Economia

Ibovespa tem perda de quase 1%, agora abaixo dos 127 mil pontos

21/11/2024
Ibovespa tem perda de quase 1%, agora abaixo dos 127 mil pontos
Foto: Reuters/Paulo Whitaker/Direitos Reservados Fonte: Agência Brasil

Após o feriado da quarta-feira, o Ibovespa operou no negativo desde a abertura e encerrou o dia no menor nível desde 6 de agosto, agora um pouco abaixo dos 127 mil pontos. Em porcentual, a perda de hoje foi também a maior desde 8 de novembro, quando havia cedido 1,43%. Hoje, recuou 0,99%, aos 126.922,11 pontos, entre mínima de 126.593,85 e máxima de 128.196,63 pontos, correspondente ao nível de abertura. O giro foi a R$ 22,1 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa acumula perda de 0,68%, e de 2,15% no mês, colocando o ajuste do ano a -5,41%.

O dia foi negativo para a maioria das ações de peso e liquidez, como as de grandes bancos (Itaú PN -1,73%, na mínima do dia no fechamento; Bradesco ON -0,74%, BB ON -2,28%), em piora conjunta do setor no ajuste final, que colocou o Ibovespa abaixo dos 127 mil. Petrobras, por sua vez, virou durante a tarde, mas subiu apenas 0,17% (ON) e 0,29% (PN), distante do desempenho do Brent e do WTI - o que contribuía para que o Ibovespa moderasse as perdas da sessão, do meio para o fim da tarde. Assim como Vale ON, a principal ação do índice, que chegou a ensaiar leve alta perto do encerramento, não sustentada no fechamento, em baixa de 0,10%.

Poucas - ou seja, 12 - dentre as 86 ações que compõem a carteira do índice conseguiram se desvencilhar do sentimento negativo na sessão, com destaque para Embraer (+3,32%), BRF (+3,28%) e Marfrig (+2,81%) - todas do segmento exportador, favorecido pelo fortalecimento do dólar -, além de Vamos (+5,14%). À clara exceção de Vamos, nomes correlacionados ao ciclo doméstico, como Lojas Renner (-5,31%), Cosan (-4,64%) e Hapvida (também -4,64%) estiveram entre os maiores perdedores do dia, ao lado de São Martinho (-3,72%) e Cogna (-3,65%).

Passadas as eleições municipais, no fim de outubro, e a reunião do G20, encerrada anteontem, os agentes de mercado seguem atentos à definição do pacote de cortes de gastos públicos, cujo anúncio pode ficar para a próxima semana. A expectativa para o montante e os detalhes do plano mantêm os ativos brasileiros na defensiva há semanas, com Bolsa em retração e avanço no dólar frente ao real e na curva de juros doméstica. Na máxima de hoje, a moeda americana foi negociada a R$ 5,83 - no fechamento, mostrava alta de 0,77%, a R$ 5,8115.

"A ausência de sinais concretos deixa o investidor em compasso de espera", diz Guilherme Jung, economista da Alta Vista Research. "O mercado segue na expectativa pelo pacote prometido pelo governo, com detalhes sendo aguardados após a reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ainda hoje possivelmente", acrescenta. "Enquanto isso, os juros futuros apresentam alta na ponta curta da curva, enquanto a média e longa fecham, refletindo a expectativa de que o pacote possa trazer alívio ao quadro fiscal de 2025 e 2026."

"O cenário global tem mostrado uma retomada de notícias relacionadas ao conflito entre Rússia e Ucrânia, com efeito para os preços de commodities como o ouro e o petróleo nos últimos dias", diz Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas. "E as mais recentes falas de autoridades monetárias do Federal Reserve têm indicado, também, maior cautela com relação ao afrouxamento monetário. Dados do mercado de trabalho e de inflação apoiam viés gradualista" para o ajuste de baixa nos juros americanos, acrescenta o economista. "Em ambiente de dólar forte, as economias emergentes tendem a desempenho menos favorável. Fatores globais trazem um ambiente mais negativo" para esse grupo de países, aponta Ashikawa.

No quadro geopolítico, desde a recente mudança na doutrina nuclear russa e a autorização dada pelos EUA a que a Ucrânia possa usar mísseis americanos de longo alcance em território russo, a guerra no leste europeu, que se aproxima do terceiro aniversário no fim de fevereiro, voltou a ganhar atenção dos investidores globais. Hoje, em novo desdobramento, a Ucrânia alegou que a Rússia teria utilizado um míssil balístico intercontinental - com características dos destinados a lançamentos de ogivas nucleares - em um ataque à cidade de Dnipro. Autoridades americanas negam a informação.

"O preço do Brent tem experimentado trajetória de alta desde a mudança na retórica de Putin presidente da Rússia, que adotou postura muito mais agressiva", diz Vito Agnelo, analista da CM Capital. "Há risco de agravamento da situação caso os ucranianos optem por utilizar os mísseis que possuem maior alcance", acrescenta o analista. Ele observa que prevalece, no momento, uma reação de "cautela", como se "a intensificação dos conflitos estivesse sendo incorporada de forma gradual nas expectativas". Nesse contexto, o ouro - o mais antigo entre os ativos de proteção - volta a subir, após duas semanas de queda significativa, diz Agnelo.

Em Nova York, o WTI para janeiro fechou hoje em alta de 1,96% (US$ 1,35), a US$ 70,10 o barril, enquanto o Brent para igual mês, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), em Londres, avançou 1,95% (US$ 1,42), a US$ 74,23 o barril.

O principal ponto de atenção dos investidores com relação ao mercado doméstico, no entanto, continua a ser o "imbróglio" em torno do pacote de cortes de despesas. "Há uma falta de urgência com relação a essa apresentação, com incerteza, ainda, sobre o ambiente fiscal para os próximos meses", diz Ashikawa. "Quanto mais tempo se adia a definição, mais tempo de incerteza sobre a sustentabilidade das regras fiscais para os próximos anos."

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