Política

Aldo Rebelo: “Se for para a derrota, Lula vai terceirizá-la”

Ex-ministro afirma que o presidente perdeu sua principal qualidade — a escuta — e alerta para risco de isolamento e ruptura com o Congresso

Redação | Tribuna do Sertão 29/06/2025
Aldo Rebelo: “Se for para a derrota, Lula vai terceirizá-la”

O ex-ministro Aldo Rebelo, um dos nomes mais influentes do primeiro governo Lula e seu líder na Câmara em 2003, voltou ao debate político nacional com uma análise contundente sobre o atual cenário do governo petista. Em entrevista ao canal MyNews, Rebelo afirmou que o presidente perdeu uma de suas melhores qualidades: a capacidade de ouvir conselhos contrários, o que estaria conduzindo o governo a um estado de isolamento político e perda de rumo estratégico.

“Lula sempre soube ouvir. Sabia quem tinha autoridade para contestá-lo. Hoje, ninguém mais fala. O entorno virou plateia”, lamentou. Para Aldo, o presidente se encontra cercado por ministros e assessores sem coragem para apontar erros, criando uma atmosfera de autoconvencimento e distância da realidade. “Isso é o caminho do desastre”, disse.

A avaliação do ex-ministro é de que o governo vive uma crise dupla: econômica e política, ambas já instaladas. Com um Congresso hostil, base parlamentar esfarelada e um ministro da Fazenda exposto à humilhação pública, a gestão Lula teria perdido a narrativa econômica e estaria se aproximando de uma ruptura institucional perigosa.

O episódio mais recente foi o recuo do governo após a derrota de Fernando Haddad em pauta fiscal no Congresso. A decisão de judicializar a crise, segundo Rebelo, pode agravar ainda mais a tensão: “Depois da queda, pode vir o coice. Judicializar só acirra a guerra. Romper com o Congresso é suicídio político.”

Aldo sustenta que Lula se tornou uma figura impaciente, centrada em disputas menores e sem horizonte estratégico. “Antes, Lula olhava para o futuro. Hoje, olha apenas para o casco, atolado numa agenda que não une o país.” Segundo ele, a combinação entre políticas identitárias e aumento de impostos não forma maioria social. “Essa agenda só interessa aos bancos, que lucram com os juros, e a um governo que quer gastar mais”, criticou.

Diante da crise, surgem rumores de substituição na equipe econômica. Rebelo questiona: “Como se deixa queimar um ministro da Fazenda dessa forma?”

Apesar das críticas, Aldo não se limita ao diagnóstico. Em movimento pelo país com a bandeira do MDB, tem participado de fóruns e debates, defendendo que o partido ocupe o vácuo deixado por uma esquerda refém de Lula e uma direita ainda presa à sombra de Bolsonaro. “Por que não o MDB em 2026?”, indaga, sugerindo nomes como o da ministra Simone Tebet como alternativa nacional.

E sobre Lula, é direto: “Conheço Lula. Se for para a derrota, ele vai terceirizá-la. Vai entregar para outro.”

A fala, vinda de um ex-aliado, soa como alerta. E em meio à temperatura crescente em Brasília, reforça o sentimento de que o governo atravessa não apenas um impasse momentâneo — mas a erosão de um modelo político que já não escuta, não se adapta e, talvez, não aprenda.