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'Alertas': a queda do petróleo atinge Vaca Muerta e entrada de dólares na Argentina

Por Sputinik Brasil 09/04/2025
'Alertas': a queda do petróleo atinge Vaca Muerta e entrada de dólares na Argentina
Foto: CC BY 4.0 / /

A queda do preço internacional ameaça investimentos no principal campo de hidrocarbonetos do país e coloca em risco a projeção de divisas essenciais para a estratégia econômica do governo de Milei, de acordo com especialista ouvido pela Sputnik.

O sinal veio dos mercados internacionais, mas o tremor foi sentido com força no sul da Argentina. O preço do petróleo caiu mais de 14% em apenas cinco dias e acionou alarmes no coração energético do país: Vaca Muerta, localizado na província de Neuquén, no norte da Patagônia argentina.

A formação não convencional, que nos últimos anos se tornou uma aposta estratégica para a entrada de dólares e o desenvolvimento das exportações, agora enfrenta um cenário incerto.

O setor energético foi o principal motor do superávit comercial em 2024, com saldo positivo superior a US$ 5,6 bilhões (R$ 33 bilhões), o mais alto desde 2006. Mas esse desempenho recorde agora está em risco. Com o colapso dos preços —deixando o barril abaixo de US$ 70 (R$ 420), a contribuição da energia para a balança externa pode murchar.

Segundo uma análise da Portfolio Personal Inversiones, se o preço do brent —a referência para a Argentina— se estabilizar em torno US$ 64 por barril (R$ 380), o país poderá perder cerca de US$ 1,1 bilhões (R$ 6,6 bilhões) em exportações de petróleo durante o ano em curso. A queda simultânea da soja, que é o principal cultivo do país, agrava ainda mais o cenário.

Mas a questão vai além do fluxo de exportações. O colapso do petróleo também pressiona a rentabilidade das empresas que operam em Vaca Muerta e pode esfriar novos investimentos.

O impacto do cataclismo financeiro global também afeta uma das questões mais sensíveis enfrentadas pela Administração do presidente Javier Milei: a negociação em andamento com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para um novo crédito de cerca de US$ 20 bilhões (R$ 120 bilhões), com desembolso inicial significativo para fortalecer as reservas do Banco Central.

A diminuição na receita das exportações energéticas poderia complicar as metas que Washington costuma impor em relação à acumulação de divisas nos cofres públicos.

Cautela sem alarmismo

"Agora há sinais de alerta porque, se o preço ficar abaixo de 45 dólares por barril, Vaca Muerta deixaria de ser rentável e isso comprometeria em grande parte a expectativa colocada sobre o desenvolvimento do setor", indicou o economista e ex-subsecretário de Energia Elétrica da Nação, Paulo Farina, em entrevista à Sputnik.

No entanto, o especialista foi cauteloso quanto a esta fase.

"Não há necessidade de acionar alarmes, mas isso atinge fortemente o projeto hidrocarboneto argentino. Há muita incerteza porque não está claro qual é a direção que [Donald] Trump está seguindo e até onde isso vai. É muito cedo para tomar decisões. Os valores não são para entrar em pânico", afirmou.

De acordo com o especialista, a ameaça de fundo pode levar a uma "brutal" recessão mundial.

Retirar os EUA deixaria de fora o comprador de última instância, derrubando o preço das commodities, o que atingiria diretamente a Argentina, que depende em grande medida de seus recursos naturais", destacou.

Segundo Farina, os abalos financeiros globais não significam que a sobrevivência do setor de hidrocarbonetos argentino esteja em jogo.

"Vaca Muerta está em um caminho ascendente há vários anos e isso não vai acabar por uma mudança repentina. A Argentina ainda tem espaço para se consolidar como um jogador importante a nível mundial", apontou o economista.

O que está em questão, considerou o especialista, é "a margem de lucro e, portanto, de rentabilidade que atraia os investimentos como aconteceu até agora". Segundo o pesquisador, além dos preços internacionais, "é fundamental uma macroeconomia ordenada que mostre sinais de força".

"Vaca Muerta não vai salvar o país de nada, mas é uma chave importante para organizar a macroeconomia desordenada [...] a questão não é se o projeto desaparecerá, mas como a Argentina vai se ajustar ao novo cenário global", concluiu ele.