Internacional
Após Supremo da Venezuela validar reeleição de Maduro, 30 ex-presidentes chamam medida de 'golpe de Estado'
Entre os signatários estão os ex-presidentes Maurício Macri, da Argentina, Iván Duque, da Colômbia, Felipe Calderón, do México, e Guillermo Lasso, do Equador

Uma declaração assinada por 30 ex-chefes de Estado e governo da Iniciativa Democrática da Espanha e das Américas (Idea) nesta sexta-feira classificou a validação do resultado eleitoral na Venezuela por parte da Suprema Corte do país como "um típico golpe de Estado contra a soberania popular". Na quinta, o tribunal, controlado pelo chavismo, legitimou a reeleição do presidente Nicolás Maduro para um novo mandato de seis anos, conforme anunciado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), também de maioria chavista, em 28 de julho.
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O texto faz um apelo "aos governos democráticos e à comunidade internacional no seu conjunto para que impeçam a consolidação do golpe de Estado em curso na Venezuela", cobrando a adoção de "medidas reais e eficazes contra os responsáveis por este atentado à ordem democrática e pelos crimes contra a humanidade que estão sendo cometidos" no país.
Entre os signatários estão os ex-presidentes Maurício Macri, da Argentina, Iván Duque, da Colômbia, Felipe Calderón, do México, e Guillermo Lasso, do Equador.
A decisão do Supremo venezuelano — emitida a partir de uma perícia técnica a pedido do próprio governo, na qual a oposição se recusou a participar — foi validada sem, no entanto, a apresentação das atas eleitorais, os boletins das urnas que comprovariam a vitória de Maduro por 51%. Até hoje, o CNE não divulgou os documentos, alegando ter sido alvo de um ataque hacker não comprovado, mas que o Ministério Público atribui à oposição.
A oposição, liderada por María Corina Machado, publicou 83% das atas as quais teve acesso, mas cuja veracidade não pôde ser atestada, em um website. Segundo a contagem, o seu candidato, Edmundo González Urrutia, teria vencido Maduro por 67%, com vantagem inclusive em colégios eleitorais considerados bastiões do chavismo.
Na nota desta sexta, os signatários reconhecem a vitória de González Urrutia como uma "clara decisão dos venezuelanos". "Isto é confirmado por relatórios técnicos da ONU, da OEA (Organização do Estados Americanos) e do Carter Center", um dos únicos observadores internacionais autorizados a acompanhar o pleito, continua o texto.
A rejeição dos membros do Idea se soma a de países como os Estados Unidos e Argentina. Em comunicado, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Vedant Patel, disse que a medida do órgão "carece totalmente de credibilidade" e que "a vontade do povo venezuelano deve ser respeitada".
Logo após as eleições, o governo venezuelano rompeu relações diplomáticas com sete país da região que não reconheceram o resultado. Em um comunicado conjunto emitido nesta sexta, Argentina, Costa Rica, Chile, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Peru, que ainda contou com assinatura dos EUA, condenaram a decisão da corte.
O Brasil, que junto com a Colômbia tem atuado como um dos principais mediadores da crise, avalia os próximos passos, incluindo a divulgação de uma nota, após a validação considerada "esperada". Segundo diplomatas ouvidos pelo GLOBO, pelo menos até este momento, não há instrução do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para uma mudança de estratégia, que até o momento inclui a cobrança das atas e propostas como a realização de um novo pleito ou de um governo de coalizão.
O resultado também sacudiu o país em protestos, que resultaram na detenção de mais de 2,4 mil pessoas, segundo estimativas da ONU, e 27 mortes, segundo o procurador-geral Tarek William Saab, em atualização dos números nesta quinta. Saab afirmou que 70% dessas mortes (17) ocorreram somente no dia 29, um dia depois das eleições. O procurador-geral responsabiliza a oposição pelas mortes.
Saab declarou ainda que o Ministério Público está pronto para “avançar, aprofundar estas investigações” contra María Corina e González Urrutia, apontados como supostos autores de um ataque hacker contra o sistema de transmissão de votos, e que enviará a decisão do TSJ ao órgão para que se junte à investigação criminal contra eles, uma vez que os documentos que a oposição defende como prova da sua vitória podem ser "supostamente falsos ou forjados ".
González Urrutia se manifestou sobre a sentença poucos minutos após seu anúncio, classificando-a como "Nula". A afirmação, feita em uma publicação no X, foi seguida pelo 5º artigo da Constituição venezuelana "A soberania popular reside intransferivelmente no povo". O ex-diplomata foi declarado em desacato no último dia 10 por não comparecer ao tribunal quando solicitado e por não apresentar as provas solicitadas após as eleições presidenciais de 28 de julho. Durante o pronunciamento, a presidente do tribunal voltou a declarar o opositor em desacato, o que "acarreta sanções previstas no ordenamento jurídico vigente".
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