Foi Fernanda Montenegro quem deu o aval para Fabio Assunção incorporar de vez o mal que compõe o macho tóxico Elias, seu personagem em “Motel destino”, filme de Karim Aïnouz, em cartaz nos cinemas. “Seja sacana!”, disse ela em troca de áudio que o encorajou a acessar, sem medo, toda a agressividade e violência de que dispõe para construir o ex-policial sudestino e abusivo, que desponta como um de seus papeis mais interessantes.

Em entrevista à jornalista Maria Fortuna no videocast do GLOBO " Conversa Vai, Conversa Vem", o ator revelou que troca áudios com Fernandona:

— Começamos a conversar quando eu fiz o "Fim" (série de Fernanda Torres). Ela viu e me ligou pra dizer que estava fantástico. Passamos a trocar áudios. Num deles, expliquei os desafios que estava tendo sobre atuação, sobre o quanto de energia eu botava naquilo. E ela disse: "É uma reparação histórica, assuma isso, tenha coragem, seja sacana, isso precisa ser exposto e você está num ambiente protegido, o da arte". Ela me trouxe coisas maravilhosas que me fizeram mergulhar na personagem sem receio de o quanto aquilo era inadequado ou pesado para mim pessoalmente.

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Importante para o processo também foi a clausura numa casa de costas para o paradisíaco mar de Beberibe, Ceará, onde o longa foi rodado. Se a equipe aproveitava qualquer folga para curtir a praia, ele não deu um mergulho sequer. Socializar? Nem pensar. A busca pelo confinamento que se assemelhava à realidade do explosivo trio de protagonistas que vive no tal motel ganhou força com a leitura do livro “Prisões, conventos e manicômios” (Erving Goffman).

Já o corpaço que Fabio exibe na tela foi moldado com jejum interrompido apenas pelos cinco ovos que ingeria a cada manhã.

— Fiz jejum mesmo. Só comia de manhã. No começo, até pensei no personagem com uma barriga. Mas depois achei melhor secar e ficar com o corpo "mirrado".

O motel que serviu de locação para o longa, hoje, capitaliza oferecendo "uma experiência pelo real cenário do filme". Lá em Beberibe, só se fala na "suíte Fabio Assunção".

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O ator lembra algumas situações curiosas dos bastidores:

— A primeira vez que fui no mercado foi um evento, uma muvuca. Depois, virei da casa. Me perguntaram: "Cara, você tá fazendo filme pornô?". E eu: "Tô" (risos). A primeira reunião que tive com a escola da minha filha (Alana, de três anos) por zoom, e estava num quarto do motel. Tinha um pôster de um casal, um monte de espelho. Falei: "Olha, queria dizer que estou no motel, mas estou trabalhando, tá?". Estava vendo a hora que a diretora diria: "Sua filha não será admitida" (risos).