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Despedida emocionante marca velório e sepultamento do mestre do forró Xameguinho em Maceió

Vanessa Lima 01/07/2025
Despedida emocionante marca velório e sepultamento do mestre do forró Xameguinho em Maceió

O Parque das Flores, em Maceió, foi tomado por um clima de emoção e gratidão na manhã desta terça-feira (1º), durante a despedida de Sebastião José Ferreira Maximíno, o Xameguinho. Ao som da sanfona que marcou sua história, familiares, amigos e admiradores se reuniram para prestar homenagem ao mestre do forró, que faleceu aos 62 anos.

Enquanto a canção entoava versos que resumem a simplicidade de sua visão sobre a vida – “Da vida não levo nada, do jeito que a vida vem...” –, os presentes se emocionavam ao lembrar a trajetória de quem ajudou a manter vivo o forró no coração do Brasil. Entre acordes e recordações, o legado de Xameguinho se confirmava como parte essencial da cultura nordestina.

O velório e o sepultamento reuniram artistas de várias gerações, que destacaram o talento e a generosidade de Xameguinho. As lágrimas se misturaram aos acordes da sanfona, enquanto relatos repletos de gratidão recordavam a trajetória de um músico que dedicou sua vida à cultura nordestina.

Presente ao velório, o músico Geraldo Cardoso lembrou o legado que o sanfoneiro deixa. “Não era apenas um sanfoneiro, era um músico por excelência. Ele criou arranjos que fizeram sucesso até em Nova York. Perder o Xameguinho é perder parte da tradição musical de Alagoas.”

Para o produtor cultural Marcos Assunção, a partida precoce aumenta a dor da perda. “Xameguinho tinha apenas 62 anos, estava no auge do sucesso. Perdemos um mestre, um amigo, uma inspiração. A saudade é enorme, mas sua estrela continuará brilhando no céu da música.”

Sebastião, natural de Atalaia, começou a tocar sanfona aos 12 anos, inspirado por nomes como Luiz Gonzaga e Trio Nordestino. Foram mais de cinco décadas de carreira, que lhe renderam reconhecimento nacional e internacional.

A notícia da sua morte, ocorrida na madrugada de segunda-feira (30) por provável infarto, comoveu artistas e admiradores em todo o país. O músico Joelson dos Oito Baixos, amigo próximo, resumiu o sentimento coletivo. “Xameguinho era um menino de ouro, puro, um sanfoneiro nota 10. Todo mundo amava ele.”

Representante da nova geração do forró, Anderson Fidellis contou que o artista teve grande influência em sua trajetória. “Xameguinho é um tipo de artista que aparece para criar um espaço. E foi isso que ele fez. Criou o seu ambiente, criou o seu jeito de trabalhar e influenciou muita gente com isso. Inclusive eu.”

O jovem músico também lembrou, com humor e carinho, das vezes em que se sentia intimidado pela presença do mestre no estúdio. “Às vezes ele aparecia de surpresa e eu me avexava. Pensava: ‘Meu Deus do céu, tô aqui gravando uma coisinha e, de repente, tem Xameguinho observando’. Eu errava, errava muito, mas corrigia depois. E ele sempre ali, dando aquela força.”

Nos últimos anos, Xameguinho viveu um novo impulso de popularidade quando músicas como “Outra Vez” e “Tanta Solidão” viralizaram nas redes sociais, aproximando seu trabalho de um público mais jovem.

Dono de um estilo inconfundível e de um timbre marcante, ele também se destacou como produtor musical e arranjador. À frente do Stúdio Xamego, em Maceió, recebeu dezenas de artistas alagoanos, sergipanos e pernambucanos.

Além do forró, Xameguinho gravou obras na música gospel, em parcerias com Amara Barros e Marilyn Caroline. Sua discografia inclui álbuns como Do Jeito do Meu Coração (1992), Xameguinho – O Original (2013) e Só Xamego (2011). Ele também dividiu o palco com nomes como Mano Walter, Chambinho do Acordeon, Kara Véia, Mestre Zinho, Tito do Gado, Zuza, Chau do Pife e até Hermeto Pascoal.

A lacuna deixada por Xameguinho será sentida em todo o forró, mas seu legado permanecerá vivo nas canções, nos palcos e na memória de quem pôde conviver com sua arte.