Xukuru-Kariri, que abrange uma extensa área no município de Palmeira dos Índios.

A área reivindicada ultrapassa 7 mil hectares e, de acordo com os produtores, inclui terras que estão sob posse de famílias há mais de um século, muitas delas com documentação registrada desde o período imperial. Os produtores alegam insegurança jurídica e temem perder propriedades produtivas e historicamente estabelecidas.

“Estamos falando de famílias que vivem nessas terras há mais de 100 anos. Temos registros e certidões que comprovam essa posse. Ninguém aqui é contra os povos indígenas, mas não aceitamos perder tudo o que construímos ao longo de gerações”, afirmou um dos líderes do movimento ruralista, que preferiu não se identificar.

O temor de que Lula aproveite a cerimônia de inauguração do Hospital do Médio Sertão para anunciar a 14ª homologação fez crescer a tensão na cidade. Enquanto isso, o governo federal ainda não confirmou oficialmente a presença do presidente no evento, que deve contar com a participação de autoridades estaduais como o governador Paulo Dantas e o deputado Marcelo Victor, considerado um dos principais articuladores políticos da obra.

A expectativa da população gira em torno da entrega do hospital, que deve beneficiar mais de 300 mil pessoas da região do Médio Sertão alagoano. No entanto, a visita presidencial — se confirmada — pode transformar o evento em palco de embates simbólicos entre diferentes setores da sociedade.

O impasse entre produtores rurais e indígenas tem sido acompanhado de perto pelo Ministério da Justiça e por órgãos como a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). No Congresso, o tema também divide opiniões, especialmente entre a bancada ruralista e os representantes dos povos originários.

Com o risco de tensionamento no ar, Palmeira dos Índios se prepara para receber, além de um hospital moderno, um embate que simboliza um dos dilemas mais sensíveis do Brasil contemporâneo: a disputa entre direitos originários e posse consolidada. O cenário exige cautela, diálogo e responsabilidade de todas as partes envolvidas.

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