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Ambulante da Jatiúca

Carlito Peixoto Lima 27/07/2025
Ambulante da Jatiúca
Carlito Peixoto Lima - Foto: Assessoria

Foi na época do milagre brasileiro, início dos anos 70, o Brasil vivia numa ditadura, em compensação houve uma época de emprego e facilidade de crédito. Pensando em uma vida melhor, Nestor saiu da pequena cidade de Flexeiras com a mulher, duas filhas menores. Arranjou um emprego de vigia, conseguiu alugar uma casinha no bairro do Jacintinho, montou uma barraca de verdura para a mulher e as filhas trabalharem. As meninas não estudaram como queria Dona Imaculada. Maria do Carmo e Maria do Socorro começaram a trabalhar desde criança.


Carminha, mais velha ao completar 16 anos tornou-se uma mulher encantadora, deixava os homens ouriçados com seu rosto bonito, redondo, corpo apetitoso, atraente. Sua alegria inerente dava-lhe notória popularidade. Todo Jacintinho conhecia aquela jovem sapeca, alegre, feliz e bonita. Os homens lhe assediavam, cantadas muitas, ela sempre se desvencilhava, Às vezes um pequeno namorico para passar o tempo e tirar um sarro. Até que um dia apareceu Igor, rapaz simpático, jogador de futebol, tocador de violão e tomador de cachaça, filho de um borracheiro comunista, ele não se interessava por política, nem se incomodava com a injustiça social, só queria saber de gandaia e carnaval. Era cantor nas Rodas de Samba. Preparava-se o ano inteiro para os quatro dias de folia e alegria do carnaval. Amava todas as mulheres do mundo, tinha as jovens como diversão, nunca havia se enrabichado, até que conheceu a bonita, sapeca Carminha. Foi enorme a atração entre os dois, acertaram namoro. Ele pensava e desejava a namorada o tempo inteiro, ela só queria saber de Igor. Nos primeiros meses foi difícil segurar a virgindade. Durante o carnaval, depois do desfile das Escolas de Samba na Rua do Comércio, foram tomar um resto de cachaça à beira-mar no fim da noite. Aconteceu o que estava previsto, a virgindade de Carminha foi embora com quentes carinhos na praia da Avenida da Paz. Deixou a areia branca marcada de vermelho sangue


Meses depois apareceu a gravidez. O casamento aconteceu na Igreja do Jacintinho com as duas famílias reunidas. O genro passou a morar com os sogros até encontrar emprego. Certo dia um vereador deu-lhe um cargo comissionado, dinheiro curto. Igor frequentava a boemia com o vereador, outro tremendo raparigueiro. Até que um dia a filha nasceu, foi uma alegria, maior felicidade ver aquela menina rechonchuda, chorando e sorrindo.


Na eleição seguinte o vereador perdeu o mandato, Igor perdeu a boquinha do emprego. Danou-se a beber em casa, nas bodegas, entrou no jogo, ficou devendo a Deus e ao mundo. Briga constante com a mulher. A única alegria da família era a criança de dois anos, sapeca que nem a mãe. Mesmo com a trágica situação do marido, Carminha continuou uma mulher alegre, só não aceitava sua vadiagem.


Certo dia Igor desapareceu, todos pensavam que estava na zona, dessa vez ele tomou um ônibus, foi tentar a vida em São Paulo. Dois meses depois mandou notícias estava empregado. Naquela terra para sobreviver tinha que trabalhar. No final da carta confessou suas intenções, quando estivesse bem de vida mandava buscar a família. Foi sua única e última carta, nunca mais ninguém ouviu falar em Igor.


Carminha conseguiu um emprego, faxina e servir cafezinho numa empresa. O patrão agradou-se de seu astral e de suas curvas. Num final de expediente tentou agarrá-la, pensava ser fácil, levou uma cafeteira nos cornos, ficou o galo. Desempregada encontrou-se com o ex-vereador, conseguiu um ponto de ambulante na praia da Jatiúca. Foi sua felicidade, há mais de 20 anos ela vive da venda de cerveja, tira-gosto e aluguel de cadeira. Os turistas adoram seu ponto. Com seu ganho educou a bonita filha que trabalha em uma grande empresa. Namorado, Carminha teve muitos, casar nunca. Todo dia monta sua parafernália logo cedo, as mesas estão sempre limpas e floridas. Varre e limpa constantemente além de sua área de trabalho na praia. Ela tem um ar de quem é feliz, quarentona, vive de biquíni, ainda causa furor nos olhares e desejos dos homens. Carminha mulher de fibra, honesta, irradia alegria onde estiver, é uma vivente de nossa bela Maceió.