Política

'Jogo Político': Marçal na Band foi desastroso ou era tudo que ele queria? Quem será o candidato de Lira à sucessão?

Newsletter semanal assinada pelo jornalista Thiago Prado também traz dicas de podcast que fala de religião e livro sobre ressentimento, o mais tóxico dos sentimentos

Agência O Globo - 13/08/2024
'Jogo Político': Marçal na Band foi desastroso ou era tudo que ele queria? Quem será o candidato de Lira à sucessão?
'Jogo Político': Marçal na Band foi desastroso ou era tudo que ele queria? Quem será o candidato de Lira à sucessão? - Foto: Redes Sociais

Bom dia, boa tarde, boa noite, a depender da hora em que você abriu esse e-mail. Sou o editor de Política e Brasil do GLOBO e vamos nessa na newsletter de análises, bastidores e conteúdos relevantes do noticiário político no Brasil.

Binge-watching é o termo em inglês que define o hábito de assistir vários episódios de uma série de uma tacada só. Enquanto a melhor produção do ano passado não estreia a sua segunda temporada ("Os Outros", com Adriana Esteves e Eduardo Sterblitch, entra no ar depois de amanhã, no Globoplay), decidi maratonar alguns dos debates que a Band realizou com candidatos a prefeito pelo Brasil. Na última quinta-feira, a tradicional musiquinha que a emissora criou para a sua cobertura política ecoou em 19 capitais.

Precisamos falar sobre Pablo Marçal, do PRTB, e a sua metralhadora giratória contra Ricardo Nunes, Guilherme Boulos e cia.

Ao fim do debate, a análise convencional foi de derrocada de Marçal após a agressividade na TV contra seus oponentes. De fato, as pesquisas qualitativas conduzidas pelas campanhas durante o encontro na Band apontaram para uma rejeição ao desempenho do ex-coach. O próprio placar dos colunistas que O GLOBO estreou na sexta-feira colocou Marçal com a segunda pior média de notas, à frente apenas de José Luiz Datena (PSDB).

O ponto é

Desde a última sexta-feira, o que se viu na internet foi uma explosão de vídeos lacradores da máquina de comunicação digital do candidato do PRTB. Nenhum dos seus adversários tem em mãos um ecossistema digital tão poderoso (são quase 15 milhões de seguidores no X, Facebook, Instagram e YouTube).

"Um debate na TV tem função clara na era digital: produzir recortes para redes sociais. Dá para concluir que Marçal entendeu bem a função do debate para a sua campanha e faturou alto", diz Felipe Nunes, CEO da Quaest, e autor de um levantamento publicado no domingo na coluna de Lauro Jardim apontando uma maioria de menções positivas para o ex-coach pós-Band.

Procurei mais gente para avaliar o desempenho de Marçal. Renato Pereira, hoje marqueteiro de José Sarto (PDT) em Fortaleza e vitorioso no passado em campanhas no Rio com Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão e Eduardo Paes, acha o estilo do candidato do PRTB muito parecido com o adotado por Javier Milei, inicialmente subestimado na Argentina. Ele considera possível a ida de Marçal para o segundo turno em São Paulo:

"Marçal deu aula e não foi só de grosseria. Foi de estratégia e de posicionamento. Ele entende que eleição é sobre atenção e que existe uma demanda por outsiders. Então busca a todo custo virar assunto, e conseguiu. Além disso, compreendeu que a audiência do debate importa muito menos do que os cortes do debate. E nesse item também deu um banho nos concorrentes", diz Pereira.

Amanhã tem mais um encontro marcado dos candidatos de São Paulo, a partir das 10h, promovido por Estadão, Faap e Terra. A ver a estratégia de cada um para lidar com o furacão Marçal.

Agosto chegou!

Lira vai escolher o melhor amigo como seu candidato à presidência da Câmara ou abandonar o parceiro para não perder?

A Câmara retorna aos trabalhos nesta semana e chegou a hora do presidente, Arthur Lira (PP), resolver o seu dilema: apostar no melhor amigo para sucedê-lo no comando da Casa ou abandonar o parceiro de plenário para não perder a eleição?

"Eu ando com o Elmar Nascimento desde 2015. O problema é: eu elejo o Elmar sozinho? As coisas não são assim. Temos um time que as famílias se relacionam. Se o Elmar conseguir se encaixar no perfil, ele vai ser o escolhido", disse Lira sobre o deputado baiano do União Brasil em entrevista ao GLOBO antes das férias.

O ponto é:

Lira está inseguro com a capacidade do amigo ser um candidato inquestionável na hora do voto secreto de 513 parlamentares. Elmar é tido como antipático pelo chamado "chão da fábrica" do plenário. Além disso, o governo dá sinais de que não confia no deputado.

Mesmo assim, Elmar está empenhado em mostrar a robustez da sua candidatura. Em julho, divulgou feliz da vida que o seu aniversário teve a presença de 356 deputados, número mais do que suficiente para se eleger.

Entre os parlamentares (em off, claro), a brincadeira foi: estiveram na mansão do Lago Sul de Brasília porque adoram Elmar ou porque queriam desfrutar do regabofe embalado ao som do Timbalada e regado a churrasco, uísque Old Parr e Chivas 12 anos?

Quando disse ao GLOBO que Lula não vai vetar Elmar, Lira na verdade mostra que já sabe o que se desenha como óbvio: o governo quer outro nome, mas ainda não está claro se Marcos Pereira ou Antonio Brito serão viáveis para Lula bancar e Lira aceitar.

É um xadrez em que ninguém pode sair derrotado.

O Planalto não quer perder e repetir o desastre da emblemática eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara em 2015 contra o petista Arlindo Chinaglia.

Lira não quer perder e repetir a saída melancólica de Rodrigo Maia em 2021, após a derrota do seu candidato Baleia Rossi.

A interlocutores, Lira tem dito uma frase saborosa sobre outros nomes que podem entrar na disputa caso Elmar, Marcos Pereira e Antonio Brito não se viabilizem. Sim, o presidente da Câmara já pensa em plano B e C para fevereiro de 2025.

"Hugo Motta e Doutor Luizinho estão iguais a dois crocodilos. Embaixo d'água esperando a hora certa de sair da água e engolir os outros".

RECOMENDO

• Episódio Religião do podcast Platitudes

O programa de Leandro Karnal e Gabriela Prioli, disponível no Spotify, trata das razões do crescimento das igrejas neopentecostais no Brasil. A série do GLOBO "O salto evangélico", de 2022, trouxe números cada denominação brasileira.

• Livro "Ressentimento"

Obra densa da psicanalista Maria Rita Kehl, um texto que dá mais trabalho de ler, porém extremamente rico ao tratar do mais tóxico dos sentimentos. Importante para analisar o ressentimento não apenas no aspecto pessoal, mas também a dimensão social e a capacidade que a política tem de mobilizar pessoas a partir dele. Editoria de Saúde publicou recentemente texto interessante sobre o tema.