Internacional

Governo Lula busca mais informações após autoridade eleitoral da Venezuela dizer que entregou atas da eleição à Justiça

Apesar das pressões, Lula ainda aguarda os boletins de urna para se posicionar sobre quem venceu a eleição

Agência O Globo - 06/08/2024
Governo Lula busca mais informações após autoridade eleitoral da Venezuela dizer que entregou atas da eleição à Justiça

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva busca mais informações sobre a informação dada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que disse ter entregue à Corte Suprema da Venezuela as atas das eleições presidenciais. O órgão eleitoral, alinhado ao atual presidente, Nicolás Maduro, indica a reeleição para um terceiro mandato.

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Avaliação do governo brasileiro é que, por enquanto, ainda não é possível dizer que a notícia é animadora, mesmo porque o Judiciário venezuelano, que sofre influência de Nicolás Maduro, ainda fixou um prazo de 15 dias para analisar os documentos, tempo que poderá ser prorrogado.

Apesar das pressões para que Lula seja mais contundente na defesa da democracia no país vizinho, o governo brasileiro avalia que o momento não é de mudar de posição. Nos bastidores, interlocutores do Palácio do Planalto e do Itamaraty reafirmaram que o Brasil quer a divulgação dos boletins de urna, antes de se posicionar sobre quem venceu a eleição.

Na eleição que ocorreu na Venezuela, o CNE declarou que o vencedor foi o presidente Nicolás Maduro. A oposição, representada no pleito por Edmundo González, protestou e apresentou apurações que davam a vitória a seu candidato.

O Brasil já avisou que não aceitará apurações paralelas. Pessoas do governo brasileiro consultadas pelo GLOBO dizem ter informação de que é praticamente impossível adulterar as atas. E dizem que ainda é cedo para saber se o envio dos boletins é animador.

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Interlocutores de Brasília envolvidos no assunto afirmam que a crise que assola a Venezuela, que tem sido marcadas por prisões e mortes de manifestantes, precisa ser resolvido pelos venezuelanos, o que inclui oposição, governo e a sociedade do país. O Brasil continua disposto a contribuir em uma negociação, desde que seja chamado.

Está sobre a mesa a possibilidade de os chanceleres do Brasil, da Colômbia e do México irem a Caracas, para conversar com as autoridades do país e o candidato da oposição, Edmundo González, sobre a abertura de uma negociação. A expectativa é que as partes peçam a contribuição dos três países.

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A única condição imposta é que a líder da oposição, María Corina Machado, não participe das conversas. Um interlocutor da área diplomática ressaltou que os chavistas jamais aceitariam negociar diretamente com ela.

Um episódio considerado um grave erro da diplomacia brasileira por auxiliares de Lula foi o reconhecimento de Juan Guaidó como presidente da Venezuela, em 2019, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. A medida cortou os canais com o país vizinho, que somente agora estão sendo reabertos.

Lula tem conversado com vários atores internacionais, que veem no Brasil um caminho para a solução da crise. Isso porque o governo brasileiro é visto como um "interlocutor confiável", que tem canal aberto com Maduro e a oposição.

Além de Colômbia e México, Lula manteve contato com os presidentes dos Estados Unidos e da França, Joe Biden e Emmanuel Macron. Embora EUA e União Europeia acusem Maduro de fraude eleitoral, os dois países têm elogiado a postura do Brasil.

Por outro lado, ex-presidentes da América Latina e da Espanha enviaram uma carta ao presidente brasileiro, na segunda-feira, pedindo que Lula reafirme seu compromisso com a democracia. Seria uma postura mais firme do que a que foi adotada.