Artigos
O Gol da Lua

Em um jogo contra o Fluminense no Maracanã, Pelé driblou oito jogadores do grande time tricolor e fez o gol na trave de Castilho. Foi um gol tão espetacular que parecia haver apenas santistas no Maracanã, toda torcida de pé aplaudiu durante 10minutos o gol mais bonito já feto na história do futebol.
O jornalista Joelmir Beting, ficou tão impressionado com o gol, que mandou fazer uma placa de bronze para colocar no saguão do estádio, com os dizeres: "Neste estádio, Pelé marcou no dia 5 de março de 1959 o gol mais bonito da história do Maracanã". Daí quando alguém faz um gol bonito diz que o jogador fez um gol de placa.
Enquanto Pelé fazia o Gol de Placa no Maracanã, nós meninos da Avenida da Paz tínhamos nossa organização de futebol de praia. Durante as férias, jogávamos todos os dias e tarde/noites, havia campeonatos. Meninos, adolescentes, ficávamos com um olho na bola e outro nas meninas que apareciam a caminho do mar, bronzear-se, queimar as pernas, o corpo, tornar a pele amorenada, como o diabo e nós gostávamos.
Nada melhor depois de uma pelada de praia que tirar o suor num mergulho junto com a namorada. O mar da Avenida, tranquilo, pequenas ondas, água morna é apropriado para namoro.
Quando podíamos jogávamos futebol, iniciando com uma zorra, hoje chamada de linha de passe, pela manhã, logo depois dividíamos os jogadores no par ou ímpar e iniciava a pelada na areia. Só de calção de banho, não havia falta, nem impedimento, nem escanteio, o que interessava era o gol. A trave, sem goleiros, era marcada por dois cocos verdes com a distância de três palmos, o gol se tornava mais difícil que numa trave normal com um goleiro.
Organizamos campeonatos, vinha gente do Poço, de Jaraguá da praça Sinimbu, era animadíssimo, naquela época nem se pensava em racismo ou outro tipo de preconceito, o que valia era saber jogar nas peladas de areia da paria da Avenida. Gerson, negro, filho de uma lavadeira era o grande astro, sabia driblar, jogava o futebol com arte e graça, todos queriam jogar com Gerson. O melhor back (defesa), era viado, sabíamos, e daí? Era difícil passar por ele, arrebentava as pernas do adversário.
A maior diversão da juventude era o futebol, e nossos ídolos era quem jogasse melhor, independente de qualquer situação social.
Comecei essa crônica falando no Gol de Placa que ficou famoso em todo mundo, ainda hoje quem faz um bonito gol, diz que fez um gol de placa. Nós Meninos da Avenida inventamos um gol mais bonito que o de placa, mais romântico, mais surreal.
Porque, quando estávamos jogando à tarde, terminávamos ao escurecer, mas se fosse noite de Lua Cheia continuávamos jogando, até a Lua aparecer, redonda, brilhante, iluminando a praia, e o jogo só terminava quando houvesse um gol depois da Lua ficar redonda. Era o Gol da Lua. O jogo acabava. Ainda tínhamos fogo, de em casa tomarmos um banho, jantar e sair para tomar uma cervejinha no bairro boêmio de Jaraguá, discutindo o jogo da tarde e o Gol da Lua. Juventude romântica.
Mais lidas
-
1ARTIGO
Dulce Melo escreve: "Um marginal travestido de policial militar"
-
2CHACINA
Major da PM é morto ao resistir à prisão em Maceió; antes, ele matou o filho e o cunhado
-
3CHACINA
Major da PM morre ao resistir à prisão no Prado; há informações de que outras três pessoas também morreram
-
4TENSÃO
Major reformado invade casa da ex-companheira e faz reféns em Maceió
-
5HISTÓRIA
A saga de Lampião e Maria Bonita, 83 anos após a chacina de Angicos