Política

Funcionária fantasma no gabinete de Hugo Motta já recebeu mais de R$ 800 mil da Câmara dos Deputados

Gabriela Pagidis atua como fisioterapeuta em clínicas particulares durante o expediente e não é vista na Câmara; rotina levanta suspeitas sobre esquema de nomeações políticas

Redação com agências 15/07/2025
Funcionária fantasma no gabinete de Hugo Motta já recebeu mais de R$ 800 mil da Câmara dos Deputados
Presidente da Câmara, Hugo Motta - Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados

Uma investigação jornalística revelou que a fisioterapeuta Gabriela Batista Pagidis, de 30 anos, nomeada como secretária parlamentar no gabinete do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), pode estar atuando como funcionária fantasma. Desde junho de 2017, Gabriela já recebeu R$ 807,5 mil em salários pagos pela Câmara, mesmo sem desempenhar funções visíveis na Casa Legislativa.

De acordo com a apuração da coluna de Tácio Lorran, Gabriela mantém rotina profissional em pelo menos duas clínicas particulares de Brasília. Na segunda-feira (14), por volta das 10h30, foi vista trabalhando no Instituto Costa Saúde, na Asa Norte, onde atendeu a reportagem como recepcionista e forneceu orientações para agendamento de consultas. Segundo relatos, ela também atua no local às quartas-feiras. Às terças e quintas-feiras, a fisioterapeuta trabalha à tarde no Centro Clínico Bandeirantes, no Núcleo Bandeirante. Já na última sexta-feira, Gabriela foi vista em uma academia pela manhã e, à tarde, no Zoológico de Brasília — horários em que deveria estar exercendo sua função no gabinete parlamentar.

Gabriela está lotada oficialmente no gabinete de Hugo Motta desde 2017, com salários que variaram de R$ 1.550,66 a R$ 16.714,06. Antes disso, foi nomeada em 2014 no gabinete do ex-deputado Wilson Filho, atual secretário de Educação da Paraíba e aliado político de Motta. Somando os dois períodos, os valores recebidos pela servidora ultrapassam R$ 890,5 mil.

A equipe da coluna Tácio Lorran acionou a Câmara dos Deputados por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) para obter registros de entrada e saída de Gabriela Pagidis na Casa, bem como informações sobre crachás e uso de vagas de garagem. A Câmara respondeu que servidores com crachá não têm registro de entrada na portaria, que o acesso à garagem se dá apenas por credenciamento prévio, e que o controle de frequência é de responsabilidade exclusiva dos gabinetes.

O caso reforça as suspeitas sobre o uso de cargos comissionados para favorecimento político e nomeações sem exigência de contrapartida funcional. Até o momento, nem o deputado Hugo Motta nem Gabriela Pagidis se pronunciaram oficialmente sobre o assunto. A denúncia pode levar à abertura de investigações administrativas e judiciais.