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Frustrado com Irã e Hezbollah, líder do Hamas torce para que Israel mergulhe em ampla guerra regional

Frustrado, Yahya Sinwar está cada vez mais fatalista e bloqueou um acordo de cessar-fogo, dizem autoridades dos EUA

Agência O Globo - 06/10/2024
Frustrado com Irã e Hezbollah, líder do Hamas torce para que Israel mergulhe em ampla guerra regional
Frustrado com Irã e Hezbollah, líder do Hamas torce para que Israel mergulhe em ampla guerra regional - Foto: Reprodução

O , tornou-se fatalista após quase um ano de guerra em e está determinado a envolver em um conflito regional mais amplo, disseram autoridades dos EUA. Sinwar há muito acredita que não sobreviverá à guerra, uma convicção que dificulta as negociações para garantir a libertação de reféns capturados por seu grupo nos ataques de 7 de outubro em Israel, segundo avaliações de inteligência dos EUA.

Ameaça:

Análise:

Sua atitude se endureceu nas últimas semanas, dizem as autoridades americanas, e agora os negociadores americanos acreditam que o Hamas não tem intenção de chegar a um acordo com Israel.

O primeiro-ministro de Israel, , também rejeitou propostas nas negociações e acrescentou exigências que complicaram as conversas. Autoridades dos EUA avaliam que ele está preocupado principalmente com sua sobrevivência política e pode não considerar que um cessar-fogo em Gaza seja do seu interesse.

Irã

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Entenda:

O Hamas não mostrou nenhuma intenção de se envolver em negociações nas últimas semanas, segundo as autoridades americanas. Elas suspeitam que Sinwar tenha se resignado à medida que as forças israelenses o perseguem e falam sobre se aproximar dele.

Uma guerra maior, que colocaria pressão sobre Israel e seu exército, forçaria, na avaliação de Sinwar, a redução das operações em Gaza, disseram as autoridades dos EUA. A guerra na região se ampliou, mas não de maneira que beneficiaria significativamente o Hamas, pelo menos até agora.

Imediatamente após 7 de outubro passado

Na época, líderes do Hezbollah não queriam iniciar uma nova guerra com Israel, avaliaram autoridades dos EUA. D, o grupo não lançou um contra-ataque significativo contra Israel, muito menos abriu uma frente ofensiva. Autoridades israelenses e americanas dizem que Israel destruiu metade do arsenal da milícia e matou muitos de seus líderes.

Tropas israelenses entraram no Sul do nesta semana, após uma campanha de bombardeios e sabotagens de quase um mês, que incluiu um ataque que , o líder do Hezbollah.

O Irã, que apoia o Hezbollah e o Hamas, na terça-feira passada em resposta à morte de Nasrallah. Mas a maioria dos mísseis foi derrubada ou falhou em causar qualquer dano real.

O fracasso do Hezbollah ou do Irã em causar danos significativos a Israel, pelo menos até agora, é um sinal claro de um erro de cálculo de Sinwar, disseram autoridades americanas.

Isolado e escondido em Gaza, a comunicação de Sinwar com sua organização tornou-se tensa. Ele parou de usar dispositivos eletrônicos há muito tempo e mantém contato com sua organização por meio de uma rede de mensageiros humanos, de acordo com autoridades israelenses e americanas.

Gaza: maior número de mortos em meses

O ritmo das operações israelenses em Gaza diminuiu, à medida que os líderes israelenses deslocaram sua atenção para o norte. As forças israelenses estão agora em apenas algumas posições em Gaza, incluindo o que chamam de Corredor Filadélfia, entre o enclave e o Egito. Embora Israel não tenha lançado um grande ataque em áreas civis de Gaza há semanas, continua realizando ataques aéreos diários contra o Hamas.

Como resultado, o impacto sobre os civis em Gaza continua. Em um período de 24 horas, entre quarta e quinta-feira, o Exército israelense matou 99 palestinos, disseram autoridades locais de saúde, um dos maiores números de mortos em meses.

As conversas para intermediar um cessar-fogo em Gaza e a libertação dos reféns israelenses foram interrompidas. Netanyahu adicionou exigências e retomou algumas que haviam sido abandonadas anteriormente, frustrando negociadores internacionais. E Sinwar tornou-se muito mais inflexível, dizem autoridades americanas.

Seus atos e motivações há muito são foco da comunidade de inteligência americana. Mas, após o 7 de outubro, as agências de espionagem intensificaram seu trabalho em relação ao líder do Hamas, formando uma célula de combate para estudá-lo e caçá-lo.

Durante meses, as agências de inteligência avaliaram que Sinwar tem uma atitude fatalista e se importa mais em infligir dor aos israelenses do que em ajudar os palestinos. A percepção de que sua atitude está se endurecendo vem de autoridades que estudam suas posições de negociação e relatórios confidenciais.

A posição de Sinwar endureceu após Israel assassinar Ismail Haniyeh, o líder político do Hamas, que estava baseado no Catar e era um dos principais negociadores. Haniyeh era um negociador mais conciliador e estava interessado em fazer um acordo, e as autoridades americanas dizem que ele estava disposto a se opor às demandas mais extremas de Sinwar.

Possível esconderijo em Rafah

A decisão de Israel de matar um dos principais líderes do Hamas, que estava negociando um cessar-fogo, enfureceu o grupo e Sinwar, segundo autoridades americanas. Alguns oficiais israelenses questionaram se Sinwar ainda está vivo. Autoridades dos EUA e de Israel reconhecem que não há provas definitivas de vida. Não há gravações de áudio ou vídeo dele há meses.

Em 13 de setembro, o Hezbollah divulgou uma carta que Sinwar enviou em apoio a Nasrallah. Alguns oficiais do Hamas sugeriram que ela foi escrita fora de Gaza por outra pessoa, com a aprovação de Sinwar. Ela não foi escrita à mão, ao contrário de outras comunicações que foram verificadas como diretamente vindas dele.

Mas as autoridades americanas disseram que não tinham evidências de que ele estava morto e, na verdade, funcionários dos EUA disseram que acreditavam que ele estava vivo e tomando decisões críticas para o Hamas.

Sinwar continua escondido, mas parece reconhecer que as forças israelenses estão se aproximando dele. Eles chegaram perto de sua posição em agosto, com o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, dizendo que suas forças haviam descoberto sinais de que o líder do Hamas passou um tempo no emaranhado de túneis sob Rafah, no sul de Gaza.

“Quando entramos nos túneis sob Rafah, onde reféns foram assassinados, encontramos sinais da presença anterior de Sinwar em Tel Sultan”, disse Gallant recentemente a repórteres, referindo-se a seis reféns que se acredita terem sido mortos num bairro de Gaza, perto de Rafah.

Embora a estratégia de Sinwar ainda não esteja funcionando, ela pode acabar dando certo.

As forças israelenses estão lutando contra o Hezbollah em seu território natal, no Sul do Líbano. Embora o governo israelense esteja prometendo uma incursão limitada no Líbano, até agora as operações militares têm sido em grande escala.

A luta já se mostrou difícil: pelo menos nove soldados foram mortos nos primeiros dias de combate corpo a corpo. Se a luta intensa continuar e o Irã for envolvido, Sinwar pode conseguir seu desejo de uma guerra multifrontal que alivie a pressão sobre o Hamas.

Irã e Israel podem continuar trocando ataques de mísseis balísticos. Se uma arma causar grandes danos, um conflito maior pode eclodir.

Autoridades americanas aguardam para ver se o conflito entre Irã e Israel se intensifica ainda mais. Eles não acreditam que o Irã queira uma guerra em grande escala com Israel ou intervir diretamente para ajudar o Hamas. Mas também apoiam publicamente um ataque israelense planejado contra o Irã em retaliação ao ataque de mísseis balísticos desta semana.

“O Irã vai guardar rancor pela morte de Nasrallah”, disse Scott D. Berrier, tenente-general aposentado e ex-chefe da Agência de Inteligência de Defesa dos EUA. “Mas suas opções são limitadas. Não vejo o Irã enfrentando Israel diretamente tão cedo.”

Um funcionário dos EUA disse que as ações do Irã nos últimos meses enviaram uma mensagem clara a Sinwar: “A cavalaria não virá.”