Artigos
De beberouro à avenida

No início do Século XX o bairro de Bebedouro era o mais chique, o mais festeiro, o mais rico. As mansões, os bonitos palacetes das famílias tradicionais embelezando o bairro. Pena que hoje as minas da Braskem tenham afundado aquele bairro tão belo, patrimônio de nossa cidade. O maior crime urbano–ambiental do Brasil. Incalculável o prejuízo histórico, cultural.
No final da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), o prefeito de Maceió, Firmino Vasconcelos comemorou com uma festa popular o fim da guerra na então “Praia do Aterro”. Depois de bons goles de cachaça da boa, prometeu construir naquele local a Avenida da Paz.
Terminada a obra, a linda Avenida da Paz à beira-mar foi entregue à população em 1920. A nova Avenida desbancou o bairro de Bebedouro, a burguesia transferiu-se para a Avenida da Paz, construindo belas casas e mansões. Nessa época apareceu a moda do “banho salgado”, a mulherada moderna vestia maiô até o joelho e caía na água do mar. Maior sucesso, alguns achavam um escândalo. Vinham homens, velhos e meninos do interior apreciar as modernas senhoritas de maiô aparecendo a batata das pernas. Causava reboliço entre os marmanjos. Nessa época também foram aparecendo os primeiros libertinos libidinosos. Quando nos anos 30 foi inaugurada a sede do Clube Fênix, o maiô havia diminuído o tamanho, subindo até a metade das coxas, quanto mais diminuía o tamanho do maiô, mais aumentavam os discípulos de Onã na esplêndida praia da Avenida.
Nos anos 50 éramos jovens maloqueiros da praias. Nadávamos singrando a calmaria do mar. Pulávamos da cumeeira dos trapiches que se estendiam mar adentro, jogávamos futebol na areia dura, molhada. Pescávamos nas jangadas. Entretanto, o que nós meninos mais apreciávamos, o nosso esporte predileto, era ficarmos na areia olhando, que nem jacaré, as belas mulheres que se estendiam na areia para pegar um bronzeado.
O “voyeurismo” é próprio do homem; o olhar, o apreciar os encantos da mulher. Alguns não se controlam, e praticam o onanismo nas mais esdrúxulas situações. Apanhados em flagrante eram escrachados. Naquela época, meninos com cara de santinho, trafegávamos pelas rodas de conversas inocentes com as jovens descontraídas, só para apreciarmos o belo.
Gaguinho, o sorveteiro, era mestre, aproximava o carrinho de sorvete perto das jovens e deitava-se de bruços. Cavava uma cova, adaptada a sua mão, e ali dava estímulo para suas fantasias. Certa vez, um amigo percebeu o Gaguinho em posição de trincheira perto de sua belíssima irmã. Ele foi chegando por trás, devagar, de repente virou o Gaguinho que estava em vias da apoteose. Levaram-no para a Delegacia de Jaraguá. Ficou preso e sumiu por um tempo.
Nos anos 1960 apareceu o biquíni, Havia uma jovem carioca linda, moradora de um bangalô na Avenida da Paz, casada com um engenheiro. Toda manhã, como se fosse uma liturgia descia à praia, estendia uma toalha, enfiava o pau na areia e armava a sombrinha. Bem devagar, como se tivesse preguiça, tirava a blusa, aparecendo a parte superior do biquíni diminutamente cobrindo seus belos seios. Em seguida, como se fizesse um strip-tease, despia lentamente o short requebrando os quadris em movimentos harmoniosos, sensuais, até transpassá-lo por baixo dos pés. Finalmente levantava o short com o pé direito como se chutasse o vento. Ainda em pé, dobrava o short, a blusa, arrumava junto à sombrinha. Deitava lentamente, de bruços, deixando o sol da manhã acariciar suas pernas, seu dorso. O futebol parava para os jogadores se deliciarem com o ritual da musa dos cabelos de fogo.
Depois que a carioca começou a frequentar a praia de biquíni, o número de “turistas do interior” aumentou nos mares da Avenida.
Muita gente graúda entre eles. Certa vez fizemos uma votação para eleger o maior onanista da praia. Em terceiro lugar, o punho de bronze, foi para um atleta famoso, morador da Praça Rayol.
O segundo lugar, o punho de prata, ganhou o Kirk Douglas, um coroa, vestia um velho calção de banho, e passava o dia todo e todos os dias vadiando na praia.
E o primeiro lugar, o punho de ouro, fez-se justiça, foi para o dono de um restaurante conhecido na cidade. O ganhador era prático e profissional. Conta a lenda que todas as suas calças tinham os bolsos direitos furados.
Foi assim a revolução dos costumes na Avenida da Paz, a praia mais bonita da bendita cidade de Maceió.
Mais lidas
-
1FRACASSO
Bloco Tabaqueiros atrai pouco público e prefeitura tenta maquiar imagens em Palmeira dos Índios
-
2DE RIO LARGO À BRASÍLIA
Carlos Gonçalves surpreende e se alia a Renan Calheiros e Renan Filho, deixando GG para trás
-
3DENÚNCIA
Jornalista brasileira denuncia agressões e humilhações de editor em agência de notícias no Rio de Janeiro
-
4PALMEIRA EM TEMPO REAL
Vereadores ameaçam abrir investigação contra Luísa Duarte e Júlio Cezar tenta desesperadamente abafar escândalo
-
5MACEIÓ
Tragédia da Braskem: Nota Técnica revela novas áreas com risco de afundamento em Maceió