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Sendo feito de gato e sapato

Dartagnan Zanela 21/02/2025
Sendo feito de gato e sapato
Dartagnan Zanela - Foto: Arquivo

Todo pacato cidadão, uma vez ou outra, acaba ficando meio apoquentado quando recebe as últimas notícias. Todo indivíduo que se sujeita a acompanhar caninamente o que é vinculado pela grande mídia, e pelas redes sociais, necessariamente irá se sentir, em alguma medida, sufocado e, tal sensação, acaba, por distração nossa, sendo vista como um sintoma de “profundidade”, só que não.

Quando cremos que estamos muito bem informados, a respeito de tudo, simplesmente porque mantemos os olhinhos, vidrados, junto as últimas “micagens noticiosas” que são apresentadas pelos telejornais e similares, é sinal de que a nossa compreensão do que seja essa tal de “profundidade” é, no mínimo, questionável.

Quando olhamos o presente midiatizado como sendo o centro de toda a realidade, sem nos darmos conta, terminamos por amputar qualquer possibilidade de análise da atualidade dentro de um quadro mais amplo, que apenas pode ser apresentado pela história com suas múltiplas referências, narrativas e interpretações.

Para combater essa superficialidade que invade a nossa consciência, o sociólogo Domenico De Masi sugere que todos nós deveríamos nos abster desse mau hábito que é o consumo conspícuo de noticiários. Segundo ele, se fizéssemos esse jejum midiático, em pouco tempo iríamos notar que tudo aquilo que nos era apresentado como sendo de suma importância, na verdade, nem mesmo relevância tinha.

Não apenas isso. Ao nos empenharmos nesse processo de reeducação informacional, gradativamente, iríamos perceber a enormidade de tempo que estávamos desperdiçando.

Aliás, essa é uma das grandes mentiras que nos é inoculada pelo vício em notícias e demais tranqueiras análogas. Entregamos boleiras de horas do nosso dia, todos os dias, para algo que, se fôssemos avaliar bem, acaba agregando muito pouco em nossa vida, para não dizer nada.

Profundidade exige dedicação, concentração, ponderação, entre outras coisas. Amplitude de espírito, por mínima que seja, não pode ser obtida por nós se nossa atenção vive sendo arrastada de um lado para outro, sendo feita de gato e sapato.

Necessitamos de um centro de orientação em nossa alma e este, não pode, nem deve, ser algo tão fugaz, nem tão frívolo, quanto o entretenimento barato que nos é apresentado como “informação” pela grande mídia, e como “conteúdo” pelas redes sociais.