Política

Denúncias revelam que uso indevido de fundo partidário no PT de Alagoas não é recente

Empresa do dirigente Gino César recebeu do fundo partidário em 2022

Redação com Cinara Corrêa 03/10/2024
Denúncias revelam que uso indevido de fundo partidário no PT de Alagoas não é recente
Empresa de Gino César recebeu mais de 126 mil do Fundo Partidário em 2022 - Foto: Reprodução

As recentes polêmicas envolvendo o uso de recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) pelo Partido dos Trabalhadores (PT) em Alagoas trazem à tona uma prática que, segundo documentos obtidos pela Tribuna do Sertão, não é inédita no diretório estadual. Após o escândalo publicado em primeira mão por este jornal, envolvendo dirigentes como Ricardo Barbosa, novos dados revelam que a destinação de verbas partidárias para empresas ligadas a membros do partido já ocorria desde as eleições de 2022.

Documentos aos quais a Tribuna do Sertão teve acesso mostram que a empresa CLS Comércio, Locações e Serviços Ltda., pertencente a Gino César, atual secretário de Meio Ambiente do Estado de Alagoas, recebeu em 2022 a quantia de R$ 126.900,00 oriunda do fundo partidário. Gino César é sócio-administrador da empresa, conforme consulta realizada por nossa equipe.


Na mesma época, o escritório de advocacia do filho de Ricardo Barbosa, presidente estadual do PT, recebeu R$ 10 mil. A Sistêmica Assessoria Contábil, ligada a amigos do deputado federal Paulão, também foi beneficiada com recursos do partido. Além disso, a empresa de consultoria do então tesoureiro do PT recebeu R$ 15 mil do fundo partidário em 2022.

Novas Revelações em 2024


Avançando para as eleições de 2024, o PT de Alagoas se vê novamente no centro de uma controvérsia sobre a distribuição dos recursos do FEFC. O diretório estadual recebeu um total de R$ 2.311.267,00 da primeira parcela do fundo. No entanto, quase metade desse montante foi direcionada para empresas e indivíduos próximos à cúpula do partido.

Um dos repasses mais significativos, no valor de R$ 399.000,00, foi destinado ao escritório de advocacia do filho de Ricardo Barbosa. A Sistêmica Assessoria Contábil, de propriedade de Quitério Matias da Silva—amigo de Adelmo dos Santos, compadre do presidente Lula, e assessor do deputado Paulão—recebeu R$ 439.000,00.

Ricardo Barbosa, presidente do PT Alagoas; quase R$400 mil par ao escritório do filho
Ricardo Barbosa, presidente do PT Alagoas; quase R$400 mil par ao escritório do filho


Outros valores chamativos incluem R$ 50 mil repassados à NBB, ligada a Mário Bispo Barros, atual tesoureiro do PT, e R$ 50 mil para a Gráfica Mascarenhas, associada também a Gino César. Essas destinações levantam suspeitas sobre o uso dos recursos eleitorais, uma vez que quase metade do fundo foi para empresas e pessoas ligadas ao alto escalão do partido.

Reações e Desdobramentos


A distribuição interna de recursos públicos sem a devida transparência tem gerado questionamentos sobre a real intenção de fortalecer as campanhas eleitorais dos candidatos locais. Para muitos, a situação indica um possível desvio de finalidade, privilegiando interesses pessoais em detrimento do coletivo partidário.

A assessoria do PT em Alagoas, ao ser procurada pela reportagem, limitou-se a informar que "a questão foi tratada com transparência e a prestação de contas é feita diretamente à Justiça Eleitoral. Além disso, não há o que ser acrescentado".

O escândalo culminou com a saída de militantes históricos do partido. O advogado e professor Welton Roberto, que por anos atuou no PT, anunciou sua desfiliação na manhã desta quarta-feira (25) por meio das redes sociais.

Declarações de Welton Roberto


Welton Roberto explicou que sua decisão foi motivada por discordâncias com práticas internas que considera inaceitáveis. "Me incomodou saber que o PT recebeu uma verba de R$ 2 milhões nessas eleições municipais e, praticamente, metade desses valores foi parar no escritório de advocacia do filho do presidente estadual do partido, e a outra metade foi para um escritório de contabilidade também ligado aos dirigentes partidários", declarou.

Ele também mencionou que cerca de 20 advogados que trabalharam na campanha de 2022 não receberam seus honorários e foram esquecidos nas eleições de 2024, apesar do partido ter recebido uma quantia substancial do fundo eleitoral. "Práticas com as quais não concordo. Não estou aqui julgando se são éticas ou antiéticas, morais ou não, mas não concordo com elas. Continuarei na advocacia e no magistério, trabalhando por uma sociedade menos desigual", afirmou.

No período pré-eleitoral, Welton Roberto ganhou destaque no cenário político estadual ao ser cotado como possível candidato a vice-prefeito na chapa de Rafael Brito, evidenciando sua influência e compromisso com a política local.


Histórico de Denúncias


A Tribuna do Sertão tem acompanhado de perto as movimentações financeiras do PT em Alagoas. Em reportagens anteriores em nosso portal, destacamos como recursos do fundo partidário têm sido direcionados de forma questionável. As novas informações reforçam a necessidade de uma investigação aprofundada sobre o uso desses recursos públicos.

A destinação de verbas para empresas ligadas a dirigentes partidários pode configurar irregularidades graves. A sociedade alagoana merece respostas claras e ações concretas para garantir que os recursos destinados ao fortalecimento da democracia não sejam usados para benefício próprio.


Próximos Passos e Expectativas


Diante das denúncias, espera-se que órgãos competentes, como o Ministério Público Eleitoral e a Justiça Eleitoral, apurem os fatos com rigor. Transparência e integridade são pilares fundamentais para a confiança nas instituições políticas.

A saída de figuras importantes do partido, como Welton Roberto, sinaliza um descontentamento interno que pode refletir nas urnas. A sociedade civil e os militantes de base aguardam posicionamentos mais firmes da liderança partidária em relação às acusações.

As revelações sobre o uso do fundo partidário pelo PT em Alagoas apontam para uma prática que, se comprovada, compromete a ética e a legalidade esperadas de um partido com a história e a representatividade do PT. É essencial que haja transparência e responsabilidade na gestão dos recursos públicos, garantindo que eles sejam utilizados para fortalecer a democracia e atender aos interesses da população.

A Tribuna do Sertão tentou falar com dois assessores do PT, mas eles não retornaram as chamadas, nem responderam as mensagens em whatsapp. A TS continuará acompanhando o desenrolar dos acontecimentos, comprometida com a verdade e com o dever de informar seus leitores sobre questões de interesse público.