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O triste olhar da raposa

Há muitas formas de constatarmos a quantas anda a moralidade de uma sociedade, mas o grande teste, segundo Dietrich Bonhoeffer, seria a verificação do modo como as crianças são tratadas pela sociedade.
Sim, eu sei, todo mundo sabe, até raposas e timbus sabem, que não há uma viva alma em nossa triste nação que não declare ser profundamente preocupada com os rumos que estão sendo tomados pelo nosso sistema educacional, pois, como dizem, os infantes são o futuro do Brasil.
Em se falando de raposa, e de educação, veio a minha mente, sem pedir licença, a lembrança de uma passagem da obra de Saint-Exupéry, em que o pequeno príncipe encontrou-se com a raposa, e aprendeu com o bicho matreiro o que significa cativar.
Ora, aprendemos algo verdadeiramente quanto nos permitimos cativar por aquilo que está sendo ensinado, ao ponto de o integrar em nossa personalidade, em nosso modo de ser, mesmo que, com o passar do tempo, não mais nos lembremos como essa verdade passou a fazer morada em nós.
Para que isso ocorra, é preciso que, sem afobação, nos demoremos com aquilo que deverá ser apreendido e compreendido por nós. Não se aprende nada que valha a pena na afobação digital. Não se degusta uma obra literária da mesma forma que se ingere uma penca de postagens ou reels. E se essa diferença mastodôntica nos escapa é sinal de que algo significativo foi subtraído de nossa alma.
E se estamos de acordo com o que foi apresentado, podemos então voltar os nossos olhos para o ponto levantado por Bonhoeffer e nos perguntar: uma sociedade que considera aceitável colocar em uma sala de aula de 30 a 40 alunos seria uma sociedade que amorosamente se importa com as suas crianças? Realmente seria uma sociedade que se preocupa com o futuro da gurizada? Bem, até onde sei, amontoar crianças numa sala lotada não é uma medida apropriada para se cativar alguém, muito menos para se cultivar o amor pelo saber.
Na real, esse é um ambiente perfeito para se fomentar o desdém pelo conhecimento e para o uso de mecanismos de controle de dados que nada tem que ver com o ato de educar. Lembremos: o amor por estatísticas duvidosas não é e nunca será sinônimo de boa educação e, quem diz o contrário, provavelmente não sabe qual é a finalidade primeira da instrução, muito menos qual é a razão de ser da educação.
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