Aposentado por direito, ícone da música brasileira por mérito e gênio reconhecido internacionalmente, Hermeto Pascoal, de 88 anos, enfrenta uma situação absurda: está com sua aposentadoria por idade bloqueada pelo INSS, vítima de um sistema burocrático, desatento e desumano que ignora o Estatuto do Idoso e maltrata quem mais deveria proteger.

O bloqueio do benefício começou por um motivo já vergonhoso: a exigência de prova de vida presencial em Curitiba, cidade onde Hermeto não reside há mais de 10 anos. Após longo processo, essa pendência foi resolvida. Mas o alívio durou pouco. Agora, o benefício permanece suspenso sob a justificativa de “37 – Suspenso por não saque”, situação em que o sistema entende que, como o dinheiro não foi retirado, o pagamento deve ser estornado e interrompido — como se fosse um sinal de desinteresse ou falecimento.

A reativação exige nova solicitação, e Hermeto, ou quem o auxilia, já a fez. No entanto, até agora, nada foi resolvido. E não se trata apenas de um artista com carreira histórica sendo maltratado pelo Estado. É o retrato de um sistema perverso que trata idosos como números, e não como cidadãos.

Tudo depende de aplicativos e ligações intermináveis para centrais que raramente funcionam. Como espera-se que um idoso de 88 anos enfrente isso com naturalidade?

Casos semelhantes se acumulam: Fernanda Montenegro teve sua aposentadoria suspensa por ter sido considerada “morta” no sistema; Martinho da Vila também foi penalizado. Se isso acontece com nomes de projeção nacional, o que não ocorre com os milhares de anônimos que enfrentam a mesma via-crúcis e sequer têm voz para denunciar?

⚖️ A aposentadoria não é favor. É direito. E o Estatuto do Idoso, que garante atendimento prioritário e respeito no serviço público, parece ser letra morta diante da realidade cruel dos procedimentos do INSS.

Hermeto Pascoal, natural de Lagoa da Canoa, Alagoas, é um dos maiores nomes da música mundial. Multi-instrumentista, arranjador, compositor, improvisador, produtor, gênio autodidata que jamais deixou de criar, mesmo com idade avançada. Se nem a ele o Estado brasileiro garante o básico, o que esperar para o restante da população?

Este não é um pedido por privilégio. É um alerta urgente sobre como tratamos os idosos e os que dedicaram suas vidas à cultura e à história do país. O mínimo que se espera é a imediata reativação do benefício de Hermeto — e uma revisão profunda do sistema que hoje humilha quem mais precisa de dignidade.