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Exploração do corpo
Recordo quando, em minha juventude, a liberdade de comportamento da turma jovem era restrita, pois para abordar garotas, era necessário quase um comício, com frases ensaiadas, hoje, as coisas mudaram, basta sentir vontade e está formado o casal, mesmo por pouco tempo, talvez o necessário para que se chore sem sentir dor.
Naquela época, propagandas eram apresentadas em cartazes colados às paredes, postes e árvores das avenidas. O motel mais conhecido era o do filme Psicose, que deu fama a Norman Bates, de modo que, “quando a coisa rolava”, era lá por detrás de uma moita, no banco dos carros ou encostado a um pé de coqueiro.
Aos poucos as coisas foram mudando. Surgiram os outdoors com mocinhas exuberantes e homens depilados, tentando vender sapatos, roupas e até sonhos. Outro dia, uma destas revistas masculinas de maior sucesso no país, trazia na capa belezoca feminina raiz, mostrando quase tudo. Impressionei-me ao ver que na parte frontal de seu corpo, a “floresta amazônica” de outrora (que guardava tesouro trancado a seis chaves e meia), fora substituída pelo bigodinho de Hitler ou uma (somente uma) das sobrancelhas de Zé Bonitinho, cobrindo meia banda da genitália.
Mas é no embalo de vender sorrisos em ano eleitoral, que políticos ganham espaço na mídia divulgando suas imagens através da TV, rádio, internet, e até faixas, cartazes e panfletos de variadas espécies e tamanhos. Ultimamente, enquanto martirizado pelos eternos engarrafamentos que enlouquecem o trânsito de nossa Maceió, tenho ofertado especial atenção às imagens que somos obrigados a olhar.
Naquelas plotagens fixadas em veículos, alguns parecem possuir mais dentes que uma boca normal pode conter; em outras, nas brechas de um sorriso tênue, podem ser vistas placas de tártaro, certamente ensejando mau hálito que até Deus duvida, denunciando que, nem para escovar dentes o cidadão da foto cumpre com os compromissos básicos que deveria assumir...Sem falar nas aftas, gengivas murchas ou cáries explicitas.
Na verdade, chego a imaginar vivermos em uma época onde as pessoas pensam ser o corpo uma fonte de lucro a qualquer custo: quer para vender serviços e produtos ou até para conquistar votos nem que seja atirando cadeira em adversários.
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