Internacional

Ataque de Israel mina acordo nuclear e fortalece política de resistência do Irã, avalia analista

13/06/2025
Ataque de Israel mina acordo nuclear e fortalece política de resistência do Irã, avalia analista
Foto: © AP Photo

Em entrevista à Sputnik Brasil, analista aponta que o recente ataque israelense contra o Irã pode ser uma estratégia para retirar o foco da questão humanitária de Gaza e pressionar o país a assinar o acordo nuclear com os EUA, mas afirma que a medida pode ter efeito contrário ao desejado por Washington.

O ataque israelense lançado na madrugada desta sexta-feira (13) contra instalações militares iranianas mina a possibilidade de fechar o acordo nuclear que vinha sendo negociado entre Washington e Teerã. É o que aponta, em entrevista à Sputnik Brasil, Camila Munareto, doutora em Estudos Estratégicos Internacionais (UFRGS) e pesquisadora do Núcleo de Pesquisa sobre as Relações Internacionais do Mundo Árabe (NUPRIMA).

De acordo com a pesquisadora, para que o acordo seja efetivado é necessária confiança entre as partes, algo que foi dissipado com o ataque desta madrugada. Segundo Munareto, no momento não há como confirmar se o ataque israelense teve a ciência ou o aval norte-americano, mas as declarações dadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, nas redes sociais horas após o ataque, afirmando que o Irã deve fechar o acordo "antes que seja tarde demais" apontam nessa direção.

"É como se o ataque fosse uma medida coercitiva em relação a possibilitar esse acordo, né. Só que eu acho que aqui a gente também tem que se questionar se o objetivo americano é negociar com o Irã ou impor um acordo ao Irã. Muitas vezes esse posicionamento [de Trump] acaba indicando que o objetivo seria impor esse tipo de acordo", avalia a pesquisadora.

Entretanto ela afirma que, se a estratégia de EUA e Israel era pressionar o Irã em direção ao acordo, pode ter o efeito contrário, uma vez que a política iraniana tem como base a resistência.

"Na verdade, esse ataque, ele acaba reforçando o que a gente entende dentro da política iraniana como uma política de resistência, né. O que seria essa política de resistência do Irã? Seria a visão iraniana de que eles precisam resistir tanto à presença israelense dentro da região, né, tanto o expansionismo israelense dentro do Oriente Médio, quanto resistir também à influência dos norte-americanos na região do Oriente Médio, nas dinâmicas regionais", explica Munareto.

Nesse contexto, ela afirma que, eventualmente, o que pode acontecer é justamente o contrário do esperado por Washington e Tel Aviv, reforçando no Irã a política de resistência e fazendo com que o acordo nuclear não tenha condições de acontecer "justamente por conta da confirmação das ameaças e da ampliação dessa desconfiança entre os dois lados que estão negociando".

A pesquisadora avalia que essa eventual estratégia norte-americana pode ser considerada um tiro no pé, e aponta que os EUA não apenas na gestão Trump, mas especialmente nela, tentam impor acordos com as partes que estão dialogando, o que acaba dificultando as negociações. Ela afirma ainda que o ataque pode ser uma tentativa de retirar o foco da questão humanitária em Gaza.

"Isso coloca mais uma camada de tensão dentro da região, e desvia, de certa forma, um pouco o foco de Gaza, especialmente da questão humanitária em Gaza. A gente pode até pensar se esse não era também um objetivo, quando foi feito esse ataque ao Irã, então, acaba desviando um pouco o foco da questão humanitária em Gaza, que é urgente, que é essencial que seja observada, que seja feito algo em relação a isso", afirma.

Por Sputinik Brasil