Variedades
Destaque na Flip, cineasta premiada internacionalmente Juliana Sakae lança obra que une memória, identidade e ancestralidade
Uma jornada por quatro gerações revela os silêncios da história brasileira em “Eu, Brasil”, um livro que desafia o mito da democracia racial

A jornalista e produtora de cinema catarinense Juliana Sakae lança seu primeiro livro, "Eu, Brasil" (Ofício das Palavras), uma obra que une autobiografia, não-ficção e pesquisa histórica para explorar temas como ancestralidade, traumas transgeracionais e identidades deslocadas. A narrativa acompanha a jornada da autora em busca das histórias não contadas de seus antepassados, revelando camadas invisíveis da formação do Brasil. "Escrever este livro foi um processo de cura e descoberta. Percebi que, ao resgatar minhas raízes, estava também contando uma versão do país que raramente aparece nos livros didáticos", afirma Juliana.
A obra será lançada durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) 2025, no dia 1 de agosto, às 17h, na Casa Ofício das Palavra (Rua Gravatá, 65). Já no dia 2 de agosto, às 15h, Juliana participará do painel "O caminho da arte na retomada da identidade nipo-brasileira", organizado pelo Coletivo Escritoras Asiáticas & Brasileiras, também na Casa Ofício das Palavras. Os exemplares ficarão disponíveis para venda no estande das Coletivo Escritoras Asiáticas & Brasileiras, localizado na Praça Aberta.
Um projeto de distribuição de 1.000 livros para escolas, bibliotecas e universidades públicas foi aprovado pelo ProAC-Editais e conta com o apoio do Governo do Estado de São Paulo, a Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, o Programa de Ação Cultural – ProAC e o Fomento CULTSP.
Livro mescla escrita íntima e pesquisa densa
Com uma trajetória profissional dedicada a projetos ligados a direitos humanos e documentários, Juliana traz para a literatura a mesma sensibilidade e rigor investigativo que aplica no cinema. A obra foi construída ao longo de quase uma década, incluindo viagens, entrevistas e mergulhos em bibliografias frequentemente marginalizadas. "Li autores racializados, indígenas e mulheres para preencher lacunas que minha formação acadêmica não havia suprido", explica. Entre suas principais influências estão "Um Defeito de Cor", de Ana Maria Gonçalves, "O Súdito", de Jorge J. Okubaro, e "A Queda do Céu", de Davi Kopenawa. Livros que, segundo ela, a ajudaram a entender a importância de narrativas escritas por quem vive as dores retratadas.
O livro também reflete sobre questões linguísticas e de pertencimento, influenciado por obras como "Preconceito Linguístico", de Marcos Bagno, e "Lugar de Fala", de Djamila Ribeiro. "Aprendi a abraçar meu sotaque florianopolitano e a reconhecer as muitas identidades que me atravessam", diz a autora. O estilo do livro mescla escrita íntima com uma pesquisa densa, herdando técnicas do cinema documental. "Trabalhei como se estivesse editando um filme: cortando, reescrevendo e reorganizando até encontrar a estrutura certa", revela.
Quem é sistematicamente excluído da identidade nacional?
Com estrutura fragmentada e íntima, como uma colcha de retalhos, "Eu, Brasil" une memórias, arquivos, reflexões críticas, amores e perdas. É leitura para quem busca compreender suas raízes, sua identidade cultural, seus silêncios familiares.
Também é um questionamento direto ao mito da democracia racial e à falsa ideia de mobilidade social no Brasil. Juliana propõe que o país opera, até hoje, em um sistema de castas não declarado, e que só ao encarar esse passado é possível construir algo novo.
O título "Eu, Brasil" é uma provocação inspirada no pensador jamaicano-britânico Stuart Hall, refletindo o desconforto de ser brasileira e, ainda assim, ser constantemente vista como estrangeira. É um convite a refletir sobre quem é incluído e quem é sistematicamente excluído da identidade nacional.
"Eu, Brasil" é mais que uma história pessoal — é um convite para que o leitor investigue suas próprias origens. "Quero inspirar as pessoas a buscarem suas narrativas familiares esquecidas", destaca.
Sobre a autora
Juliana Sakae é jornalista formada pela Universidade Federal de Santa Catarina e produtora de cinema especializada em documentários pela New York Film Academy e Direitos Humanos pela PUC de Porto Alegre. Embora seja uma leitora voraz e escritora nas horas vagas, essa é a sua primeira publicação literária. Juliana nasceu em Florianópolis, mas morou em Los Angeles, São Paulo, Brasília, Porto Alegre e Criciúma. Para este livro, viajou para mais de dez cidades em diferentes países para investigar as origens de suas raízes.
Sócia da Muritiba Filmes, atua como produtora e documentarista, dedicando-se a temas sociais, direitos humanos e infância. Em Los Angeles, participou de diversas produções cinematográficas e foi gerente do International Documentary Association Awards, onde teve seu primeiro contato com o universo das premiações. “Eu, Brasil” marca sua estreia na literatura.
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