Internacional
O que pode estar por trás da medida que quer dar parte do lucro do petróleo à população no Suriname?
O presidente do Suriname, Chan Santokhi, anunciou um programa para que os cidadãos do país recebam uma parte dos lucros do petróleo descoberto nas costas do país. Para analista, medida aparenta ser eleitoreira.
"Royaltes para todos", como foi denominado o programa anunciado por Santokhi, vai destinar aos surinameses cerca de US$ 700 (R$ 4,3 mil) anuais. O presidente está no final do seu mandato e, para Iuri Cavlak, professor de teoria da história na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a medida parece "questão de uma tática política, de fazer propaganda política com a exploração do petróleo".
O professor afirma que esta é a primeira vez que vê uma medida desse ponto, destinando para toda a população um valor direto dos lucros a serem ganhos pelo Estado. Geralmente há nos países, conforme relembra, programas de renda básica, como no Brasil há o Bolsa Família, por exemplo.
"Eu não conheço essa questão de agregar uma atividade econômica específica com o dinheiro que vai diretamente para o auxílio financeiro. Conheço essas questões de renda mínima", destaca em declarações ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil.
Ele reconhece, também, que a medida pode estar atrelada a evitar grandes revoltas e para manter o tecido social organizado. Afinal, o Suriname é um país que pode ser considerado pobre, segundo o especialista, e que só conseguiu sua independência dos Países Baixos em meados dos anos 1970.
Além disso, Cavlak avalia a medida do governo surinamês como um sinal deste tempo.
"Vai muito do espírito da nossa época, das coisas imediatas e do poder do dinheiro. Se eu falar assim, olha, eu vou pegar esse dinheiro, mas eu vou melhorar a escola, daqui a dez anos, a universidade, a escola, o trânsito vai estar melhor. Você quer isso ou você quer o dinheiro agora? Se você colocar nesse ponto de vista, as pessoas vão dizer 'Não, eu quero agora'", avalia.
A prospecção do petróleo no Suriname, conforme relembra o professor, já estava no radar desde os meados da década de 2010, mas o custo para a exploração ainda era muito alto. Como o recurso no território surinamês está no mar, há necessidade de alta tecnologia para explorá-lo sem causar danos ambientais.
Outro imbróglio que pode esbarrar no "royalte para todos" — e que, de certa forma, pode voltar o olhar para a medida tendo traços de feita para angariar votos — é que a empresa que ganhou o direito de explorar o petróleo do Suriname, a TotalEnergies, só começará suas atividades em 2028. Com Santokhi em fim de mandato, caso ele não seja eleito, o projeto pode minguar, segundo o analista.
"Pode ser que o quadrante lá que eles vão explorar tenha menos petróleo do que imaginaram, ou tenha a quantidade de petróleo, mas que esteja mais difícil, que esteja em uma profundidade maior", descreve como também sendo fatores que podem interferir na promessa.
Suriname: democracia com histórico problemático
Cavlak avalia que muitos governos regados essencialmente pelo dinheiro do petróleo costumam apresentar problemas em suas formas de governança, uma vez que o dinheiro injetado tende a deixar as autoridades mais poderosas.
O Suriname, por sua vez, tem em seu lastro histórico ocorrências que ligam autoridades a atividades ilícitas como o tráfico de drogas.
"Há uma rota do tráfico de drogas que passa por Colômbia, Suriname e vai até a Holanda, e da Holanda é distribuída para a União Europeia. Então, por exemplo, tem mandato da Interpol para o vice-presidente do Suriname, Ronnie [Brunswick], e o filho do antigo presidente, o Dési Bouterse, foi preso já por questão de movimento de tráfico de drogas", relembra.
No contexto de um país pobre e de economia dependente da exploração de garimpo, do cassino — ambos legalizados no Suriname —, além do dinheiro enviado das pessoas que estão fora, a solução imediata se sobrepõe, sobretudo no mundo capitalista.
"Se se distribui uma quantia X para a população é porque está ganhando o triplo ou o quádruplo, via de regra é assim, ainda mais em países pequenos, porque aí você tem uma democracia menos desenvolvida, os jornais mais controlados, fica difícil a sociedade pressionar os seus agentes políticos para uma transparência mais efetiva", avalia o especialista.
Por Sputinik Brasil
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