Economia

Há espaço para cortar juros, mas em ritmo gradual para controlar inflação, diz dirigente do Fed

18/04/2025
Há espaço para cortar juros, mas em ritmo gradual para controlar inflação, diz dirigente do Fed
- Foto: Reprodução

A presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de São Francisco, Mary Daly, disse nesta sexta-feira, 18, que há espaço para reduzir os juros dos Estados Unidos neste ano, mas que o processo precisa acontecer em ritmo gradual para equilibrar o controle da inflação e o alcance do "nível neutro certo". Para Daly, este nível está em algum lugar entre 1% a 2%, provavelmente mais perto do menor nível desta faixa de intervalo.

A dirigente afirmou que as vendas no varejo americano ainda mostram que a economia dos EUA está sólida e "em um bom momento". "Incertezas sobre as novas políticas não interromperam ainda o consumo e operações de empresas, apenas desaceleraram alguns setores da economia", comentou.

Daly acredita que o BC norte-americano não precisa ter pressa em ajustar a política monetária e pode ter paciência para analisar os impactos do ambiente incerto sobre a economia, para descobrir se de fato será um grande peso para o crescimento econômico e nas expectativas de inflação no longo prazo.

Segundo ela, as taxas de juros continuam em uma "boa posição" restritiva para controlar e baixar a inflação americana.

A dirigente esclareceu ainda que quando pensa na postura chamada de dependente de dados pelo BC norte-americano, considera todas as informações disponíveis, incluindo a opinião de empresas sobre o status da economia.

Daly reconheceu que houve um aumento nas expectativas de inflação de curto prazo, como demonstrado recentemente por pesquisas do Fed de Nova York e da Universidade de Michigan, mas atribuiu as mudanças à sensibilidade de consumidores aos preços de energia e alimentos. "Expectativas seguem ancoradas no médio e no longo prazo", pontuou.

Os comentários aconteceram durante painel de discussão na Universidade de Berkeley. Daly não vota nas decisões do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, em inglês) neste ano.

Momento para os cortes

A presidente do Federal Reserve de São Francisco admitiu que podem ser realizados mais cortes nos juros norte-americanos que o previsto atualmente, se houver deterioração do mercado de trabalho ou queda acentuada da inflação nos EUA. Em seu último gráfico de pontos, divulgado em março, o Fed previa uma média de duas reduções de 25 pontos-base (pb) neste ano.

Contudo, este não é o cenário base de Daly. "Economia dos EUA está caminhando para onde gostaríamos, mas o riscos de alta para a inflação estão crescendo", alertou. "Minha reação dependerá do progresso que vamos ter na inflação."

A dirigente reiterou que o apropriado será um processo gradual de redução dos juros a partir do final deste ano, para evitar apertar demais a economia, caso a inflação continue próxima de 2% e a economia em bom desempenho. "Só temos uma promessa, que é garantir a estabilidade de preços", lembrou. "Ter uma política monetária restritiva agora para controlar a inflação não significa que será assim para sempre."

Daly reforçou que o escopo, a magnitude e o timing do reequilíbrio do comércio global provocado pelas tarifas do governo Trump e seus eventuais impactos terão papel importante nesta decisão.

Tarifas

A presidente do Federal Reserve de São Francisco apontou que a volatilidade dos mercados financeiros globais era esperada e acontece de maneira "ordenada", refletindo apenas uma tentativa dos investidores de "se adaptarem e digerirem todas as mudanças recentes" nas políticas dos EUA.

"Estamos vendo uma ampla renegociação do comércio ao redor do mundo, que poderá mudar fluxos e a forma como as pessoas investem", disse ela, no painel de discussão na Universidade de Berkeley. "Quando soubermos onde as novas políticas vão parar, será mais fácil calcular o impacto. Não é possível fazer isso com incerteza."

Além das políticas comerciais, Daly comentou sobre as outras medidas que estão sendo colocadas em execução pelo governo Trump. No caso da imigração, a dirigente apontou que não houve impacto imediato no mercado de trabalho. "Taxas de desemprego, salários e taxas de contratação não mudaram. Já as taxas de participação e de produtividade aumentaram, o que é positivo", destacou.

Política fiscal

Sobre a política fiscal, Daly lembrou que este campo está completamente separado da política monetária do BC norte-americano. "O que posso dizer é que o impacto de mudanças em dinâmicas fiscais dependerá da capacidade da economia dos EUA de absorvê-las", afirmou, acrescentando que o Fed ainda trabalha para conter a inflação elevada e o mercado de trabalho apertado do país.

A dirigente observou que tem recebido comentários com expectativas positivas para o pacote de cortes de impostos, desregulação e redução do déficit fiscal prometido pelo presidente Donald Trump, sob a esperança de que as medidas possam impulsionar o crescimento econômico americano. "Só existem algumas incertezas e questões sobre quando a desregulação acontecerá e qual será seu escopo", apontou.

Balanço patrimonial do Fed

Sobre o balanço patrimonial do Fed, Daly disse que ainda há espaço para reduzir as reservas até que atinjam seu "nível amplo". A dirigente pontuou que o BC americano "olha para o longo prazo", e não para a volatilidade de curto prazo, ao gerenciar suas ferramentas de política monetária.

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