Geral
Certificação de tela de 1925 atribuída a Tarsila do Amaral expõe disputa na família da pintora
Antiga gestora do espólio, Tarsilinha Amaral contesta metodologia utilizada por Paola Montenegro, que a substituiu no comando da empresa Tarsila S.A. no ano passado

A polêmica em torno da tela “Paisagem, 1925”, atribuída a Tarsila do Amaral (1886-1973), cuja existência veio a público na 20ª edição da SP-Arte, em abril, expôs uma cisão na família da modernista, que se transformou em uma disputa judicial. O mais novo elemento no racha entre os herdeiros foi o processo de certificação de autenticidade da tela “Paisagem, 1925”, cuja existência veio a público em abril, na 20ª edição da SP-Arte.
Funk no MAR, Dona Izabel, Ivan Serpa e mais: as exposições em cartaz no Rio
Cristina Canale: Pintora revê seus 40 anos de carreira em mostra com 50 obras na Casa Roberto Marinho
Após ser contestada por agentes do mercado de arte, na última segunda-feira (19) a Tarsila S.A., empresa responsável pela gestão do espólio da modernista, e a OMA Galeria, responsável pela sua negociação, divulgaram que a autenticidade da tela havia sido verificada por Douglas Quintale, perito no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e dono da Quintale Art Law, especializada em certificação de obras de arte. Em abril a obra surgiu avaliada em R$ 16 milhões, e agora, segundo a OMA, seu preço teria subido para R$ 60 milhões.
O debate em torno da autenticidade colocou os herdeiros em lados opostos. Nesta quarta-feira (21), um grupo de 25 herdeiros da modernista publicou uma carta aberta afirmando que não reconhece a legitimidade da obra. Nesta quinta-feira (22), a Tarsila S.A. divulgou nota contestando as alegações, alegando que a empresa "tem justo direito de certificar a autenticidade das obras da pintora Tarsila do Amaral; assim como promover uma nova catalogação de suas obras".
Disputa na Justiça
O embate teve seu auge no ano passado, quando, em meio a uma disputa judicial, Tarsilinha do Amaral (sobrinha neta da pintora) foi substituída na gestão do espólio por Paola Montenegro, sua sobrinha bisneta. A troca também gerou uma mudança no Comitê de Autenticação, agora presidido por Quintale, com uma alteração da metodologia para a certificação de obras de Tarsila. Antes, este processo era conduzida por Aracy Amaral, considerada a maior expert na obra da pintora no Brasil e que estava à frente da equipe que conduziu os trabalhos de elaboração do catálogo raisonné, publicado em 2008.
Na carta aberta divulgada por Tarsilinha e outros herdeiros, os sucessores manifestaram "seu completo e total repúdio às afirmações lançadas por pessoas que não estão autorizadas pela maioria da família para alterar e certificar a autenticidade de obras da renomada artista plástica". O texto ainda afirma que "os herdeiros mais próximos de Tarsila do Amaral nunca ouviram falar dessa obra, sendo inverossímil que ela tenha permanecido oculta por tanto tempo".
Rebatendo o texto dos herdeiros (que Paola afirma ser subscrita por um terço dos sucessores, e não metade, como o grupo de Tarsilinha sugeria na nota), a Tarsila S.A. alega que "a certificação de autenticidade da obra 'Paisagem 1925' em nenhum momento comprometeu o legado da artista. Pelo contrário, ampliou e enriqueceu sua coleção com a inclusão de mais um quadro, com reflexos importantes para o patrimônio cultural brasileiro, definidor das características da artista".
Uma das consequências na troca da gestão do espólio foi a mudança no Comitê de Autenticação, com uma alteração da metodologia para a certificação de obras de Tarsila. Antes, este processo era conduzida por Aracy Amaral, considerada a maior expert na obra da pintora no Brasil e que estava à frente da equipe que conduziu os trabalhos de elaboração do catálogo raisonné, publicado em 2008. Agora, o Comitê é presidido por Douglas Quintale, perito no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e dono da Quintale Art Law, especializada em certificação de obras de arte. Quintale foi o responsável pelo processo de quatro meses de certificação da obra. Sobre a metodologia contestada por parte dos herdeiros, a nova nota destaca que "o processo é técnico-científico e contou com apoio de equipamentos de última geração da Universidade de São Paulo, do Laboratório Móvel de Análise de Obras de Arte do Instituto Federal do Rio de Janeiro e da Universidade Federal Fluminense".
Não foram apenas os herdeiros fiéis a Tarsilinha que questionaram a certificação da obra. Na terça-feira (20) a Agab (Associação de Galerias de Arte do Brasil) soltou nota afirmando que não reconheceria o laudo de autenticidade elaborado por Quintale "assim como outros eventuais laudos de obras atualmente desconhecidas que venham a surgir no futuro”, caso não contem com a participação de Tarsilinha, Aracy Amaral, Vera d’Horta, Regina Teixeira de Barros, e Maria Izabel Branco Ribeiro, responsáveis pela catalogação das obras da artista em seu raisonné.
A tela “Paisagem, 1925", estava à venda por R$ 16 milhões, mas agora sua avaliação teria saltado para R$ 60 milhões, segundo a OMA Galeria, que negocia a obra. Na nota publicada pela OMA Galeria, Moisés Mikhael Abou Jnaid afirma que a obra foi um presente de seu pai, Mikael Mehlem Abouij Naid, para sua mãe, Beatriz Maluf, pelo seu matrimônio, realizado em novembro de 1960, em Pirajú (SP). A obra teria sido levada para Zahle, no Líbano, após a morte da matriarca, e teria retornado ano passado após a eclosão da guerra entre Israel e Hammas. Segundo o proprietário, " a tela tem um valor simbólico e emocional" e que, até então, a família não tinha "ciência do valor estimado desta obra".
Mais lidas
-
1HOMICÍDIO QUÍNTUPLO
Identificadas as cinco vítimas da chacina em Estrela de Alagoas
-
2QUÍNTUPLO HOMICÍDIO
Polícia prende suspeito de cometer chacina que matou cinco pessoas em Estrela de Alagoas
-
3NOTAS FALSAS
Jovem de Arapiraca é presa no Ceará por circular com R$ 2.100,00 em notas falsas
-
4ESTRELA DE ALAGOAS
Tragédia na Lagoa dos Porcos: chacina choca todo o Estado; Polícia Investiga crime passional por cíúmes
-
5CHACINA
Cinco pessoas são executadas dentro de residência em Estrela de Alagoas