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João Avelino Torres, o pracinha palmeirense que viu a “cobra fumar em Montese, na Itália

Expedicionário nasceu na Serra da Mandioca em Palmeira dos Índios e viveu grande parte da sua vida em Maceió e Arapiraca

Roberto Gonçalves 29/06/2025
João Avelino Torres, o pracinha palmeirense que viu a “cobra fumar em Montese, na Itália

O expedicionário brasileiro João Avelino Torres nasceu em Palmeira dos Índios no dia 12 de fevereiro de 1920 e faleceu em Arapiraca no dia 12 de abril de 1995. Viveu grande parte da sua vida na terra de Manoel André com a esposa e os filhos e deu a sua contribuição para o desenvolvimento de Arapiraca como enfermeiro e farmacêutico, em seu estabelecimento na Rua Bela Vista — a Farmácia Montese.

Participou da Campanha da Itália entre os meses de julho de 1944 e maio de 1945. Partiu com os soldados brasileiros para a guerra, adotando como símbolo o desenho de uma cobra fumando cachimbo, acompanhado da expressão “A cobra vai fumar”, uma vez que, na época, Getúlio Vargas tinha dito que era mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra.

Pois a cobra fumou — neste caso, em Montese — e esta cidade presta uma homenagem aos nossos pracinhas brasileiros, ao lhes dedicar um espaço exclusivo em um museu muito visitado pelos turistas.
Na guerra da Itália, a FEB teve mais de dois mil perdas, entre mortos, desaparecidos e feridos, e fez mais de vinte mil prisioneiros. Importante lembrar a grande contribuição da FAB — Força Aérea Brasileira —, com as suas 1.282 horas de voo sobre as linhas inimigas.

Outro fator que contribuiu para que os cidadãos montesinos sejam gratos aos nossos pracinhas foram as relações de amizade que estes instauraram com a população: da parte brasileira, os socorros e os abastecimentos aos civis superaram os limites impostos pelos Aliados.

Após retornar da Itália, João Avelino Torres voltou para sua terra natal, constituiu família e, anos depois, passou a residir em Maceió, no bairro de Bebedouro, prestando serviços na 20ª CSM do Exército.

Nos dias de tristeza diante dos rigores da guerra, João Avelino Torres fez uma promessa a Santo Antônio, após resgatar, em uma casa destruída pelos canhões, uma foto do Santo: “Se retornasse vivo ao Brasil, seu primeiro filho se chamaria Antônio”. A graça foi alcançada pela sua fé e devoção a Santo Antônio.

Anos depois, passou a residir em Arapiraca. Tive o privilégio de ser um de seus amigos — homem simples, educado, de fala mansa. Conheci o bravo ex-combatente através do seu filho, Antônio Cavalcante Torres, em Maceió, onde trabalhava como estofador de móveis na Rua Formosa. Essa amizade pura, desde a juventude, foi cultivada ao longo dos anos em Arapiraca.

Seu João, sempre que falava dos rigores da guerra, era tomado pela emoção e não continha as lágrimas. No entanto, contou muitos detalhes do sofrimento dos soldados brasileiros no combate na Itália: muitos amigos e conterrâneos mortos, feridos e mutilados diante das explosões de granadas e minas dos alemães.

Falava das atrocidades da guerra com muita tristeza, em razão da destruição da história das famílias, a miséria, as doenças e a fome. Contava um fato degradante: as filhas e esposas de italianos eram obrigadas a se prostituírem em troca de alimentos, pó de café, chocolate — e, muitas vezes, até o pó de café já servido.

Pela sua história, como ex-combatente, cidadão e pai de família exemplar, João Avelino Torres é uma das personalidades de destaque de Arapiraca no seu Primeiro Centenário.