O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), rebateu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após o petista reclamar da postura estadual em relação às respostas federais à tragédia causada pelas chuvas de maio.

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Em entrevista nesta sexta-feira, Lula afirmou que Leite parece nunca estar "contente" com as ações desenvolvidas pelo governo federal para combate às enchentes e destacou que o governador sempre diz que as medidas são "insuficientes".

Horas depois, durante um evento do governo federal, Leite citou a declaração do presidente e defendeu sua postura. O governador afirmou que seu papel era "agradecer o que foi feito, mas também demandar, pedir". Além disso, ressaltou que o "povo gaúcho não é mal agradecido".

Troca de farpas em agenda conjunta

Durante o evento de entrega de 253 casas do programa Minha Casa Minha Vida para a população gaúcha, Lula pediu aos seus apoiadores que respeitassem a presença do governo no evento e que "não é correto transparecer divergências ideológicas" em eventos institucionais.

— Deixa eu pedir um favor para vocês. Estou no Rio Grande do Sul em uma visita institucional. Sou presidente da República e o governador do estado é nosso convidado para vir a este ato. Não é correto, em um ato institucional, transparecer divergências ideológicas nossas, que elas poderão começar depois que terminar esse ato. Neste ato aqui, queria pedir a vocês que respeitassem, como se estivesse uma pessoa visitando nossa casa.

Em seguida, Lula afirmou que o governador iria discursar na cerimônia porque "lamentavelmente" estava eleito.

— É o nosso convidado, é o nosso governador, e ele vai falar. Disputou as eleições e ganhou. Lamentavelmente, é assim a vida. Perdi em São Paulo 4 eleições para o Alckmin e ele é meu vice-presidente da República hoje.

Na mesma cerimônia, o governador Eduardo Leite afirmou que Lula é bem-vindo no estado e que é importante manter o "respeito institucional", apesar das divergências ideológicas. O governador também comparou a relação entre os poderes com um jogo de futebol, onde "se é para divergir, é na bola, não vai na canela".

— Presidente, o senhor é bem-vindo. Insisto nisso, um ambiente como este, é claro que temos visões diferentes em muitas questões de governo, ideológicas, programáticas, mas, sobretudo, há aqui, pode ter certeza, da minha parte, do nosso governo sempre, o respeito institucional com o governo eleito, à sua liderança como presidente da República, à sua equipe. O senhor será sempre bem-vindo no estado do Rio Grande do Sul com todo o seu time de ministros.

Pouco depois, Leite rebateu diretamente a declaração dada por Lula durante a entrevista. Citando uma série de calamidades enfrentadas pelo estado nos últimos seis anos, o governador afirmou que, apesar de o estado ter a "característica de demandar muito", "o povo gaúcho não é ingrato".

— Presidente, também ouvi na entrevista que o senhor falou que o governador está sempre insatisfeito — disse. — Temos essa característica de demandar muito, mas é importante deixar claro que o povo gaúcho não é mal-agradecido, o povo gaúcho não é ingrato, o povo gaúcho agradece todo o apoio que recebe.

Em seguida, Leite agradeceu pelos apoios ofertados pelo governo federal e ressaltou que o seu papel como chefe do executivo estadual é "demandar".

— Nós agradecemos os apoios que são alcançados, mas também sabemos o que é de direito da nossa população, do nosso estado, e demandamos. Nosso papel como governantes em uma federação é agradecer o que foi feito, mas também demandar, pedir.

Por fim, Leite afirmou que não se trata de questões pessoais ou ideológicas, mas sim de "demandas para que o estado seja atendido".

— Quando demandamos, não é de maneira nenhuma para adjetivar o presidente ou ministros disso ou daquilo, porque não se trata de questões pessoais ou ideológicas, e sim das demandas para que o estado seja atendido.

Lula, então, afirmou que nunca teve "nenhum problema com nenhum governador", e que trata todos "com muito respeito, delicadeza". O presidente afirmou também que Leite tem um "amigo" no governo federal e que não há uma disputa entre os dois.

— Então, Eduardo, eu quero que toda vez que você olhar para o governo federal você saiba que você tem um amigo. Eu não disputo nada com você, não disputo popularidade. Eu não sou gestor, eu sou um político, e gosto de fazer política.

Por fim, Lula rebateu as declarações de Leite sobre as calamidades no estado e citou outras situações de emergência que acontecem no país, afirmando que tem que cuidar dos 27 estados sem reclamar, mas "fazendo o que for possível".

— É importante a gente saber que eu tenho que cuidar de 27 estados, eu estou aqui no Rio Grande do Sul, mas estou preocupado com os Ianomâmis em Roraima, com pessoal que vive nas camadas do Pantanal, preocupado com o pessoal da seca da Amazônia, porque não é só o Rio Grande do Sul que teve seca, a Amazônia está tento a maior seca de sua história, e eu não posso reclamar, eu tenho que cuidar e fazer oq eu for possível fazer.