Política

'Jogo Político': Marçal leva Janones a se mobilizar por Boulos e prometer 'ir para a lama junto'

Newsletter semanal do jornalista Thiago Prado também traz bate-papo com Datena e indicação de livro de Martha Medeiros

Agência O Globo - 27/08/2024
'Jogo Político': Marçal leva Janones a se mobilizar por Boulos e prometer 'ir para a lama junto'
'Jogo Político': Marçal leva Janones a se mobilizar por Boulos e prometer 'ir para a lama junto' - Foto: Instagram - @pablomarcal1

Bom dia, boa tarde, boa noite, a depender da hora em que você abriu esse e-mail. Sou o editor de Política e Brasil do GLOBO e nessa newsletter você encontra análises, bastidores e conteúdos relevantes do noticiário político no Brasil.

Qual o papel de CQC e Pânico na popularização de Jair Bolsonaro (PL) antes da sua eleição? Qual o papel da imprensa brasileira ao dar títulos e espaço para tudo o que diz Pablo Marçal (PRTB), o fenômeno da eleição de São Paulo, que explodiu na pesquisa Datafolha da semana passada?

O tema é instigante e você, leitor, pode ter certeza de que estamos constantemente debatendo a nossa cobertura em O GLOBO. Sugiro assistir a duas entrevistas passadas sobre a complexidade de cobrir Bolsonaro antes de ele virar presidente.

Em conversa com Pedro Bial, em 2020, Monica Iozzi fez uma autocrítica do CQC, programa que integrou por cinco anos: "A gente não pode se eximir dessa culpa e, sim, eu me arrependo muito de ter falado com Bolsonaro tantas vezes". Em entrevista ao "El País" no mesmo ano, Marcelo Tas, líder do grupo, rebateu: "Eu saí do CQC em 2014, e o Bolsonaro foi eleito em 2018. É surreal alguém achar que nós contribuímos, e não os 60 milhões de brasileiros que votaram”.

Eu sou da corrente que acha que devemos, sim, falar de Pablo Marçal, o tema que monopolizou até agora a eleição de 2024.

Fui procurar o especialista em internet a que o PT recorreu em 2022 para combater o bolsonarismo nas redes sociais, arena em que a direita segue deitando e rolando contra a esquerda. Ontem, as redes sociais estavam em polvorosa resgatando um vídeo dele com Marçal naquele ano.

A seguir, André Janones e sua inacreditável sinceridade sobre como acha que o candidato do PRTB deve ser enfrentado em São Paulo.

É verdade que o senhor vai se engajar na campanha de Boulos da mesma forma que fez em 2022 contra Jair Bolsonaro?

Eu não me dou esse tamanho todo, seria presunçoso, parece que entro e resolvo. Marçal é um candidato que já está no segundo turno e, na minha opinião, é preciso tomar cuidado para ele não ganhar no primeiro. Dito isso, estou disposto a ir para São Paulo e descer ao mesmo nível que ele.

Que nível é esse?

É ir para a lama junto. Se ele diz que fulano cheira pó, tem que dizer que a mãe dele é uma p..., que ele é veado... Sei usar as armas dele.

Não nesse nível, mas, nas suas redes sociais, os adversários começaram a vincular ele ao PCC, devido às ligações dos integrantes do PRTB com o grupo...

Ele já criou algumas vacinas para o vínculo com o PCC e a condenação por participar de uma quadrilha que cometeu fraudes bancárias. É uma vítima do sistema. Acho que essa estratégia dos adversários não o impede mais de ir ao segundo turno. Pode postar uma imagem dele matando alguém que o povo continuará votando.

É sério que só dá para combater o Marçal nesse nível?

Existe a forma judicial também. A decisão do fim de semana que eliminou as redes sociais dele me deu esperança. Por outro lado, a impressão que tenho é de que estamos apenas enxugando o gelo. O Brasil tinha que ter aprovado uma regulação para as redes sociais, do jeito que estamos não há responsabilização das plataformas para o que ele está fazendo.

Mas puni-lo via Judiciário não dá uma sensação de tapetão que infla ainda mais a narrativa de perseguido?

Não nego a capacidade do Marçal e os seus méritos, quem não vê isso é porque está com dor de cotovelo. Concordo que não podem tirar o cara da disputa por causa de detalhes técnicos envolvendo tempo de filiação ao partido, por exemplo. Agora, ele não pode pagar pessoas para colocarem cortes dele nas redes.

Boulos deveria rebater falas do Marçal usando termos como "aspirador de pó" e "comedor de açúcar"?

Nunca, nunca, nunca... Em debate assim, você nunca responde, você pauta.

O caso da carteira de trabalho que ele tentou pegar em um debate e não conseguiu foi ruim para a imagem dele, né?

Foi ruim, pega um pouco a pecha de que não gosta de trabalhar. Por outro lado, melhor reagir do que nada fazer. Polarizou de vez a campanha. Só estamos falando de Boulos e Marçal. O Nunes, a Tabata e o Datena não existem mais na eleição. E aí, terminada a loucura de um primeiro turno, não acho ele imbatível num segundo turno. Boulos pode virar o candidato de centro e vencer.

Bolsonaro vai abandonar o Nunes ainda no primeiro turno?

Ele perdeu o controle do processo. O bolsonarismo é muito maior que o Bolsonaro. O Jair foi deputado por muitos mandatos e colocou uma fantasia antissistema. O Marçal não, de fato ele é antissistema. Acaba sendo mais bolsonarista que o próprio Bolsonaro.

Está preparado para o Marçal jogar na sua cara que o senhor fez rachadinha?

Pode usar à vontade. Você não vai me ver respondendo ele. Um assaltante de banco não vai me pautar.

Um café com Datena no Starbucks

“Me meti em uma gelada.”

Foi com essa frase que José Luiz Datena (PSDB) abriu uma conversa que tivemos na semana passada em um Starbucks, no final de uma tarde paulistana.

O apresentador havia acabado de participar de uma sabatina na CNN e o ar enfadonho que vem demonstrando desde que a campanha teve início estava mais presente do que nunca. Sem rede social e tempo de TV, Datena parece esperar que 6 de outubro chegue logo para acabar o martírio que se tornou a corrida eleitoral.

"Acho que estou com menos vontade nessa eleição do que em todas as outras em que desisti", disse em meio a goles de café e um sorriso de alívio com a cada vez mais improvável ida ao segundo turno.

Falei para Datena que tinha reparado uma dificuldade muito grande dele em cumprir o tempo das respostas nos debates realizados até agora. "Não estou treinando para debate. Não vou mudar em dias um jeito de falar de anos. É impossível desenvolver um tema como a cracolândia em apenas dois minutos'.

Também provoquei o ex-apresentador sobre enfrentar Pablo Marçal em um debate de maneira mais veemente: "Não estou mais na idade para me ridicularizar em um debate", respondeu, sem nenhum ânimo de partir para cima do candidato do PRTB, embora tenha feito um vídeo recente vinculando o adversário ao PCC.

Ao fim da conversa, fiz a pergunta clássica do jornalista que quer manter canal aberto com a fonte. "Qual um horário bom do dia para te ligar?", indaguei, ciente de como a vida de um candidato é atribulado com agendas do nascer ao pôr do sol.

"Menos entre 6h e 10h da manhã. Nessa hora estou dormindo ainda, tenho dificuldades de pegar no sono de noite."

RECOMENDO

• Livro "Divã", de Martha Medeiros

O livro de 2002 da colunista do GLOBO é muito superior ao filme de 2009 estrelado por Lilia Cabral. Conta a história de Mercedes, uma mulher infeliz no casamento que relata ao seu terapeuta, Lopes, os detalhes de um caso extraconjugal que está vivendo e a falta de culpa por trair seu companheiro. Um trecho delicioso da obra na primeira pessoa de Mercedes:

"Se eu sinto alguma culpa, não é pelo que faço às escondidas, não é culpa por estar me dedicando a uma experiência socialmente reprovável: é culpa, Lopes, por não sentir culpa alguma. Por estar achando tudo condizente com o meu grau de exigência em relação ao aproveitamento do meu tempo, condizente com a minha fome, que nunca foi de comida, mas de vivência."