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Encerramento do Festival de Cinema de Pilar emociona público e destaca novas produções audiovisuais

Cerimônia aconteceu no último sábado (31), no Cine Pilarense, com a presença de realizadoras e a exibição do resultado final da oficina de cinema

Jamerson Soares 01/06/2025
Encerramento do Festival de Cinema de Pilar emociona público e destaca novas produções audiovisuais

A cerimônia de encerramento do Festival de Cinema de Pilar, que aconteceu nesse sábado (31), no Cine Pilarense, emocionou o público, deu destaque para novas produções audiovisuais da cidade, promessas de futuro, e foi palco para um movimento afetivo que resgatou memórias de personagens cotidianos, pessoas que lutam por sua identidade e pelo direito de existir.

A noite começou em celebração à finalização de um projeto que pôs como foco a resistência centenária de um espaço cultural e comunitário: o Cine Pilarense.

Foi chamado ao palco o diretor do festival Dário Júnior para entregar um troféu à mãe de Viviane Araújo, diretora do documentário "Treme Terra", que foi exibido no primeiro dia do festival. Viviane não pôde estar presente, mas a mãe, Carlinda Melo, foi ao festival representando a filha. Ela ficou surpresa com as honras.

Logo depois, foram chamadas duas realizadoras representantes do filme "Ainda Escuto o Céu Embaixo D'Água", Samantha de Araújo e Lua de Kendra, para receberem o troféu e realizarem seus discursos.

Para Samantha, a sensação de ter participado do festival foi algo mágico e ao mesmo tempo representativo.

"Acho que o nosso filme retrata muito do lugar do sonho para o futuro e também para o passado, mas, principalmente, para o futuro, porque é o nosso lugar e é o lugar onde a gente quer estar. Os corpos travestis precisam ser ouvidos e precisam ser afetados, precisam atravessar. Essa movimentação de travestis sendo assistidas e fazendo cinema, e mostrando pra o mundo as suas histórias, acho importante porque as pessoas conseguem identificar que são corpos reais, que necessitam estar vivos", destacou ela.

Logo depois, foram convidados ao palco o instrutor Joaddan Campos e os alunos que participaram da oficina de cinema, para falarem um pouco sobre como foi aprender técnicas e demais funcionalidades do audiovisual. O resultado da oficina, um curta-metragem de quase dois minutos intitulado "A Casa", foi exibido logo em seguida na tela do Cine. Os alunos ficaram visivelmente animados e encantados quando viram o filme projetado.

Exibição de encerramento

Após a exibição do trabalho final dos alunos, foi exposto o filme "Samuel Foi Trabalhar", dirigido por Lucas Litrento e Janderson Felipe.

O curta mostra a trajetória de Samuel, um jovem que é assombrado pelo seu instrumento de trabalho: a fantasia de engenheiro. Ele, que é uma pessoa preta e mora em uma comunidade periférica de Maceió, tenta fazer com que a empresa assine a sua carteira de trabalho, porém se frustra com o sistema desigual e capitalista.

"Ainda Escuto o Céu Embaixo D'Água", direção coletiva, foi o segundo filme exibido. Com uma trilha sonora minimalista e cenas que envolvem transformação e ancestralidade, o curta põe no centro do protagonismo a história de Samantha, uma jovem travesti que não consegue mais sonhar. Depois de um momento de reflexões sobre a travestilidade, ela embarca em uma viagem interior em busca de possibilidades de reencontro consigo mesma, através do acolhimento de suas ancestrais trans.

O terceiro curta "O Grande Amor de um Lobo", de Adrianderson Barbosa e Kennel Rogis, também esteve na programação. O curta híbrido mostra a história de um jovem que faz da realidade seu próprio filme. Ele tem um sonho de gravar uma história de amor e, enquanto o curta é gravado, o jovem narra a estrutura do filme e a forma que ele gostaria que fosse montado, como se fosse uma história dentro de outra história.

O último curta exibido foi "Benção", de Maysa Reis. Nesse documentário, as vivências, histórias de vida e memórias de mulheres avós de uma família, se entrelaçam com as vivências de sua neta. Através de diálogos e demonstração de afeto, o filme põe em discussão as questões de gênero na sociedade e o poder do pertencimento.

Daiane Araújo, turismóloga de Santana do Ipanema, assistiu a todos os filmes e estava atenta a tudo que aconteceu no festival. Ela contou que o que mais gostou foi a capacidade dos curtas abordarem sentimentos e emoções de uma forma simples.

"São situações cotidianas, como as vivências relatadas, que deixam de fato os filmes mais parecidos com o que a gente vive, com amigos, familiares ou as nossas mães. Aqueles sentimentos, aquelas histórias, são bem palpáveis. O relato em si é algo verídico. Então, a gente meio que sente um pouquinho disso na pele, de uma certa forma nos abraça", afirmou Daiane.

Noite emotiva no Cine Pilarense

A noite ficou ainda mais emotiva aos minutos finais do filme "Benção". Grande parte da plateia não segurou o choro ao ver várias cenas, como a que a neta lê as cartas de uma das avós e chora. A emoção se reverberou no Cine Pilarense.

Depois da exibição, foi convidado ao palco o diretor do festival Dário Júnior. Ele expressou sua gratidão à equipe e também a todos os apoiadores.

"O festival foi um sonho que saiu do papel e foi realizado, e ele não pode morrer e não vai parar aqui. Eu como realizador sinto a sensação de dever cumprido. Como pessoa, estou ainda em estado de êxtase. Quero deixar bem claro meu agradecimento ao Cine Pilarense, a todas as pessoas que construíram o festival, a todos os colaboradores e, principalmente, à equipe que fez o festival. O festival não foi feito para mim, mas sim para a comunidade, para o outro", disse Dário Júnior.

Sobre o festival

O projeto foi contemplado pela Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), do Governo Federal, através do Ministério da Cultura (Minc), operacionalizado pelo Governo de Alagoas, por meio da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult). O evento tem a realização da Inreais Filmes, o apoio da Prefeitura de Pilar, através da Secretaria de Educação e Cultura, da Secretaria de Turismo e Eventos, da Casa da Cultura de Pilar, além da Bombix e Sambacaitá Produções, e da direção do Cine Pilarense, representado por Sérgio Moraes.

Siga o festival no Instagram: @festivaldecinemapilar