Economia
Rumo incerto de parte da inflação de alimentos limita revisão de expectativas

O ritmo de aumento dos preços dos alimentos semielaborados e de parte dos industrializados diminuiu e deve contribuir para o arrefecimento da inflação agora, mas a perspectiva para os grupos no restante do ano é incerta e inibe revisões para baixo nas projeções do mercado para a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2025.
As condições necessárias para que alimentos que sofrem algum grau de transformação fiquem mais baratos estão se formando, atreladas à melhora climática em comparação com o ano anterior, sem os fenômenos climáticos El Niño e La Niña, diz André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
Segundo ele, que também é coordenador do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da FGV, se os preços desses produtos ficarem mais comportados, a inflação medida pelo IPCA deve encerrar o ano perto de 4,9%. Caso contrário, pode ficar entre 5,4% e 5,5%, nível em que se encontra hoje.
De acordo com a classificação de alimentos realizada pelo Banco Central (BC), existem três grupos: in natura, aqueles que não sofrem nenhuma transformação, como ovos, tubérculos, frutas e verduras; semielaborados, que já possuem certo grau de transformação, por exemplo, carnes bovinas, suínas, leite e cereais; e industrializados, cujo grau de transformação é maior e contempla uma ampla gama de produtos.
Os alimentos industrializados têm o maior peso dentro da inflação de alimentação no domicílio, com 53% de contribuição, enquanto os semielaborados participam com 32% e os in natura com 15%.
A visibilidade sobre os preços de alimentos industrializados, no entanto, é prejudicada pelo fato de os custos de produção, que representam pouco mais da metade do valor de produtos alimentícios, serem influenciados por componentes sujeitos a fortes variações, como o câmbio e o petróleo.
Segundo o economista João Fernandes, da gestora Quantitas, o câmbio é hoje a variável que mais pesa nessa conta. No cenário atual, o movimento do mercado global favorece as moedas emergentes, mas segue dependente majoritariamente de fatores externos. Fernandes mantém a projeção para o IPCA de 2025 em 5,2%, com viés baixista devido à recente apreciação do real ante o dólar.
Guilherme Moreira, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe), comenta que a expectativa é de continuidade na reversão da alta dos preços de alimentos em geral até julho, mas que nos semielaborados e industrializados a mudança será mais lenta. "A dinâmica desses preços é um pouco diferente. Enquanto os in natura são mais voláteis, esses alimentos demoram mais para subir e para cair", detalha.
Fernandes prevê desaceleração da inflação de alimentos industrializados entre junho e julho como reflexo do recuo nos preços no atacado - algo que já aparece em índices de preços e em dados de instituições como o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Segundo o economista, o pior momento da inflação de alimentação no domicílio no IPCA foi registrado em novembro de 2024. "No acumulado em 12 meses daquele período, vimos alta de 8,4%. Agora, no acumulado até maio de 2025, vemos uma inflação de 7,2%", afirma Fernandes. De acordo com ele, por essa métrica, a inflação não vai ceder muito no curto prazo, mas o movimento será mais perceptível na margem.
Entre os alimentos que reduziram a alta de lá para cá, Fernandes destaca o leite longa vida e os cereais, como arroz e feijão. Por outro lado, seguem com os preços pressionados o café moído, o café solúvel e a carne bovina, que pode ainda apresentar uma nova elevação no preço até o final do ano. Dentro da alimentação no domicílio, o café possui peso de 4,4%, leite longa vida de 4,8%, cereais de 5,2% e carnes de 17,3%.
A expectativa dele é de que em junho o IPCA registre deflação de 0,50% na alimentação no domicílio, retornando para o terreno positivo ainda em julho, com alta prevista de 0,10%. Em agosto, no entanto, o movimento ainda é incerto. Por ora, a gestora estima variação positiva de 0,10%. O economista prevê inflação de alimentos de 6,3% em 2025 e de 4,9% em 2026.
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