Fã de Silvio Santos desde criança, Rodrigo Faro tinha 9 anos quando conseguiu entrar de penetra no teatro onde era gravado o “Qual é a música?”, em São Paulo, e viu o comunicador de longe por alguns instantes. Já a primeira vez cara a cara com o ídolo só aconteceu anos depois, quando o artista, já contratado na Record, onde está até hoje, ganhou o Troféu Imprensa de melhor apresentador em 2009. A partir dali, os dois iniciaram uma relação de confiança. Em 2014, Faro subiu ao palco com o dono do SBT para apresentar a categoria de Melhor Apresentador na premiação.

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— Eu passei a voltar todos os anos e ficava um tempão com ele no ar. Era uma loucura! Já levei um relógio para presenteá-lo. Numa outra ocasião, levei o collant que usei para imitar Lady Gaga no meu programa. Teve uma outra vez em que ensinei o Silvio a mandar nudes para a mulher. Em outro ano, tirei da minha cueca um vidro do meu perfume, que é da Jequiti (marca de cosméticos lançada por Silvio Santos), mas ele não quis o presente — relembra Faro, rindo.

A relação íntima da dupla ajudou o artista a encarar um dos maiores desafios de sua carreira, ao interpretar o Dono do Baú no filme “Silvio”, que estreia nesta quinta-feira (12) nos cinemas. Com direção de Marcelo Antunez, a produção começou a ser idealizada em 2018 e foi filmada em 2022. Antes de aceitar o trabalho, Faro procurou Silvio Santos para ter sua aprovação.

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— Achava praticamente impossível interpretar o Silvio quando recebi o convite. Começamos nesse projeto em 2018. Para mim, esse filme é como o nascimento de um filho. Antes de filmar, fui falar com ele, que me recebeu no camarim, diferentemente das outras vezes em que a gente se encontrava no palco. Silvio quis saber sobre o roteiro e perguntou como a gente iria contar a história. A partir daí, foram 30 minutos em que fiquei vendo ele me contar as passagens importantes de sua vida que estão no filme, sério, com um tom de voz baixo — recorda Faro.

Sem caricatura

O longa foi pensado como uma homenagem em vida para o apresentador, que morreu no último dia 17, aos 93 anos, em decorrência de uma broncopneumonia após ser diagnosticado com H1N1. Diante da fatalidade, a produção acabou ganhando um novo significado:

— Esse filme está carregado de sentimentos e emoção. Quando fui pedir a bênção do Silvio para fazer esse trabalho, não era isso que tinha em mente agora no lançamento. Mas, de qualquer forma, ele merecia essa homenagem.

O artista, que fez parte do elenco de novelas da Globo como “O cravo e a rosa” (2000), “Chocolate com pimenta” (2003) e “Cabocla” (2004), voltou a atuar depois de 15 anos dedicados à carreira de apresentador. Apesar de ter incorporado o conhecido gestual, o timbre de voz e a famosa risada de Silvio no longa, Faro conta que evitou fazer uma simples imitação do empresário e comunicador:

— Todo mundo sabe imitá-lo, mas eu não quis fazer uma caricatura. Não se trata de um programa de humor. A história do filme se passa durante as sete horas em que ele ficou refém de um sequestro em sua própria casa (no início dos anos 2000). O que vamos ver é um Silvio com medo, acuado, inseguro. Através da sua lábia e do seu poder de persuasão, ele consegue contornar a situação e evitar o que seria uma tragédia, negociando com o próprio governador de São Paulo o desfecho da situação.

“Silvio” recorda o momento em que o sequestrador Fernando Dutra Pinto (vivido pelo ator Johnnas Oliva no longa) invade a casa do apresentador, em 29 de agosto de 2001, e o mantém refém por longas sete horas. Ele só o libertou na presença do então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, hoje vice-presidente da República. Dias antes, na mesma residência da família, no Morumbi, em São Paulo, seis homens (entre eles, Fernando Dutra) renderam e levaram Patricia Abravanel, a filha “número 4” do Dono do Baú, interpretada pela atriz Polliana Aleixo no filme. Depois de sete dias de muita tensão, a então universitária foi libertada na madrugada de 28 de agosto de 2001. De acordo com informações da época, a família pagou um resgate de 500 mil reais.

Apesar de o sequestro de Silvio ser o fio condutor da história, o longa mostra outras passagens da vida do empresário e comunicador, como se fossem memórias que ele revisitou durante as horas de terror. As cenas de flashbacks abordam, por exemplo, as relações com Chico Anysio (1931-2012), interpretado por Lucas Veloso; Manuel de Nóbrega (1913-1976), pai de Carlos Alberto de Nóbrega e criador do programa “A praça é nossa”, vivido no filme por Duda Mamberti; e Cidinha, personagem de Marjorie Gerardi, primeira mulher do apresentador, que morreu em 1977 e é a mãe de Cintia e Silvia, as filhas mais velhas dele.

— Nas cenas de flashback, temos o Silvio no palco falando “vai pra lá, vai pra lá” e “quem quer dinheiro?”, mas, na maior parte do tempo, veremos um outro lado dele — adianta Rodrigo Faro.

O protagonista do filme aponta que a história tem dois momentos cruciais para ele.

— O primeiro é quando Silvio diz para o Fernando que ele não pode morrer porque tem coisas importantes ainda para resolver. O segundo é quando ele pede que o sequestrador deixe sua família fora daquela situação. Ele foi um super-herói de carne e osso — afirma o apresentador do dominical “Hora do Faro”, programa que estreou em 2014 e segue no ar na Record, onde o artista está desde 2008: — Silvio Santos para mim sempre foi uma referência. Até mesmo quando eu estava na Globo fazendo novelas, já falava da importância do Silvio para mim.

Após ter rodado o filme em homenagem a Silvio, Faro diz que seu lado ator voltou a ficar mais aflorado e não descarta novos trabalhos do tipo.

— Isso me abriu uma brecha e passei a receber convites para atuar em séries no streaming. Tudo o que me desafia eu vou querer fazer. Esse filme me instigou muito, voltou a mexer com o meu lado de ator — conta ele, que, no entanto, pondera: — O foco da minha carreira é o que me consolidou com o público: meu trabalho como apresentador. O domingo é o dia mais competitivo na TV. A pressão é grande, fico muitas horas no ar. Se você não se reinventar, fica difícil, complicado. Temos que entender que a TV aberta hoje não está sozinha e disputa atenção com o streaming, com as redes sociais...

Mais tempo em família

Perto de fazer 51 anos, em 20 de outubro, Faro diz que sentiu uma virada de chave quando completou cinco décadas de vida, em 2023:

— Olhando para trás, vi que construí muita coisa. Agora eu quero aproveitar mais a vida, ver as minhas filhas crescerem. Não vou deixar de trabalhar, mas quero descansar um pouco. Viver!

Pai de Clara, de 19 anos, Maria, de 16, e Helena, de 11, Faro é casado desde 2003 com a ex-modelo Vera Viel, com quem está desde 1997. Nas redes, os dois mostram sintonia em vídeos que gravam satirizando situações cotidianas do casal.

— Estamos juntos há quase 30 anos. E é legal mostrar esse lado nas redes. A Vera não é muito desse universo, tem que ter um convencimento. Mas depois que vê o resultado, ela fica feliz. Esse conteúdo que faço com ela é o que mais engaja — conta Faro, afirmando que não faz tipo na web: — Mostro a bagunça da casa... Não acho que tenho que ter limite. Gosto de compartilhar minha vida. É real. Eu me divirto! Para mim, a rede social serve para aproximar ainda mais a gente das pessoas.

Esse mesmo Faro que se mostra sem filtro nas redes diz ter uma relação de igual para igual com suas três filhas.

— Esse negócio de ser um pai repressor e ciumento é uma grande bobagem. O pai careta ficou no passado. Você não pode olhar de cima pra baixo para os filhos. A minha relação com elas é olho no olho. Maria, minha filha do meio, está namorando. E o menino é legal pra caramba! — confidencia ele, que recentemente se esbaldou na pista de dança da festa de debutante de Rafaella Justus, herdeira de Roberto Justus e Ticiane Pinheiro, no último dia 30: — Eu e minhas filhas fizemos passinhos da Carreta Furacão. A gente não saiu da pista!

Nas redes, além de compartilhar momentos descontraídos em família, Faro mostra sua disciplina quando se trata de exercícios físicos. E grava vídeos para dar dicas sobre persistência e foco.

— Meus cuidados foram ficando mais presentes com a idade. Senti necessidade de me cuidar mais, de olhar mais para a saúde, para o corpo — diz ele, negando ser vaidoso em excesso: — Na verdade, quero envelhecer bem. Eu ainda me sinto jovem, eu treino como jovem (risos). O meu joelho ainda não dói. Consigo fazer 250 flexões de braço. Mas quero me olhar no espelho e me ver envelhecendo.