Brasil
Coordenador do BRICS no Brasil revela à Sputnik prioridades do país para Cúpula de 2025 (VÍDEOS)
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o embaixador Eduardo Saboia, sherpa do Brasil no BRICS, adiantou detalhes da presidência brasileira do agrupamento de países.
Neste ano, será realizada no Rio de Janeiro a 17ª Cúpula do BRICS, inaugurando um novo momento na história do grupo de países que lutam pela reforma dos instrumentos de governança global, como as Nações Unidas, o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio.
É a quarta vez que o Brasil assume a presidência do BRICS, mas a reunião deste ano traz novidades inéditas para o foro. É a primeira vez que os países-parceiros, categoria de afiliação criada na 16ª Cúpula, participam do encontro.
O BRICS hoje é composto por 11 membros plenos: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Irã e Indonésia; e outros nove na categoria de parceiros: Belarus, Bolívia, Indonésia, Cazaquistão, Tailândia, Cuba, Uganda, Malásia e Uzbequistão.
Com exclusividade à Spuntik Brasil, o sherpa do Brasil no BRICS, Eduardo Saboia, autoridade responsável pela coordenação entre os países neste ano, comentou detalhes dos preparativos para o encontro.
Fortalecer as relações Sul-Sul
Todo encontro anual dos países do BRICS gira em torno de um tema definido pelo país que ocupa a presidência. Neste ano, o Brasil definiu o alicerce das discussões a partir do mote "Fortalecendo a Cooperação do Sul Global por uma Governança mais Inclusiva e Sustentável".
Segundo Saboia, a escolha está ligada diretamente à história do grupo, que surge de maneira oficial após a crise financeira em 2008, quando foram chamados a participar de um grande esforço de soerguimento da economia mundial, participando dos pacotes de ajuda financeira.
"E nesse contexto surgiu a reivindicação desses países de terem maior voz na governança global", diz Saboia. "Hoje, você tem uma realidade internacional de peso econômico e demográfico, que não corresponde na estrutura da tomada de decisões."
O tema também reflete a atualidade das relações intra-BRICS. Hoje o principal parceiro brasileiro é a China. "Não é só comércio, não é só investimento", diz o embaixador. "É colaboração".
"Na presidência brasileira queremos discutir temas que podem trazer benefícios, e que já estão sendo discutidos, para as nossas populações, por exemplo, colaboração na área de saúde, ciência e tecnologia."
Esforços na área de Inteligência Artificial
O tema da Inteligência Artificial (IA) vem sendo discutido em diversos fóruns, desde os nacionais como o Senado brasileiro, como nas Nações Unidas, instrumento máximo do multilateralismo global.
Dessa forma, não é de se espantar que os países do BRICS realizem discussões sobre a regulamentação e o desenvolvimento em conjunto de suas capacidades dessa tecnologia disruptiva, diz Saboia.
Enquanto defensor do multilateralismo e sendo composto de países com economia emergentes, o BRICS defende uma governança da IA que leve me consideração o serviço da tecnologia ao combate as desigualdades e no reforço aos princípios da Carta das Nações Unidas.
Indonésia é membro estreante
A Indonésia é o mais recente país a integrar o rol de membros plenos do BRICS. Convidada a integrar o BRICS em sua rodada de expansões de 2023, durante a Cúpula de Joanesburgo, sua adesão foi formalizada na última segunda-feira (6).
A demora, explica o embaixador, ocorreu devido às eleições presidenciais de 2024 no país. Na época, o presidente Joko Widodo adiou a decisão de entrada no grupo para o próximo presidente, como modo da população poder expressar suas opiniões nas urnas.
Recém-eleito, Prabowo Subianto, prosseguiu com a entrada da Indonésia no BRICS, elevando o número total de integrantes, plenos ou parceiros, para 20.
Por sua vez, a América Latina é representada no foro pelo Brasil, membro original, e por Cuba e pela Bolívia, membros-parceiros. "São países que têm muito a aportar. Estamos muito felizes com essa participação", afirma Saboia.
"A heterogeneidade é a riqueza do BRICS. O fato de nós termos países onde há sistemas políticos e civilizações diferentes, mas que conseguem formar uma plataforma convergente em muitos assuntos, essa é a riqueza."
Cúpula do Rio verá novas adesões?
Perguntado pela reportagem se a 17ª Cúpula, realizada em julho no Rio de Janeiro, convidará novos países a se juntar ao bloco, o sherpa brasileiro afirmou que o foco do Brasil será incorporar todos os novos membros do BRICS, desde os membros plenos que entraram no ano passado aos países parceiros.
"Já é um desafio a incorporação de um país-membro, não se dá da noite para o dia", explica o embaixador, acrescentando que a participação efetiva das discussões no BRICS exige novas aprendizagens. "Além disso, teremos oito países parceiros."
"Isso também é algo que demanda um esforço considerável, fazer o contato com as suas burocracias, definir quais são as áreas de interesse, quais são as expectativas. Isso a gente fará durante a presidência brasileira."
Aproximar o BRICS da sociedade
A Cúpula do BRICS não é o único evento internacional do ano nos radares do mundo. Em novembro acontecerá em Belém (PA) a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30).
Focada nas questões ambientais, a COP30 possui grande sinergia com temas que serão tratados na Cúpula do Rio, como desenvolvimento sustentável, transição energética, uso de combustíveis fósseis e produção de alimentos.
Segundo o embaixador, o encontro dos países do BRICS antes da COP30 permitirá que os países se coordenem para expressar "uma manifestação da vontade coletiva do BRICS" em torno desses temas.
"Uma delas, talvez a principal, é a questão da arquitetura financeira para mitigação e adaptação. Essa é uma questão que eu acho que tem um grande potencial de colaboração entre os BRICS."
Os dois eventos, contudo, não devem ser os únicos do ano.
Dado o sucesso do G20 Social e, anteriormente, do Mercosul Social, o governo brasileiro está pensando em realizar o BRICS Social como maneira de aproximar a sociedade civil das discussões do grupo.
"Nós temos vários atores que lidam com esse aspecto do governo brasileiro. Nós estamos em contato e recebendo as orientações também do presidente da República nessa área."
Para o embaixador, a ocasião será muito proveitosa para mostrar como a presidência brasileira realiza o engajamento com a sociedade civil, e, mais importante, engajar todos os membros do BRICS.
Uma nova arquitetura financeira
Por fim, mas não menos importante, Eduardo Saboia contou a Sputnik Brasil o que a presidência brasileira do BRICS pretende levar à discussão no âmbito das reformas do sistema financeiro global.
Um dos principais projetos do agrupamento, a desdolarização de suas trocas comerciais é um tema extremamente sensível ao redor do mundo. O futuro presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou os países do BRICS com tarifas caso coloquem em prática algum projeto que vise desbancar o dólar como moeda hegemônica.
De acordo com o embaixador, a discussão está sendo "desenvolvida com muita responsabilidade e cuidado" pelos ministérios da Fazenda e pelos Bancos Centrais dos países.
"O que se discute não é só a questão do uso de moedas locais", revela Saboia. "O uso de moedas locais e a discussão sobre plataformas de pagamento são importantes sim."
"Mas o foco é reduzir custos de transação, estimular o comércio, estimular os fluxos de investimento entre os países do BRICS. Esse é o objetivo."
Nesse sentido, a presidência brasileira pretende dar seguimento a uma série de tópicos que a princípio parecem menores, mas formam a base para a aproximação entre as nações, como a colaboração entre as aduanas para melhorar o fluxo de produtos.
"Essa discussão prosseguirá na presidência brasileira, com base no que foi feito durante a presidência russa, que foi uma presidência importante nessa área, fez um bom trabalho."
Por Sputinik Brasil
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