Internacional
Putin acusa tropas ucranianas de lançarem incursão contra seu território: 'Provocação em larga escala'
Ucrânia permanece em silêncio sobre ofensiva, que pode ser uma das maiores em solo russo em mais de dois anos de guerra; para analistas, ação pode ter como objetivo aliviar tropas sobrecarregadas

A Rússia acusou as forças ucranianas de entrarem em Kursk, uma região russa que faz fronteira com a Ucrânia, com cerca de 300 soldados, uma dúzia de tanques e cerca de 20 outros blindados. Nesta quarta-feira, o presidente russo, Vladmir Putin, se reuniu com os chefes das forças de segurança e do exército. Mais cedo, ele denunciou a incursão como uma "grande provocação em larga escala", e autoridades locais falam em pelo menos cinco civis mortos e milhares de deslocados. Kiev permanece em silêncio sobre a ofensiva surpresa, que pode ser uma das maiores incursões ucranianas em solo russo em mais de dois anos de conflito.
A ação, segundo algumas autoridades russas, teria iniciado por volta de 8h de terça-feira (horário local). De acordo com o chefe do Estado-Maior Russo, Valery Gerásimov, durante a reunião com Putin desta quarta, "até mil" soldados ucranianos participaram da incursão. As forças ucranianas teriam atacado por terra e ar para entrar na região russa próxima à cidade de Sudzha, a cerca de 10 km da fronteira. Uma informação similar foi divulgada por um blogueiro militar russo, citado pelo The Guardian. Em relatório no Telegram, sugeriu que as forças ucranianas teriam avançado para o norte, possivelmente até 15 km da fronteira, ao longo de uma rodovia ao norte da vila fronteiriça de Sverdlikovo, mas a informação não pôde ser confirmada pelo jornal britânico.
Incialmente, o Ministério de Defesa disse que o ataque foi repelido, mas posteriormente corrigiu a declaração. Nesta quarta, a pasta afirmou que "a operação para destruir as formações do Exército ucraniano continua", acrescentando que os confrontos seguiram "durante a noite" em áreas "imediatamente adjacentes à fronteira". Estavam sendo empregados ataques aéreos e de mísseis e fogo de artilharia contra os soldados ucranianos, causando 260 baixas e derrubando 50 veículos blindados. Segundo Gerásimov, o avanço “foi detido pela aviação e pela artilharia”, um aparente reconhecimento que os soldados ucranianos ganharam terreno durante a operação.
De acordo com o canal do Telegram Rybar, que tem milhões de seguidores e é próximo aos militares russos, as tropas ucranianas tomaram três vilarejos na região de Kursk. A região fica em frente à região de Sumy, no nordeste da Ucrânia, e tem sido alvo regular de bombardeios ucranianos desde o início do conflito em fevereiro de 2022.
'Disparos indiscriminados'
Em uma reunião televisionada com autoridades do governo, Putin acusou "o regime de Kiev" de disparar "indiscriminadamente com vários tipos de armas, incluindo foguetes, contra prédios civis, casas e ambulâncias". De acordo com as autoridades locais, os bombardeios e combates teriam deixado pelo menos cinco civis mortos e 28 feridos. De acordo com o Ministério da Saúde russo, 13 pessoas, incluindo três menores de idade, foram hospitalizados após o bombardeio.
O governador da região de Kursk, Alexei Smirnov, afirmou em uma mensagem em vídeo no Telegram nesta quarta que milhares de pessoas foram deslocadas da região fronteiriça nas últimas 24 horas. O Guardian informou que 300 pessoas foram alojadas em acomodações temporárias durante a noite. A Ucrânia, por sua vez, ordenou o deslocamento obrigatória de milhares de pessoas:
— Acabei de assinar a ordem para introduzir uma saída obrigatória de 23 assentamentos de cinco comunidades no distrito de Sumy — disse o governador regional, Volodymyr Artyukh, acrescentando que a medida se aplica a "cerca de 6 mil pessoas, incluindo 425 crianças".
As autoridades ucranianas estão mantendo silêncio quase absoluto sobre a situação em Kursk e vários funcionários de alto escalão procurados pela agência AFP, pela rede americana CNN e pelo jornal New York Times se recusaram a comentar. Uma fonte dos serviços de segurança ucranianos (SBU) disse à agência francesa que um pequeno drone destruiu um helicóptero russo Mi-28 em pleno voo, um evento "sem precedentes na história da guerra".
O oficial sênior focado nas operações de desinformação russas, Andriy Kovalenko, porém pareceu reconhecê-lo ao escrever no Telegram que "os soldados russos estão mentindo sobre a controlabilidade da situação na região de Kursk. A Rússia não controla a fronteira".
Essa não é a primeira vez que Kiev realiza ataques terrestres através da fronteira com a Rússia. Bombardeios e bombardeios ucranianos têm como alvo as regiões em Belgorod, Briansk e Kursk. Mas enquanto os ataques anteriores foram realizados por grupos armados de exilados russos apoiados pela Ucrânia, o ataque denunciado parece ter envolvido diretamente tropas ucranianas, de acordo com Pasi Paroinen do Black Bird Group, que analisa filmagens do campo de batalha. Paroinen relatou "vários avistamentos" de veículos blindados de combate Stryker, que os EUA enviaram à Ucrânia no ano passado. A Rússia disse que a ação foi liderada pela 22ª Brigada Mecanizada de Kiev.
Sergey Zgurets, um especialista militar ucraniano, disse que o Exército ucraniano parece estar tentando desviar as forças russas de outros setores da linha de frente, onde elas têm pressionado por vários meses. À AFP, ele explicou que a geografia dessa parte da Rússia torna possível "realizar efetivamente esse tipo de ação de dissuasão contra o inimigo com um pequeno dispositivo, e isso é provavelmente o que o exército ucraniano está fazendo".
Mas analistas ouvidos pelo NYT alertaram que, apesar de tentar aliviar a pressão sobre as outras tropas ucranianas, o Exército da Rússia tem amplas reservas de tropas para se dedicar à luta e que o ataque corria o risco de sobrecarregar ainda mais as tropas ucranianas, que já estavam em menor número.
— Operacionalmente e estrategicamente, esse ataque não faz absolutamente nenhum sentido — ponderou Paroinen, acrescentando: — Isso parece um desperdício grosseiro de homens e recursos muito necessários em outro lugar.
A opinião é partilhada pelo membro sênior do Foreign Policy Research Institute Rob Lee. "A Rússia já tem maiores forças/capacidades convencionais na área, melhor comando e controle, e tem unidades de conscritos que podem ser mobilizadas, que não são usadas na Ucrânia”, disse o Lee nas redes sociais. “É improvável que esta operação force a Rússia a retirar forças significativas da Ucrânia.”
Ataques com drones
Duas outras regiões russas que fazem fronteira com a Ucrânia, Voronej e Belgorod, também foram alvos de ataques de drones ucranianos contra prédios residenciais nesta quarta-feira, de acordo com as autoridades locais. "Dois drones atacaram um prédio" em Shebekino, em Belgorod, quebrando as janelas de um apartamento e incendiando outro, escreveu o governador Vyacheslav Gladkov no Telegram, dizendo que "ninguém ficou ferido".
Em Voronej, capital da região homônima, os destroços de dois drones abatidos pela defesa aérea danificaram a fachada de um prédio e quebraram as janelas de vários apartamentos em outro, disse o governador Alexander Gusev.
Desde que o conflito começou em fevereiro de 2022, houve várias incursões na Rússia por combatentes da Ucrânia. Os militares russos alegaram tê-las repelido todas as vezes, mas algumas delas os forçaram a recorrer à artilharia e à aviação, como no caso da incursão de terça-feira.
A operação ocorre em um momento em que as forças de Kiev, com falta de munição e novos recrutas, têm lutado para conter o avanço das tropas russas no leste da Ucrânia nos últimos meses. Em maio, as tropas russas também lançaram uma ofensiva terrestre na região fronteiriça de Kharkiv, onde tomaram várias cidades antes de serem detidas pelo exército ucraniano. (Com AFP e NYT)
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