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Soberania tecnológica é uma prioridade do Brasil durante presidência do BRICS, diz ministra à Sputnik

Por Sputinik Brasil 30/06/2025
Soberania tecnológica é uma prioridade do Brasil durante presidência do BRICS, diz ministra à Sputnik
Foto: © Foto / Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, detalhou os planos do governo federal para a presidência brasileira do BRICS em 2025 e destacou o papel estratégico da ciência e da tecnologia na inserção internacional do país.

Entre as prioridades, estão a ampliação da soberania digital, o fortalecimento da cooperação Sul-Sul e o desenvolvimento de tecnologias alinhadas às realidades locais.

"As nossas prioridades são o reforço na cooperação do Sul Global e essa retomada que o presidente Lula tem feito da reinserção do Brasil no mundo, ainda mais depois que nós atravessamos e estamos ainda em múltiplas crises e de um mundo em transição, inclusive para um mundo multipolar", afirmou a ministra.

Segundo ela, a pandemia de COVID-19 e crises como o conflito na Ucrânia expuseram a fragilidade das cadeias globais e reforçaram a importância de uma articulação regional e de investimentos em inovação.

A ministra detalhou iniciativas como a criação de uma rede social federada para o BRICS — um espaço digital público para compartilhamento de ideias — e uma nuvem de armazenamento de dados própria, voltada para o compartilhamento de informações com respeito às culturas dos países membros. "Toda inovação e grande revolução tecnológica, se concentrada na mão de alguns poucos [...] acaba levando a uma maior desigualdade."

Entre os projetos destacados está também "o programa de embaixadores do supercomputador Santos Dumont", voltado a conectar instituições do BRICS em pesquisas conjuntas. Localizado em Petrópolis (RJ), o equipamento é considerado o mais potente da América Latina para pesquisa acadêmica. A ministra também citou o estudo de viabilidade de um cabo submarino para transferência de dados científicos e educacionais como um dos destaques da presidência brasileira no grupo.

Fundo recuperado e integração industrial

Luciana afirmou que um dos principais legados do atual governo foi a recomposição integral do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que teve os recursos contingenciados até 2026 durante o governo anterior. "No primeiro ano foi R$ 10 bilhões, no segundo ano, R$ 12,7 bilhões, [e] este ano agora está em R$ 14,7 bilhões de investimentos."

Segundo a ministra, os recursos estão integrados à Nova Indústria Brasil (NIB) e ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em áreas como transformação digital, energia, saneamento e bioeconomia. "Depois de mais de dez anos, o crescimento brasileiro foi puxado pela indústria de transformação, revelando que a gente está no caminho certo."

Cooperação espacial com China e BRICS

A cooperação internacional também avança na área espacial. Luciana destacou a importância da parceria com a China no desenvolvimento do programa CBERS, de sensoriamento remoto, e anunciou a criação de uma constelação virtual de satélites entre os países do BRICS.

"A cooperação espacial no BRICS é extremamente estratégica para o Brasil, pois permite a redução das assimetrias tecnológicas entre os países membros." Segundo ela, os países do bloco já compartilham dados para resposta a desastres ambientais, como vazamentos de óleo ou catástrofes naturais, e discutem a criação de um Conselho Espacial do BRICS com governança estruturada.

Energia nuclear e novos membros

Sobre o setor nuclear, Luciana destacou o interesse do Brasil em aprofundar parcerias com a Rússia, especialmente na área de pequenos reatores nucleares. "Essa relação no setor nuclear não é nova, mas é claro que queremos aprofundá-la."

"Importamos da Rússia a maior parte dos radiosótopos que necessitamos para a produção nacional de radiofármacos", disse a ministra, acrescentando que o Brasil quer aprofundar a cooperação em pequenos reatores nucleares com base tecnológica brasileira.

Com a ampliação do BRICS e a entrada de novos países, o Ministério busca incluir os novos membros nas iniciativas de ciência, tecnologia e inovação. O Irã, por exemplo, já sediou reuniões sobre energias renováveis. O bloco também prepara o lançamento de novas chamadas de financiamento para projetos conjuntos.

Inteligência artificial com sotaque brasileiro

Outro destaque da entrevista foi o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, encomendado pelo presidente Lula. Com previsão de investimento de R$ 23 bilhões em até cinco anos, o plano foi entregue em julho de 2024 e tem cinco eixos: infraestrutura, formação, melhoria de serviços públicos, inovação empresarial e governança.

O Plano Nacional de Inteligência Artificial, lançado em julho de 2024, é outra prioridade para a soberania tecnológica. Com previsão de investimento de R$ 23 bilhões, o plano se estrutura em cinco eixos estratégicos e busca garantir uma IA ética, segura e adequada às realidades brasileiras. "Queremos que tenha soluções feitas por brasileiros, para brasileiros, e considerando nossas particularidades sociais, culturais e econômicas."