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Fogo de morro acima, água de morro abaixo, e mulher ...
O tapa de Fagundes foi tão forte que Regina caiu no chão. A discussão começou quando o marido chegou bêbado, cheirando a perfume barato de mulher. Ela não aguentava mais suas cachaçadas, chamou-o de cafajeste, raparigueiro e homem fraco. Sem argumento Fagundes bateu no rosto da esposa. Regina correu para o quarto, trancou-se. Ouviu os passos em direção à rua. Ele gritou pra ela ouvir.
-Vou beber, raparigar! Mulher merda!
Regina levantou-se, recompôs-se, olhou-se no espelho, a roncha no olho não estava tão visível. Para quê chorar? Tinha certeza, o casamento havia se acabado naquele momento. Mulher bonita, nova e desejada, os homens a olhavam com malícia, entretanto, nunca pensou em trair Fagundes, que há mais de um ano entregou-se ao álcool desenfreado. Eram onze horas da noite, telefonou para Lourdinha, sexta-feira dia de barzinho com amigos. Meia hora depois, Regina, linda, alegre e solta, chegou. Beberam, conversaram, Regina estava surpresa com ela mesma, em ter coragem de sair. Certo momento as duas cochicharam.
- Não acredito, disse Lourdinha. O que aconteceu?
- O fim de um casamento, apanhei na cara, não tem volta. Estou me sentindo bem, cresceu-me um sentimento de liberdade, vou tomar um porre. Não é de tristeza, é de liberdade, acabou-se Fagundes. Vou ficar bêbada, hoje vou dar, não sei a quem, mas vou. Minha avó dizia: “Água de morro abaixo, fogo de morro acima, e mulher quando quer dar, ninguém segura”.
Ficaram às gargalhadas.
Em certo momento entrou no bar um amigo de juventude. João Paulo havia se separado, ficou célebre sua festa de descasamento. Lourdinha o convidou a sentar. Ele notou a falta de aliança no dedo de Regina, perguntou por Fagundes. Ela discretamente sintetizou a saída de casa, estava solteira. Conversaram, beberam, dançaram, cantaram até mais tarde, pagaram a conta. Regina pediu carona a João Paulo.
O carro partiu rumo à casa de Regina, Quando ela percebeu a direção tomada, abriu-se para o amigo.
- Hoje não vou para casa, essa noite eu quero outra coisa, quero que você me leve a um motel, quero amar, quero lhe dar.
João Paulo parou o carro no acostamento, olhou para ela.
- Regina você é minha amiga. Jamais me aproveitarei de um momento emocional, você bêbada. Não estou lhe rejeitando, o que mais quero nesse momento é transar com você, fique certa. Mas, jamais farei alguma coisa que você possa se arrepender. Desculpe. Quando estiver com Fagundes, resolva suas questões. Seja forte.
Regina surpresa com a atitude do amigo calou-se, casmurra ficou até João Paulo deixá-la na porta. Ao entrar em casa Fagundes dormia de roupa na cama de casal. Ela dormiu outro quarto.
Era meio-dia quando o casal se encontrou na cozinha. Regina teve a última e curta conversa com o marido.
- Vou para o apartamento de minha mãe.
Pegou a mala, entrou no táxi. Era o fim de sete anos de casamento, sem choro, nem vela. Fagundes não disse uma palavra
Regina sofreu a dor da separação, ninguém acaba um casamento sem dor. Durante a semana trabalhou normalmente. A noite da separação ficou marcante. Regina nunca esqueceu, jamais pensou haver um homem tão gentil, cavalheiro, bom caráter. Ela dizia para si mesma, eu quero esse homem, é esse o homem de minha vida.
Três anos se passaram, Regina e João Paulo moram juntos na praia de Riacho Doce, Ela sempre lembra a história de sua avó: fogo de morro acima, água de morro abaixo... Naquele dia, só não deu porque João Paulo não quis
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