Internacional

Líder supremo do Irã diz que aliados 'não retrocederão' diante de Israel, que segue com ataques e incursão no Líbano

Estado judeu anunciou que 250 combatentes do Hezbollah foram mortos desde o início da operação terrestre, na segunda-feira

Agência O Globo - 04/10/2024
Líder supremo do Irã diz que aliados 'não retrocederão' diante de Israel, que segue com ataques e incursão no Líbano
Líder supremo do Irã diz que aliados 'não retrocederão' diante de Israel, que segue com ataques e incursão no Líbano - Foto: Reprodução

O líder supremo do Irã defendeu nesta sexta-feira, em um sermão incomum, o ataque com mísseis de seu país contra Israel e prometeu que seus aliados no Oriente Médio seguirão lutando. Esse discurso, pronunciado em árabe e não em persa — o idioma mais falado no Irã — é o primeiro do aiatolá Ali Khamenei desde que a República Islâmica lançou o segundo ataque de sua história contra Israel. Também é o primeiro desde que a violência transfronteiriça entre o movimento islamista Hezbollah e o Exército israelense levou a uma guerra no Líbano.

No Líbano, o Exército israelense realizou um bombardeio contra a região de Masnaa, no leste, provocando a interrupção da principal rodovia que liga o país à Síria. Israel acusa o Hezbollah de usar essa rodovia para enviar armas a partir da Síria. Cerca de 310 mil pessoas fugiram nos últimos dias do Líbano para a Síria por Masnaa. Os militares afirmam que 250 combatentes do Hezbollah morreram no país e que atingiram "mais de 200 alvos militares" desde o início da incursão, na segunda-feira.

Quase um ano depois do ataque terrorista do Hamas contra o sul de Israel em 7 de outubro, que desencadeou o conflito em Gaza, Israel anunciou que o "centro de gravidade" se deslocou para o norte, na fronteira libanesa. Para Khamenei, cujo país não reconhece o Estado de Israel, o ataque do Hamas foi "um ato internacional lógico e legítimo, e os palestinos tinham razão".

— A resistência na região não retrocederá ante esses martírios e vencerá — acrescentou, em referência aos assassinatos de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah morto em 27 de setembro em um bombardeio israelense perto de Beirute, e de Ismail Haniyeh, chefe do Hamas, em um ataque atribuído a Israel em 31 de julho em Teerã.

Israel "não consegue prejudicar seriamente" o Hezbollah e o Hamas, afirmou, destacando que a luta do Hezbollah é "vital para toda a região". Para além de Teerã, multidões de manifestantes se reuniram na Jordânia e no Bahrein, em um sinal de apoio ao Hamas e Hezbollah, apoiados pelo Irã.

'Esta guerra será longa'

Na terça-feira, o Irã lançou 200 mísseis contra o território israelense, afirmando que se tratava de um resposta pela morte de Nasrallah e Haniyeh. Uma fonte próxima ao Hezbollah indicou que Nasrallah foi enterrado "provisoriamente" em um local secreto por temor que seus funerais sejam alvo de outro ataque de Israel. O ataque iraniano motivou trocas de ameaças entre Israel e Irã.

Em meio aos ataques no Líbano, o chanceler iraniano, Abbas Araqchi, chegou nesta sexta-feira a Beirute e prometeu que Teerã está "firmemente ao lado dos amigos libaneses". O ministro também enfatizou que Teerã apoia "os esforços" para um cessar-fogo simultâneo com Israel no Líbano e em Gaza e que o Irã também estava "em contato com outros países" para isso.

Durante a noite, intensos bombardeios israelenses tiveram como alvo os subúrbios do sul de Beirute, reduto do Hezbollah. Três hospitais, um deles nessa área, suspenderam seus serviços por causa dos ataques. Segundo o site americano Axios, que cita altos funcionários israelenses, Hashem Safieddine, possível sucessor de Nasrallah à frente do Hezbollah, era o alvo desses bombardeios. O Exército israelense não confirmou a informação.

Fatima Salah, uma enfermeira de 35 anos, disse que as pessoas em Beirute estão "assustadas" por seus filhos.

— Esta guerra vai ser longa — lamentou.

O Comitê Islâmico da Saúde, afiliado ao Hezbollah, assinalou que 11 de seus socorristas morreram na sexta-feira em bombardeios israelenses no sul do país.

Combates no sul do Líbano

No dia seguinte ao início da guerra entre Israel e Hamas em Gaza, o Hezbollah abriu uma frente contra Israel em apoio a seu aliado palestino. Após trocar disparos na fronteira diariamente durante quase um ano, Israel intensificou seus bombardeios no Líbano desde 23 de setembro e, na segunda-feira, iniciou uma ofensiva terrestre no sul do país, onde nove de seus soldados morreram em combates contra o Hezbollah.

Dois outros militares foram mortos em um ataque com um drone procedente do Iraque, que atingiu uma base nas Colinas de Golã, área ocupada por Israel, reportou a rádio militar israelense nesta sexta-feira.

Nesta sexta-feira, o movimento xiita libanês afirmou ter disparado obuses contra militares israelenses na região libanesa fronteiriça de Marun al-Ras. O Exército israelense afirmou que seguiria infligindo "duros golpes" ao Hezbollah para permitir o retorno de 60 mil residentes do norte deslocados pelos constantes disparos de foguetes do movimento libanês contra o norte de Israel.

Segundo um balanço da AFP baseado em números oficiais, quase 2 mil pessoas morreram no Líbano desde outubro de 2023, entre elas pelo menos 1.110 desde 23 de setembro. O governo libanês calcula que cerca de 1,2 milhão de pessoas foram deslocadas.

Já o ataque do Hamas contra Israel de 7 de outubro deixou 1.205 mortos em Israel, em sua maioria civis, segundo uma contagem baseada em números oficiais israelenses. A ofensiva de represália israelense em Gaza causou a morte de pelo menos 41.802 pessoas, também civis em sua maioria, segundo números do Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas, que a ONU considera confiáveis.