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A vida apertada do Dr. Bernardo
Bernardo nasceu num sítio em Coqueiro Seco, bela e bucólica cidade à beira da lagoa Manguaba. Menino ainda já tinha vocação para mulheres. Na juventude tornou-se conquistador, o rei das peniqueira (assim chamavam maldosamente as jovens e deliciosas empregadas domésticas na época do politicamente incorreto), daí seu apelido Nardinho das Peniqueiras. Conseguiu se formar em Direito, figura popular e bem humorada na capital e em sua cidade, repreendia quando algum amigo o chamava de Dr. Nardo das Peniqueiras. Corrigia com um apelo.
- Eu tenho um nome Dr. Bernardo Lima. Não desmoralize meu título de bacharel!
Casou-se cedo, engravidou uma prima, costumava dizer, “priminha não é irmãzinha”, terminou no altar com Salete, uma mimosa flor da cidade de Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul, hoje Marechal Deodoro. Bernardo arranjou uma casa no Conjunto Castello Branco, ele nunca se acostumou com a vida de casado, sua vida era de bar em bar pelas ruas da cidade, até que foi encontrando novos amores durante a vida.
Um deputado arranjou-lhe uma sinecura na Assembleia Legislativa, onde ele aparece algumas vezes na semana para bater papo, rever amigos, se gabava de ter arranjado 280 votos para o deputado em Coqueiro Seco. Um dia apareceu uma menina bonita, vinda do sertão, fora desvirginada por um outro deputado, comprou o silêncio com um emprego na Assembleia. Bernardo namorou a protegida, Marta, a rainha do sertão, como ele a apelidou. Numa bela tarde, Martinha lhe informou, estava grávida. O jeito foi assumir o filho. Marta ganhou uma casa da COHAB do deputado, onde vive até hoje vive, dividindo Bernardo com Salete. Ele tem o afeto, adora o filho. Na certidão do jovem consta filho de Bernardo Lima, entretanto, a maldade humana acha o menino a cara do deputado. Bernardo é homem moderno, não importa certas picuinhas, ama o menino, seu filho do coração. Salete e Marta não se frequentam, se aceitam como duas flores do mesmo talo. Os meninos, meios irmãos, se dão bem quando se encontram. As mulheres sabiam, não de falavam, mas não brigavam. Assim o tempo foi passado. Bernardo era bígamo assumido, com duas famílias para sustentar. Assessor para assuntos aleatórios (mulheres) do deputado.
Durante a última eleição, Bernardo foi o coordenador da campanha do deputado em Coqueiro Seco e municípios vizinhos. Acontece que uma jovem, Cristina, quase da idade de seus filhos, 17 aninhos, foi trabalhar no comitê, e encantou nosso Casanova. A moça bonita era sempre sorrisos para o chefe, mas quando chegava nos finalmentes ela escorregava feito um muçum ensaboado. Numa noite de lual à beira da lagoa, despedida da campanha eleitoral, Bernardo conseguiu uma noite memorável de amor dentro de uma canoa. Nove meses depois nasceu Lilian Lima, uma adorável criança.
Montou outra casa, a terceira, no conjunto Santa Cecília. Prover as três casas consome todo salário de funcionário e de advocacia, ele faz alguns trabalhos para uma empresa. Bernardo vive aperreado de dinheiro, contudo, não deixa da estar sempre com um sorriso nos lábios e um bom astral. Trígamo assumido, conseguiu uma boa convivência entre as famílias, as filhas de Salete ajudam Cristina, mãe da recém-nascida para que ela possa comparecer ao emprego, atendente de um médico amigo do deputado. As coisas iam bem, as três mulheres não complicavam muito a vida do marido repartido.
Por tudo isso, Bernardo resolveu fazer uma só festa no seu aniversário, reunindo, pela primeira vez, as três famílias na casa de Salete. O início do encontro foi formal, depois começaram a descontrair. Bernardo estava felicíssimo com o feito, as três famílias reunidas. Cerveja, cachaça e uísque entornando. Todas três mulheres empurravam direitinho um copo, como também o grande Bernardo. Até que certo momento, quando a cachaça subiu à cabeça, Salete perguntou ao marido;
-Está feliz meu amor? Juntando sua esposa e as duas raparigas?
Marta quando ouviu o desaforo, falou alto: -“Rapariga é a mãe!” A outra mais nova, Cristina, não esperou falar, foi puxando os cabelos de Salete e arrastando pelo chão, xingando de coroa sambada e que Bernardo gostava mesmo era dela, novinha e cheirosa. A briga generalizou-se entre as três. Uma dando tapa e puxão de cabelos nas outras. A briga durou quase uma hora, só acabou quando cansaram. Bernardo conseguiu afastá-las. Levou as outras duas famílias para suas casas. Nunca mais quis saber de juntar as mulheres. Família que bebe unida, nem sempre permanece unida.
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