Internacional
Fim dos laços coloniais? Jamaica pode se livrar da coroa britânica neste ano e se tornar República
Apesar da independência em 1962, a Jamaica permanece uma monarquia constitucional em que o cargo de chefe de Estado é até hoje ocupado pelo Reino Unido. No fim do ano passado, o governo local finalmente aprovou o projeto de lei para tornar o país uma Repú
Laços coloniais que permanecem vivos na estrutura política ainda nos dias de hoje. Mesmo com a independência conquistada há menos de 65 anos, a Jamaica, um dos países mais pulsantes do Caribe, mantém o monarca britânico como chefe de Estado. Isso se dá através da figura do governador-geral, que é indicado pelo rei Charles III. Essa também é uma realidade de 15 países, a maioria ligada a esse passado colonialista. Porém, o número começou a diminuir em 2022, após quase três décadas.
Na época, Barbados decidiu destituir a monarquia britânica e se tornar uma República. Inclusive a cerimônia contou com a presença do rei. Agora, quem parece quer seguir os mesmos passos é a Jamaica, que no fim do ano passado viu o governo local aprovar o projeto de lei para que o processo seja iniciado. O professor de América Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF), Marco Antônio Serafim, explicou ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, que a situação no país caribenho é de uma "independência tutelada".
"Embora seja muito mais cerimonial, essa dependência limita bastante a autonomia do governo e das casas legislativas, além de incomodar, sobretudo, a vontade popular. A realização da soberania se vê muito amarrada pela existência desse entulho, esse penduricalho que é totalmente anacrônico e sobrevive desde 1962", analisa.
Para o especialista, essa estrutura se manteve em boa parte por conta das elites latifundiárias da Jamaica, apesar de refletirem uma parcela pequena da população. "A Jamaica foi colonizada inicialmente pelos espanhóis, e essa colonização é tomada à força pelos ingleses, que passam a dominar o Caribe de uma maneira bastante intensa. Com o tempo, vemos essas formas de controle colonial se atualizando, com a própria independência do país como uma espécie de atualização dele, muito mais do que a realização de uma autonomia popular através da via democrática. Então, essa vontade ficou represada", acrescenta.
E não dá para falar da Jamaica sem lembrar do movimento rastafari, que marca uma oposição ao imperialismo e à dominação inglesa, pontua o especialista.
"Isso tanto no plano cultural, quanto econômico e político [...]. Inclusive, um dos grandes expoentes do movimento é uma personalidade nacional marcante, que é o cantor e compositor Bob Marley."
Ano eleitoral pode agilizar destituição do monarca britânico
Com um sistema parlamentar bipartidário, a Jamaica vai às urnas neste ano tendo como um dos principais temas fazer do país uma República, com chefe de Estado próprio. O especialista acredita que há grande expectativa de concretização desse processo ainda neste ano. "Se o atual governo conseguir a reeleição, acredito que esse projeto de abolição da monarquia finalmente vai para frente. O que se percebe é que há uma vontade popular para isso", diz.
As pesquisas de opinião, segundo o professor da UFF, são provas desse movimento no país: a última, realizada em 2022, ano que também marcou o falecimento da rainha Elizabeth II, mostrou que quase 60% da população era favorável à total desvinculação ao Reino Unido. "Tanto a situação quanto a oposição acreditam em vias diferentes para a implementação desse republicanismo. Enquanto um quer recorrer ao Tribunal do Caribe para tutelar esse processo, a outra defende a ideia de se formar um tribunal local para empreender essa mudança".
Como está a Jamaica atualmente?
Terceira maior ilha do Caribe, a Jamaica conta com uma população de quase três milhões de habitantes e possui uma das maiores taxas de homicídios do mundo: Kingston, inclusive, já chegou a ser chamada de capital mundial do crime. Para o professor de relações internacionais da Universidade Veiga de Almeida, Alexandre Alvarenga, afirma que esses índices são reflexo da imensa desigualdade no país, gerada principalmente por conta do modelo neoliberal adotado há décadas.
"A Jamaica tem uma economia forte na região do Caribe, e até um IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] até elevado para um país em desenvolvimento, porém existem esses bolsões de pobreza, principalmente nas áreas urbanas, que também convivem com uma maior favelização. São problemas de países que adotaram esse modelo de desinvestimento e desestatização que acabaram, de certa forma, vendo alguns índices sociais caindo", declara.
Jamaica: país com a cara do Sul Global
Já no campo geopolítico, apesar de estar ligado ao Reino Unido, o especialista conta que a Jamaica tem uma agenda externa mais voltada para o Sul Global. Entre as principais entidades com laços na região, está a Comunidade do Caribe (Caricom).
"A Jamaica participa de diversas organizações internacionais, não só a Commonwealth [que surgiu ainda no Império Britânico e hoje funciona como um elo entre as ex-colônias]. Faz parte da ONU [Organização das Nações Unidas], do FMI [Fundo Monetário Internacional], mas tem uma agenda externa muito mais voltada para o Sul Global e busca de desenvolvimento", finaliza.
Por Sputinik Brasil
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