Internacional
Tropas russas trouxeram estabilidade à República Centro-Africana que ONU não conseguiu, diz analista
Envolta em golpes de Estado e conflitos civis desde sua independência da França em 1960, a República Centro-Africana está passando por um período de recuperação de sua estabilidade após a chegada do Africa Corps, grupo militar russo que atua em alguns paí
Com uma história de exploração colonial pela França, a República Centro-Africana é um dos países da África com os piores índices de desenvolvimento humano.
Ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil apresentado pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, especialistas explicam a situação do país, tão estrategicamente posicionado entre os Congos, a África Ocidental e o chifre da África.
Entre 1960 e 1993, a República Centro-Africana (RCA) passou por uma série de lideranças autoritárias e golpes de Estado, com líderes como Jean-Bédel Bokassa e André Kolingba. Sua primeira eleição democrática, em 1993, infelizmente tampouco foi diferente. Assumindo o controle do país Ange-Félix Patassé foi acusado de perseguição a minorias étnicas e foi também deposto em um golpe levado a cabo pelo general François Bozizé.
Desde então, o país se encontra em uma guerra civil em que diferentes grupos lutam tanto pela tomada pelo poder, quanto pela defesa de seu território. Bozizé, por exemplo, foi deposto pelo Séléka, grupo rebelde muçulmano que instaurou seu líder, Michel Djotodia, como presidente e se dissolveu.
Em resposta a isso, milícias cristãs conhecidas como anti-balaka iniciaram a luta contra grupos formados por ex-guerrilheiros sélékas. Mas esses não são as únicas divisões na sociedade centro-africana.
"São mais de 80 grupos étnicos no país", disse ao programa o professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Alexandre dos Santos.
"Várias dessas milícias se unem e se afastam, combatem umas às outras e depois fazem alianças de ocasião, dependendo de qual é o objetivo político."
Durante todo esse tempo até a atualidade, na presidência de Faustin-Archange Touadéra, uma série de missões de paz por parte da União Africana, da França e das Nações Unidas foram expedidas para tentar trazer estabilidade ao país, mas nenhuma alcançou esse objetivo.
Quem hoje consegue trazer uma certa estabilidade ao país, diz Santos, é o Africa Corps, grupo militar russo que realiza o combate a movimentos extremistas na África.
Presente em outros países, como nos integrantes da Confederação da Aliança dos Estados do Sahel, essas forças tem substituído cada vez as tropas francesas na promoção de segurança contra o terrorismo no continente.
"Por causa do Africa Corps, a República Centro-Africana tem uma certa estabilidade, porque senão o governo não conseguiria se manter controlando partes importantes do país."
Por que a estabilidade de República Centro-Africana é tão importante?
Toda crise humanitária deve ser corrigida pela humanidade. Porém a que atinge a República Centro-Africana tem um componente geopolítico que a agrava ainda mais.
"É como se fosse uma Matrioska", comparou Marcelle Christine Bessa, doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. "As crises do país são engolfadas por outras cada vez maiores."
Localizada, como seu nome já diz, ao centro do continente africano, a RCA acaba influenciando e sendo influenciadas por problemas ao seu redor.
Há um grande temor que grupos jihadistas que atuam na África Ocidental, como a Al-Qaeda, o Estado Islâmico e o Boko Haram, expandam sua atuação para o centro do continente e influenciem os grupos muçulmanos da RCA.
"E que a ação deles suba para um outro nível de ação, para uma ação muito mais organizada, inclusive internacionalmente com outros grupos."
Outro exemplo, dado por Bessa, é a facilidade com que as fronteiras são atravessadas. Se por um lado isso permite a fuga de deslocados pelos conflitos entre os países, pelo outro também permite o refúgio de milícias e criminosos em outras fronteiras.
Foi o que Joseph Kony, criminoso de guerra que ficou famoso dem 2012 por um campanha publicitária de denúncia norte-americana, fez para escapar da Justiça. Atuante principalmente na Uganda, mas também no Congo e no Sudão, Kony e seu Exército, Lord's Resistance Army (LRA), muitas vezes se refugiam na RCA.
"Em termos gerais", diz Santos, "é essa grande encrenca, que o atual presidente da República Centro-Africana tem e todos os presidentes anteriores tiveram".
Por Sputinik Brasil
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