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Amor à matemática

Arnaldo Niskier 12/11/2024
Amor à matemática
Arnaldo Niskier - Foto: Arquivo

Quem conheceu o professor Bayard Demaria Boiteux, como foi o nosso caso, não pode deixar de reconhecer o seu profundo amor pela Matemática. Era com esse sentimento que ele lecionava Cálculo Vetorial e Geometria Analítica, na então Universidade do Distrito Federal (na altura dos anos 50). Suas aulas eram muito apreciadas pelos alunos dos cursos de Matemática, Física e Química.


Na época, comentava-se que tinha um exemplar quadro-negro. Sabia distribuir a matéria, com os seus naturais mistérios, na chamada lousa, de tal forma que as questões complicadas acabavam se tornando mais simples. Isso ajudava os seus alunos a compreender melhor (e mais rápido) o significado da ciência do raciocínio.


Além disso, o mestre era uma figura extremamente simpática. Não havia quem não o admirasse. Por isso mesmo, foi com surpresa e desagrado que os seus alunos souberam da sua cassação, depois do movimento de 64, por motivos políticos. Toda a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da qual ele era um expoente, se revoltou quando Bayard foi obrigado a deixar o magistério. O motivo foi puramente político. Ele era dirigente do Sindicato dos Professores.


Na época, eu estava completando o meu curso de Matemática. Numa determinada tarde, fui chamado à presença do diretor Ney Cidade Palmeiro, que já era desembargador, para uma conversa a sós. Passando a mão pelo meu ombro, o diretor fez o convite que mudou a minha vida: “Você não quer ser professor de Geometria Analítica, na vaga que pertenceu ao professor Bayard Boiteux?” Pensei na injustiça que autoridades federais haviam cometido contra o nosso querido professor, mas não tinha força para ir contra a realidade. Pensei duas vezes e aceitei o encargo, honrado pela oportunidade de seguir as lições de mestre Bayard. Foi o que tentei fazer durante alguns anos.


Mais tarde, na condição de Secretário de Estado de Educação do Rio de Janeiro, tive uma oportunidade única: poderia, com uma canetada, devolver a matrícula ao meu estimado professor, que também atuava na rede pública de ensino. Assinei, com muito gosto, a sua volta ao magistério oficial. Poderia ter protelado a decisão, mas não quis que isso acontecesse. Já bastava a interrupção havida, que, no íntimo, era de uma arbitrariedade absurda.