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A turista gaúcha
O Casal sessentão todo ano planejam e realizam uma viagem
internacional. Boa situação financeira, aproveitam a vida, ainda
ajudam seus dois filhos e netos. Esse ano resolveram conhecer a
Escandinávia, José Paulo e Tereza há três meses que estudam
pelo Google o roteiro, as cidades, costumes, histórias da
Dinamarca, Suécia e Finlândia. Seriam 21 dias organizados pela
agência de turismo. Faltavam poucos dias para viagem, Tereza
organizada, metódica, já havia arrumado as malas, checado
passagens, passaportes, voucheres.
José Paulo naquela tarde ensolarada passou no hotel para comprar
euros. Era pouco mais de duas da tarde quando a moça da loja de
câmbio vendeu-lhe 3.000 euros. Depois de conferir, colocou-os
cuidadosamente dentro de um envelope, dobrou-o e enfiou no bolso
da calça.
Na saída do hotel, uma jovem, aparência simplória, chegou-se perto
perguntando com sotaque sulista onde ficava o Mercado de
Artesanato. José Paulo, gentil, ofereceu-lhe uma carona, era seu
caminho. Atravessaram a rua, entraram no carro. A jovem
agradeceu a gentileza, ele percebeu o decote generoso da gaúcha,
o sangue ferveu na veia. Simpática, Vera Lúcia conversou bastante,
estava hospedada com duas amigas no hotel, vieram para o
Congresso de Enfermagem. Tinha adorado as praias, a cidade, o
povo hospitaleiro, ficaria até domingo, não sabia se havia tempo
para conhecer tantas praias bonitas.
Ao chegar na Feirinha de Artesanato da Pajuçara, José Paulo
freou o carro. A jovem olhou-o nos olhos, perguntou se gostaria de
dar uma volta, mostrar-lhe as praias, ainda era cedo. José Paulo,
encantado com a moça, aceitou a sugestão já com outra intensão.
Partiram para o Litoral Norte, conversando, sorrindo, em vez em
quando Vera Lúcia soltava uma piadinha provocativa, segurou de
leve a mão do coroa. José Paulo mostrou as praias, Jacarecica,
Guaxuma, Riacho Doce, Ipioca, ela fotografava tudo. Em Paripueira
sentaram numa barraca beira-mar, cervejinha gelada, conversa
descontraída. Certo momento Vera Lúcia segurou a cabeça do
coroa com as duas mãos, beijou-lhe a boca, ele perdeu a cabeça.
Pagou a conta do bar e partiu para região de motéis de Jacarecica.
Embaixo daquele simples vestido havia um corpo sensual, deixou
José Paulo louco. Aconteceu uma bela e voluptuosa tarde de amor,
inesperada. Ao entardecer ele deixou Vera Lúcia na Feirinha de
Artesanato, marcaram encontro, dia seguinte às 15 horas no hotel.
O sessentão partiu alegre lembrando os carinhos quentes da jovem,
loucura também é preciso, pensava.
Entrou em seu belo apartamento ao tirar a roupa para um banho e
vestir um pijama, sentiu a falta do envelope, colocou a mão no
bolso, percebeu que tinha sido roubado. Veio-lhe a imagem da
gaúcha com cara de menina tola. Desceu no elevador, dirigiu
ansiosamente até o hotel. Na portaria perguntou por Vera Lúcia,
uma hóspede, jovem, gaúcha, fazendo o Congresso de
Enfermagem. A atendente procurou no computador, não havia essa
hospede e nem sabia desse Congresso. José Paulo, fulo de raiva,
retornou ao apartamento.
Ao chegar, Tereza tomava banho, foi perguntando.
- "Comprou os euros, José Paulo?".
-"A loja de câmbio do hotel só abriria ás 3 horas, eu fui ao shopping
fazer hora, me demorei quando passei no hotel já havia fechado o
câmbio, amanhã eu compro, logo cedo."
- "Você não toma jeito, é a velhice chegando. Qualquer dia perde a
cabeça na rua!"
- "Perdi a cabeça, é verdade."
-"Na transa mais cara do mundo", disse para si mesmo.
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