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Conspiração contra você mesmo/as

Léo Rosa de Andrade 29/05/2025
Conspiração contra você mesmo/as
Léo Rosa de Andrade - Foto: Assessoria

Ao trafegar por vias públicas, vemos policiais que buscam, pela própria ostentação da sua existência, conter os mais incautos no manejo de seus veículos. Muita gente, logo que o\as vê, passa a dar sinais de luz para o\as condutore\as dos carros com os quais cruza. À sorrelfa, alertam o\as “colegas” sobre as autoridades rodoviárias. É como se dissessem: “Suspendam por um instante as infrações que vêm cometendo.”

Por outro lado, não se contam sobre nossas autoridades policiais rodoviárias as melhores histórias: grosseria, autoritarismo, multas à socapa, corrupção, chantagem, formação de quadrilha, ineficiência. Não tenho ouvido elogios à Polícia Rodoviária, nem como instituição. O IPEA, “revela que é alto o medo da violência no Brasil e baixa a confiança nas polícias que combatem os crimes mais próximos do cotidiano do cidadão.

Mais da metade dos brasileiros sentem ‘muito medo’ de sofrer agressão. A pesquisa também ouviu a opinião dos entrevistados sobre as instituições policiais. Apenas a Polícia Federal (PF) teve índice acima de 10% na resposta ‘confia muito’. As polícias civis e militares dos estados atingiram apenas 6% das respostas ‘confia muito’. Cerca de 9% disseram ‘confiar muito’ na Polícia Rodoviária Federal (PRF)” (FENAPRF, 08jul12).

“Para a especialista em segurança pública e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) Jacqueline Muniz, a corporação precisa de um resgaste institucional. ‘A PRF precisa passar por um processo de reinstitucionalização e resgaste de sua credibilidade, atualizando uma doutrina da força com protocolos públicos e publicados’” (Brasil de Fato, 05out23). A percepção é a de uma relação inadequada entre cidadã\o e autoridade.

Dificilmente nasceria daí alguma colaboração. Não gostamos da Polícia; não confiamos na Polícia; queremos enganar a Polícia. Contudo, paradoxalmente, esperamos bons resultados da atividade policial. Parece-me que, por decorrência dessa relação desqualificada, não poderíamos pedir tanto. Por sobre isso, todavia, emergem outros problemas.

Primeiro, não queremos que a Polícia disponha de meios para trabalhar. É verdade que a instituição tem, ou deveria ter, uma função orientadora, todavia, a sua principal atividade é de controle e repressão. Para tanto, ela precisa de meios. Considero que seus recursos mais eficientes são os que combateriam as principais causas de acidentes: para reprimir a velocidade excessiva, radares; para evitar que bêbados dirijam, bafômetros.

Aí, duas questões verdadeiras a favor da cidadania. Uma, os radares não podem ser “escondidos”; é necessário anunciar a sua instalação. Duas, ninguém pode ser obrigado a produzir prova contra si, então, nenhuma pessoa está obrigada a soprar um “bafômetro”. Também pretendo ver cumpridas as garantias cidadãs, mas, então, devo tomar em conta que os radares serão de pouca utilidade para coibir velocidade excessiva e que os bafômetros serão inúteis.

Segundo, a Justiça não decide uniformemente sobre a identificação válida do estado de bêbado, ou de embriaguez. Na falta de meios melhores, consideram-se as vestes desalinhadas, a fala arrastada, o hálito alcoólico, o andar titubeante, o reflexo fotomotor lento, o controle muscular perturbado. Ora, a legislação pertinente fala em concentração específica de álcool no sangue, logo, tem que ser medida, não pode ser suposta.

À sua vez, o STJ avocou a si a tarefa de estabelecer como se identificará a condição etílica. Daí resultou súmula 620, cujo teor assente que “para comprovar a embriaguez, objetivamente delimitada pelo art. 306 do CTB, é indispensável a prova técnica consubstanciada no teste do bafômetro ou no exame de sangue. Comprovar a embriaguez alcoólica, é indispensável a prova técnica consubstanciada no teste do etilômetro ou no exame de sangue”.

Vale o “bafômetro”; o “bafômetro” é recusável. Estamos em um impasse. Há a lei, tentamos contornar a lei. Ao tempo em que nos alarmamos em face do morticínio de guerra em nossas estradas, intentamos driblar a repressão aos excessos; resistimos à punição por nossas transgressões ao Código de Trânsito. Reflexos da ideologia da malandragem, um pouco do Brasil, uma ladinagem que nos sobra contra nós.