Internacional
Perda de competitividade? Argentinos preferem passar as férias no Brasil devido ao menor custo
Milhares de argentinos decidiram passar o verão nas praias brasileiras, aproveitando a desvalorização do real e o "atraso cambial" que a Argentina vive. Em entrevista à Sputnik, o economista José Vargas disse que o fenômeno mostra uma preocupante "perda d
A desvalorização do real brasileiro e um peso argentino "valorizado" parecem ser os fatores determinantes para que as praias brasileiras recebam um número recorde de turistas argentinos durante o verão nos primeiros meses de 2025. Em contrapartida, a tendência pode esvaziar as praias argentinas, ávidas por uma recuperação econômica que é vital para muitos pequenos comerciantes.
A chegada em massa de argentinos ao litoral do Brasil virou notícia recorrente na mídia argentina, que relata como passar férias em terras brasileiras se tornou, em muitos casos, até quatro vezes mais barato do que fazê-lo na costa atlântica, principal destino de praia do país.
'Situação complexa para o país'
O aumento de turistas argentinos no Brasil nos primeiros dias de 2025 pode intensificar ainda mais uma tendência que já é muito significativa. Segundo o Ministério do Turismo do Brasil, os argentinos lideram a lista de turistas que chegam ao país há anos e, entre janeiro e novembro de 2024, mais de 1,7 milhão de visitantes argentinos chegaram ao Brasil.
"A situação mudou. Até o ano passado, eram chilenos e brasileiros que faziam passeios de compras na Argentina, mas agora são os argentinos que fazem viagens de compras ou férias no exterior porque o mundo ficou extremamente barato", disse à Sputnik o economista José Vargas, chefe do da consultoria econômica Evaluecon.
O especialista destacou que a desvalorização do real, que perdeu 24% de seu valor em relação ao dólar ao longo de 2024, tornou o Brasil um destino mais atraente para os argentinos. "No final de 2023, o câmbio estava em R$ 4,30 por dólar e hoje estamos acima de R$ 6 por dólar. Como a Argentina tem um dólar barato, obviamente há uma fuga massiva de turistas para o Brasil", explicou.
Segundo Vargas, a desvalorização brasileira se intensificou com a vitória eleitoral de Donald Trump nos EUA e o consequente fortalecimento do dólar, que fez com que a maioria das moedas perdesse valor relativo. O economista ressaltou que isso não aconteceu na Argentina porque o governo Javier Milei aplica um esquema de crawling peg, ou seja, uma taxa de câmbio "totalmente regulada" acompanhada de um grampo cambial.
Esse regime cambial, conforme o analista, "fortaleceu o peso argentino" e tornou o país sul-americano "relativamente caro", tornando mais barato para muitos argentinos visitar países vizinhos do que passar férias dentro de suas fronteiras.
Assim, o economista alertou que, além da livre escolha dos argentinos para viajar no verão, a saída em massa de turistas para destinos no exterior se torna "uma situação complexa para o país" porque "inverte o equilíbrio turístico", ou seja, faz com que o número de turistas deixando o país em número maior do que entrando.
'Problema para o futuro'
Vargas estimou que esse fenômeno poderia ter repercussões nas reservas líquidas do Banco Central da República Argentina (BCRA), que "ainda estão negativas se as medirmos em termos líquidos". Por outro lado, isso mostra que a Argentina está passando por um "problema de competitividade" que torna mais caro produzir no país do que em países vizinhos, resultando em perda de vendas e oportunidades de investimento.
"Acredito que o governo argentino deveria se preocupar com a perda de competitividade que o país está vivendo e que pode piorar em janeiro, quando Trump assumir o poder e os EUA se tornarem ainda mais protecionistas e um mundo ainda mais selvagem e protecionista for criado", disse o analista, que acredita que "nas condições atuais, a Argentina não está em condições de competir em igualdade de condições com a maioria dos países do mundo".
A este respeito, o especialista destacou que "o dólar oficial está defasado em cerca de 30%" no mercado argentino, em consequência de que "o governo o utiliza como âncora anti-inflacionária", cujo objetivo é manter as taxas mensais da inflação próxima a 2% e "fortalecer sua posição política" diante das eleições legislativas de outubro de 2025.
No entanto, o economista considerou que, com essa prática, "a Argentina está comprando um problema para o futuro" ao perder competitividade.
Vargas também relativizou o fato de que o êxodo em massa de turistas para o Brasil deve ser considerado um sintoma de recuperação econômica, embora nos últimos meses os salários tenham "superado a inflação".
"A classe média teve vários anos em que conseguiu construir uma almofada de poupança em dólares graças a um dólar que era muito mais barato, entre 180 e 400 pesos, e hoje está a utilizar esses dólares, que certamente tinha debaixo do colchão ou num cofre, para aproveitar os benefícios que o resto do mundo lhe dá", observou o economista.
Para Vargas, o fato de a Argentina ter "três ou quatro meses de recuperação salarial não significa que o poder de compra tenha sido recuperado", já que os trabalhadores argentinos não conseguiram recuperar toda a perda salarial que sofreram em 2023.
Por Sputinik Brasil
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