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'Dilma colocou o NBD em evidência', diz ex-vice-presidente do banco do BRICS

Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, o economista Paulo Nogueira Batista Jr. comentou a substituição do uso do dólar por parte do grupo, a importância da cooperação dos países do Sul Global e o que espera de colaborações do foro nos próximos anos.
A ex-presidente do Brasil Dilma Rousseff assumiu a presidência do Novo Banco do Desenvolvimento (NBD) — também conhecido como Banco do BRICS — em março de 2023 e, neste ano, foi reeleita ao cargo com o aval do presidente da Rússia, Vladimir Putin, responsável da vez pela indicação à gestão da organização econômica multilateral.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, o ex-vice-presidente do NBD Paulo Nogueira Batista Jr. fez elogios à nomeação de Dilma e afirmou que a petista traz força para a instituição financeira do grupo.
"[Dilma] fez algumas coisas importantes, colocou o banco em evidência de novo. Quando nós criamos o banco, ele estava em evidência, causou uma grande preocupação no Ocidente, um rival preocupante."
O economista destaca que o NBD foi criado como uma alternativa a organizações econômicas mais tradicionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), cujo Batista Jr. foi diretor-executivo, e o Banco Mundial. O Banco do BRICS, portanto, é uma solução financeira mais aderente e alinhada aos interesses dos países do grupo.
"Se nós queremos realmente ter uma influência positiva, nós temos que continuar lá no FMI, no Banco Mundial, nos mecanismos dominados pelo Ocidente. Marcamos a nossa presença lá. [Mas] nós vamos fazer o nosso próprio processo, os nossos próprios mecanismos e, entre eles, o mais importante foi o Novo Banco de Desenvolvimento."
Outra questão muito discutida sobre o BRICS é a capacidade do grupo de promover a desdolarização, ou seja, substituir o dólar como moeda de transação entre as nações do foro. Sobre esse assunto, o economista destaca que cerca de 90% das transações entre China e Rússia já utilizam moedas nacionais, tendo Irã e Rússia também alcançado números parecidos.
Apesar de classificar esse processo de substituição do dólar como muito importante, Batista Jr. não acredita que o BRICS possa ter uma moeda única, assim como o euro para a União Europeia, e sugere outra ideia.
"Nós temos que continuar com nossos bancos centrais, com as políticas monetárias defendidas em âmbito nacional com as nossas moedas. [...] O que se pode criar é uma moeda de reserva paralela às moedas nacionais e ao sistema ocidental, que funcionaria para viabilizar as transações entre países."
Expandir influência sem crescer
O economista ouvido neste episódio do Mundioka acredita que o atual tamanho do BRICS, composto por África do Sul, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Índia, Irã, Indonésia e Rússia, é o suficiente para o grupo se manter relevante e plural.
No entendimento de Batista Jr., é possível utilizar outros mecanismos para expandir a influência do foro, sem que os atuais países que compõem o grupo percam poder de decisão.
"É perfeitamente possível acomodar países como a Venezuela, não como membros plenos, mas como países parceiros, categoria criada durante a presidência russa em 2024. Bolívia e Cuba, por exemplo, entraram como países parceiros."
Ainda segundo o ex-vice-presidente do NBD, para que as ações do BRICS possam acontecer de maneira mais rápida e efetiva, é preciso mudar o formato de decisões do grupo, que atualmente se estabelece por unanimidade.
"Iniciativas podem ser voluntárias e não vinculantes, podem não necessariamente envolver todos os países do grupo numa primeira etapa. Digamos, a Índia não quer entrar, por exemplo. Bem, a Índia não entra e, mais a frente, ela pode mudar de ideia. Entendeu? Não pode a Índia ou qualquer outro país dizer: 'Não, isso eu não quero.'"
Governo do Brasil deve focar no BRICS
Batista Jr. foi critico ao governo do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, sobre a ida do mandatário à Cúpula do G7, organizada pelo Canadá no último mês de junho. O economista entende como "perda de tempo" não só a viagem de Lula, como a dos líderes de África do Sul e Índia, que também participaram do evento.
"Achei um despropósito a ida do Lula ao G7. Lá estiveram o presidente brasileiro, o primeiro-ministro da Índia [Narendra Modi] e o presidente da África do Sul [Cyril Ramaphosa] como convidados, sem direito a influir sobre nada. O que esses três foram fazer lá valorizando o G7, quando nós criamos o G20 [...] para ser um contraponto ao G7, justamente? Agora, o Lula está indo lá como convidado. Perda de tempo. No mínimo, perda de tempo."
O ex-vice-presidente do NBD não é radical quanto à postura histórica brasileira de boa vizinhança com outras nações, mas acredita que o Brasil deve estar focado nos aliados do BRICS.
"A posição do Brasil tem que ser vista com sutileza. Nós não temos interesse em hostilizar Estados Unidos, Europa. Nós temos interesse em estar próximos do BRICS porque o BRICS, especialmente a China, tem o que oferecer ao Brasil. O Ocidente nada tem a oferecer, a não ser problemas, interferências, estragos... Essa que é a grande verdade."
O entrevistado também faz um alerta para o que classificou como "protecionismo verde" dos países europeus, como a França, que usa a questão ambiental para barrar importações de países da América Latina. Segundo Batista Jr., o acordo Mercosul-União Europeia estar travado por esse motivo deve ser visto como fator de sorte para o Brasil, que pode ter dificuldade em competir com as corporações industriais alemãs, por exemplo.
"Os europeus querem se reservar ao direito de assinar acordos de 'livre comércio' conosco, mas com livre comércio só do nosso lado. Nas áreas em que nós somos competitivos, eles fazem pouquíssimas concessões."
Por Sputinik Brasil
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