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Ex de Matthew Perry questiona versão de morte por uso de cetamina: ‘jamais usaria agulhas’

Substância tem efeitos alucinógenos e vem sendo usada no tratamento de doenças mentais

Agência O Globo - 23/08/2024
Ex de Matthew Perry questiona versão de morte por uso de cetamina: ‘jamais usaria agulhas’
Matthew Perry - Foto: Instagram - @mattyperry4

O ator Matthew Perry intérprete do personagem Chandler na série “Friends” morreu por overdose acidental “efeitos agudos de cetamina”, de acordo com o departamento médico legista do condado de Los Angeles. Ex-companheira do ator, Kayti Edwards, no entanto, questionou esta versão e afirmou que ele teria medo de agulhas.

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"Isso é estranho para mim […]. Matthew sempre, sempre me disse que ele nunca, jamais, usaria agulhas ou injetaria nada em seu corpo. Ele nem queria ter tatuagens", afirma Kayti ao jornal britânico Mirror. "Eu o via frequentemente muito chapado e usando muitas drogas diferentes. Eu sempre ficava tão assustada e dizia a ele que ele tinha que parar de misturar todas essas coisas, dizendo 'você vai morrer'. Mas ele dizia 'você só morre quando usa agulhas [...] e eu nunca, nunca, nunca faria isso."

A substância, também conhecida como quetamina ou ketamina, tem efeitos alucinógenos e vem sendo usada no tratamento de doenças mentais. Kayti, no entanto, questiona o fato de que nenhuma droga foi encontrada no local onde Perry morreu.

Ela havia trabalhado como assistente do ator em 2011, mas já havia namorado a estrela de Friends em 2006. Segundo o Mirror, o casal permaneceu amigo até a morte dele, em outubro de 2023.

"Quando ouvi que ele deixou seu assistente fazer isso, simplesmente não consegui entender, principalmente porque ele não tinha formação médica", explicou ela.

O que é cetamina?

A cetamina é um poderoso anestésico utilizado há mais de 50 anos. A substância também é utilizada como droga recreativa ilícita por seu efeito psicodélicos. Drogas psicodélicas são aquelas que alteram drasticamente alguns neurotransmissores no cérebro para criar uma mudança profunda na percepção, humor e ansiedade.

Estudos em animais mostraram que a cetamina aumentou os níveis de certas substâncias químicas cerebrais, como a dopamina, em até 400%. Isso deu origem a investigações sobre o potencial terapêutico da droga contra doenças mentais, como depressão resistente e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

Como droga recreativa, costuma ser vendida sob os nomes "special K", "Key" ou "Keta".

Para que serve?

Estudos recentes mostram que ela pode ser uma boa opção para pessoas com depressão resistente, aquela que não responde a tratamentos orais tradicionais.

De acordo com um estudo australiano publicado recentemente, pessoas com depressão resistente (que já tentaram pelo menos dois antidepressivos sem sucesso) apresentaram melhora quando receberam injeções de ketamina.

O tratamento com cetamina também é um caminho para a prevenção do suicídio. Um estudo feito por pesquisadores de várias instituições americanas e publicado no Journal of Clinical Psychiatry apontou que metade dos voluntários que apresentavam ideação suicida no começo da pesquisa não a apresentava mais seis semanas após a realização de seis sessões de infusão. Metade das 424 pessoas com depressão resistente respondeu ao tratamento e 20% tiveram sintomas depressivos em remissão. As taxas de resposta e remissão foram de 72% e 38%, respectivamente, após 10 infusões, escreveram os pesquisadores no estudo.

Como é usada?

Além da injetável, existem outras formas de administrar a droga, incluindo uma versão em spray nasal, chamada escetamina, que já é aprovada para o tratamento de depressão resistente.

Quais os riscos?

O uso apresenta riscos, por isso exige supervisão médica em ambiente controlado. Durante a sessão de infusão, o paciente pode apresentar aumento do ritmo cardíaco e de pressão arterial. Outro perigo é o aumento da ideação suicida.

Ela existe no Brasil?

Clínicas brasileiras já oferecem tratamentos com a substância contra doenças mentais, como depressão resistente. Cada sessão custa, em média, entre R$ 1.500 e R$ 2.000 e, normalmente, são necessárias de seis a oito infusões, mas a quantidade exata só pode ser determinada pelo médico responsável pelo procedimento, após a avaliação do estado de saúde do paciente.

Além de São Paulo, há clínicas oferecendo esse tratamento com cetamina para depressão resistente no Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina.

O paciente se submete sessões de infusão que duram aproximadamente 50 minutos, duas vezes por semana. A aplicação endovenosa de pequenas doses de cetamina deve ocorrer em clínicas especializadas ou em ambiente hospitalar, e sob supervisão de um médico anestesista.

Em razão dos riscos citados acima, o paciente deve estar com os sinais vitais monitorados, fazendo uso de oxímetro, tendo os batimentos cardíacos acompanhados e a pressão arterial aferida a cada dez minutos.