Política

Prefeitos "deixam o cargo", mas continuam no Poder: oligarquias de fachada perpetuam controle político nos municípios de Alagoas

Redação 09/01/2025
Prefeitos 'deixam o cargo', mas continuam no Poder: oligarquias de fachada perpetuam controle político nos municípios de Alagoas



A perpetuação de oligarquias no comando de municípios brasileiros tem ganhado destaque com prefeitos que, mesmo após o término de seus mandatos, continuam exercendo forte influência nos bastidores das administrações. Em cidades como Rio Largo, Santana do Ipanema e Palmeira dos Índios, essa prática tem gerado questionamentos sobre a verdadeira transitoriedade do poder e os impactos no processo democrático.

Sucessores de fachada e influência exacerbada


Embora a legislação permita que parentes em até terceiro grau sucedam prefeitos reeleitos, o cenário prático revela o que muitos chamam de "sucessores de fachada". A prática consiste em eleger aliados ou familiares para o cargo, enquanto os ex-prefeitos seguem no controle, determinando decisões estratégicas, ocupando espaços públicos em eventos oficiais e utilizando a estrutura administrativa como extensão de seus mandatos.
Essa manobra, além de ser amplamente percebida pela população, é facilitada pelo uso da máquina pública. Portais de notícias municipais, redes sociais e até canais institucionais são utilizados para exaltar a figura dos antigos gestores, reforçando sua presença como lideranças políticas mesmo fora do cargo.

Impacto no processo democrático

Especialistas apontam que essa prática, embora legal, é um desvio ético que enfraquece o processo democrático. A concentração de poder em poucas famílias ou grupos políticos cria um ciclo de domínio que dificulta a alternância e perpetua as mesmas dinâmicas administrativas e políticas.
"O uso do poder econômico e da máquina administrativa desequilibra o jogo democrático. Quem está no poder acumula vantagens, tornando desleal a disputa com novas lideranças ou partidos de oposição", analisa um cientista político.
Além disso, a prática camufla a essência da legislação brasileira, que busca limitar o poder consecutivo, evitando que um único grupo permaneça no comando por tempo indeterminado. Na prática, o poder permanece centralizado, transformando o que deveria ser uma transição em uma continuidade disfarçada.

Oligarquias municipais e eleições futuras

O fenômeno também se reflete nas articulações para as próximas eleições estaduais e federais. Ex-prefeitos e prefeitos em exercício utilizam a popularidade conquistada nos mandatos e a estrutura administrativa para promover parentes e aliados como candidatos a deputados estaduais e federais. O uso de recursos públicos e a visibilidade institucional garantem uma vantagem significativa, dificultando a renovação política.
"A legislação, que já é ultrapassada, não consegue impedir a criação de verdadeiras oligarquias no comando dos municípios", critica um advogado eleitoral. A prática restringe a participação democrática e reduz o espaço para novas lideranças, consolidando o poder em poucas famílias.

Exemplos notórios de oligarquias em municípios de destaques no Estado

Em Palmeira dos Índios, Santana do Ipanema e Rio Largo, a presença ostensiva de ex-prefeitos nas gestões de seus sucessores tem gerado debates acalorados. Reuniões oficiais, decisões estratégicas e até mesmo comunicações institucionais continuam a contar com a influência direta de antigos gestores, que deveriam estar afastados do comando.
Enquanto a população assiste à perpetuação de dinastias políticas, o cenário reforça a necessidade de reformulação legislativa e de maior fiscalização para evitar que a alternância de poder se torne uma mera formalidade.

Desafios para a Democracia

A continuidade de oligarquias disfarçadas ameaça o equilíbrio democrático nos municípios brasileiros. Para muitos, a solução passa por uma revisão da legislação eleitoral e maior controle sobre o uso da máquina pública em campanhas e administrações. Até lá, a alternância de poder seguirá comprometida, restringindo o processo democrático às mãos de poucos grupos políticos.

De Rio Largo a Santana do Ipanema e Palmeira dos Índios, ex-prefeitos mantêm controle político e transformam promessas de renovação em continuidade disfarçada.
A perpetuação de oligarquias políticas segue marcando a gestão de municípios alagoanos, onde sucessores de fachada asseguram a continuidade do poder nas mãos de antigas lideranças. Em Rio Largo, Santana do Ipanema e Palmeira dos Índios, o fenômeno confirma o uso de estratégias para driblar a legislação e manter o domínio familiar sobre administrações locais.

Em RIo Largo, após 2 mandatos consecutivos Gilberto Gonçalves foi nomeado secretário da gestão do sobrinho Carlos eleito em outubro
Em RIo Largo, após 2 mandatos consecutivos Gilberto Gonçalves foi nomeado secretário da gestão do sobrinho Carlos eleito em outubro

Rio Largo: GG mantém o comando nos bastidores

Após cumprir dois mandatos consecutivos como prefeito de Rio Largo, Gilberto Gonçalves (GG) agora ocupa a Secretaria de Governo, nomeado por seu sobrinho e atual prefeito, Carlos Gonçalves. A nomeação simboliza a continuidade da influência de GG, que se torna o principal articulador político da gestão municipal, ostentando o título de “supersecretário”.

Durante a posse, GG enfatizou seu legado e reforçou a promessa de contribuir com a administração do sobrinho. O vínculo familiar e político entre os Gonçalves evidencia a perpetuação do controle sobre o município, numa prática que reforça as críticas sobre a centralização do poder.

Em Santana do Ipanema, marido da ex-prefeita Cristiana Bulhões continua secretário de infreaestrutura, a mais importante no município
Em Santana do Ipanema, marido da ex-prefeita Cristiana Bulhões continua secretário de infreaestrutura, a mais importante no município


Santana do Ipanema: oligarquia dos Bulhões em cena

Em Santana do Ipanema, o controle político da família Bulhões se mantém inabalável. A ex-prefeita Cristiana Bulhões passou o cargo para o sobrinho, João Eduardo Bulhões Melo, mantendo a dinastia familiar à frente da prefeitura sertaneja. A permanência de figuras estratégicas da gestão anterior, como o secretário de Infraestrutura Marcelo Melo Silva, reforça o domínio político do grupo. Essa continuidade fortalece o protagonismo do deputado federal Isnaldo Bulhões, figura central na articulação política da região. A prática evidencia como a troca de nomes na liderança executiva não resulta em mudanças reais, limitando a renovação política.

O ex-imperador de Palmeira senta na ponta da mesa e já indicou 9 dos 10 novos secretários; Ainda faltam 15. Todos eram de sua gestão
O ex-imperador de Palmeira senta na ponta da mesa e já indicou 9 dos 10 novos secretários; Ainda faltam 15. Todos eram de sua gestão

Palmeira dos Índios: a caneta ainda é do ex-imperador
Em Palmeira dos Índios, a influência do ex-prefeito Julio Cezar continua evidente na gestão da tia e atual prefeita, Luiza Duarte. Dos 10 secretários nomeados até agora, apenas um não fazia parte da gestão anterior, reforçando a percepção de que o controle político permanece nas mãos de Julio, apelidado de "imperador".

A promessa de renovação e autonomia da nova gestão enfrenta críticas crescentes, com analistas apontando que a prefeita compromete sua liderança ao manter práticas desgastadas e ao permitir a continuidade do status quo político.


Tio e sobrinho comandam dois municípios vizinhos: Cacimbinhas e Minador do Negrão
Tio e sobrinho comandam dois municípios vizinhos: Cacimbinhas e Minador do Negrão


Clã dos Wanderley: anexação de municípios

O ex-prefeito de Cacimbinhas e – ainda – presidente da Associação dos Municípios Alagoanos (AMA), Hugo Wanderley (MDB), foi bi-campeão no sertão alagoano. HW conseguiu eleger o primo e atual prefeito cacimbinhense, Vaval Wanderley (MDB), e, apesar de fazer seu sucessor, Wanderley (Hugo) aterrissou em Estrela de Alagoas.

Na terra em que derrotou a família Garrote, o ex-prefeito de Cacimbinhas tornou-se “prefeito” (não de direito, eleito pelos votos, mas de comando total) da cidade estrelense. Dizem que, apesar de eleger o tio, Roberto Wanderley (MDB), quem dá as cartas é o sobrinho. Hugo Wanderley, portanto, é uma espécie de super-hiper-secretário da nova gestão de Estrela de Alagoas em 2025.Afinal, os ex-prefeitos que, em sua maioria fizeram sucessores em 2024, se mantêm perto do cargo e do Poder para não perder o costume de serem chamados de eternos prefeitos. Será? Eis a política e retorno que ela oferece.

Não sendo diferente de outros municípios, a exemplo do ex-prefeito de Piaçabuçu, Djalma Beltrão (MDB), deixou o comando da cidade no final de dezembro e, em 01 de Janeiro, foi nomeado para assumir a Secretaria Municipal de Saúde. Beltrão elegeu o sucessor, o prefeito Rymes Lessa (MDB), mas se mantém perto da nova gestão municipal.Por fim,


A Democracia restrita ao controle familiar

O padrão repetido em diferentes municípios evidencia um problema estrutural: o poder político concentrado em famílias ou grupos, que driblam a legislação e dificultam a alternância de poder. A prática prejudica o sistema democrático, transformando administrações públicas em extensões de oligarquias regionais.
Além disso, a presença de ex-prefeitos em cargos estratégicos, como o de Gilberto Gonçalves em Rio Largo, e a manutenção de aliados em postos-chave, como em Santana do Ipanema e Palmeira dos Índios, revelam uma estratégia que beneficia antigos gestores e limita a participação de novas lideranças.


Desafios para o Futuro

A continuidade política familiar lança dúvidas sobre o futuro de gestões municipais em Alagoas. A prática de transformar o poder público em um feudo político enfraquece a democracia e reduz a confiança da população em mudanças reais. Para muitos analistas, é urgente a revisão de legislações e maior fiscalização para evitar que o poder permaneça concentrado nas mãos de poucos grupos políticos.
Enquanto isso, o cenário nas cidades reflete uma administração pública marcada pela repetição de velhas práticas, onde a renovação continua sendo uma promessa distante.