Internacional
Análise: postura da OTAN deixa mundo 'mais polarizado, mais tenso, mais sombrio, mais imprevisível'
Nesta terça-feira (3), durante coletiva de imprensa, Mark Rutte, secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), ressaltou que o bloco vai aumentar o apoio militar para a Ucrânia, mas desconversou sobre a filiação ucraniana à aliança
Perguntado se o convite à Ucrânia viria após a reunião dos ministros das Relações Exteriores da OTAN, que acontece nestes dias 3 e 4, na sede da organização, em Bruxelas, Rutte deu uma resposta genérica, afirmando que "os aliados concordam que o futuro da Ucrânia está na OTAN", mas para os próximos dois dias, o importante seria "garantir que a ajuda militar vá para a Ucrânia".
Rutte também foi incisivo em afirmações sobre a Ucrânia ter condições de força para seguir no campo de batalha e, a partir daí, tentar negociar acordos. Segundo o secretário-geral, o momento é de "mais ajuda militar e menos discussões sobre como poderia chegar a um acordo de paz".
Para José Renato Ferraz da Silveira, professor de relações internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Rutte, na coletiva de hoje, deu demonstrações do discurso que vem adotando desde que assumiu a chefia da OTAN: ajudar a Ucrânia como premissa para levar a Rússia à exaustão.
"Eles [OTAN] querem que a Ucrânia tenha condições defensivas, condições dissuasivas para poder se manter na guerra, manter o arrastamento do conflito e levar à uma exaustão da própria Rússia. Esse é, acredito, o cálculo de poder que o Rutte e os líderes da OTAN têm em relação a esse conflito", analisa.
Em relação à entrada da Ucrânia no bloco, o professor avalia que nem os principais líderes da OTAN querem isso no momento.
"Uma adesão plena da Ucrânia à OTAN levaria, de fato, ao engajamento militar cada vez mais ostensivo e mais incisivo dos próprios países da OTAN".
Durante a coletiva, o secretário-geral insistiu em insinuar apoio da China, do Irã e da Coreia do Norte às ações russas, declarando, assim, a necessidade de enviar mais apoio militar à Ucrânia e, ainda, que os países-membros do bloco aumentem o investimento para os próximos anos — em 2024, cada nação destinou à aliança 2% do seu Produto Interno Bruto (PIB).
Silveira recorda que esse ponto de tensão tem sido ressaltado por Rutte, que também tem se notabilizado pelo discurso de que "são cada vez maiores as ameaças híbridas, o que a gente pode dizer que seria a propaganda, interferência política, engano e, principalmente, como acabei de dizer, a sabotagem das infraestruturas". As acusações são, sobretudo, destinadas à Rússia e à China.
De acordo com o especialista, essa abordagem da aliança ocidental contribui para o aumento das tensões e da imprevisibilidade.
"Esse aumento dos investimentos da OTAN, a porcentagem que já é alta e poderia ficar ainda maior, levando também ao envolvimento de outros países, de fato desencadeia o mundo cada vez mais polarizado, mais tenso, mais sombrio, mais imprevisível."
Mais tarde, em nova aparição pública, Rutte apareceu ao lado de Andrei Sibiga, ministro das Relações Exteriores da Ucrânia. Homem de longa e profunda ligação com a OTAN, antes mesmo de assumir o ministério, Sibiga afirmou que a resistência ucraniana foi forjada com o apoio da OTAN. Rutte, por sua vez, voltou a falar da necessidade de mais apoio militar aos ucranianos.
A reunião dos ministros das Relações Exteriores da OTAN terá prosseguimento amanhã (4), também na sede da organização em Bruxelas.
Por Sputinik Brasil
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