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Com abstenção de Brasil e Colômbia e ausência do México, OEA não aprova resolução que pedia transparência na eleição da Venezuela por um voto

Como adiantado pelo O GLOBO, os três país se articulam para dar uma resposta à situação política na Venezuela, mas divergências internas travaram um comunicado conjunto mais cedo

Agência O Globo - 31/07/2024
Com abstenção de Brasil e Colômbia e ausência do México, OEA não aprova resolução que pedia transparência na eleição da Venezuela por um voto
Nicolas Maduro

O Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) rejeitou nesta quarta-feira uma resolução que exigia maior transparência do governo venezuelano em relação às contestadas eleições de domingo, que deram a vitória ao presidente Nicolás Maduro, depois de não conseguir atingir a maioria absoluta de seus Estados membros. Formada por 34 nações, a reunião extraordinária terminou com 17 votos favoráveis, um a menos do necessário para aprovação, além de 11 abstenções e cinco ausências à convocatória.

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O Brasil e Colômbia estão entre os que se abstiveram, apesar de ambos governos terem pedido a Maduro que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) — responsável por organizar as eleições e dominado por uma maioria chavista — publicasse os boletins das urnas, cujos números vêm sendo objeto de divergências com a oposição, liderada por María Corina Machado.

O México, assim como a própria Venezuela, não atendeu à convocatória da OEA. Junto com Brasil e Colômbia, o país tem adotado “uma terceira posição": não chancela as denúncias de fraude da oposição, mas tampouco reconhece a reeleição de Maduro.

No caso do México, há ainda uma diferença entre o presidente Andrés Manuel López Obrador e a presidente eleita, Claudia Sheinbaum. Enquanto López Obrador diz que não há provas da suposta fraude denunciada pela oposição, a presidente eleita pediu “transparência” no processo eleitoral.

A reunião começou com mais de duas horas e meia de atraso devido a divergências sobre uma frase do projeto de resolução, lamentou o presidente do Conselho Permanente, Ronald Sanders, sem dar detalhes.

O texto proposto exigia, entre outras coisas, que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) “publicasse imediatamente os resultados da eleição presidencial no nível de cada seção eleitoral”, bem como “uma verificação abrangente dos resultados na presença de observadores internacionais para garantir a transparência, a credibilidade e a legitimidade” das eleições.

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O resultado anunciado pelo conselho na madrugada de segunda-feira, com 80% das urnas apuradas, indicou a reeleição do chavista para um terceiro mandato de seis anos com mais de 5,1 milhões de votos (cerca de 51,2%) contra 4,4 milhões (44,2%) obtidos pelo candidato opositor, o diplomata Edmundo González Urrutia. No entanto, em uma coletiva a jornalistas, María Corina, que denuncia não ter tido acesso a 100% das atas de votação, disse, com base em 73% dos boletins obtidos até então, que González recebeu 6 milhões e Maduro apenas 2,7 milhões de votos.

Divergências internas

Como adiantado pelo O GLOBO, Brasil, Colômbia e México se articulam para dar uma resposta à situação política na Venezuela, mas divergências internas travaram um comunicado conjunto. No momento, as diplomacias trabalham numa comunicação telefônica entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Gustavo Petro e Andrés Manuel López Obrador.

Um dos pontos de impasse, segundo fontes diplomáticas ouvidas pelo O GLOBO, é como seria uma eventual verificação das atas de votação, caso sejam entregues pelo governo Maduro, como solicitado por Brasil, Colômbia e diversos países. Segundo fontes de Bogotá, a Colômbia defende uma verificação “internacional”, enquanto o Brasil prefere uma verificação “imparcial”.

O presidente colombiano, disseram as fontes, “ficou incomodado com a divulgação da comunicação entre Lula e o presidente americano, Joe Biden”. Petro “está esperando a divulgação na nota trilateral desde segunda, e ao ver a comunicação de Lula e Biden decidiu falar sozinho”, acrescentaram as fontes. Uma das principais preocupações do presidente colombiano, expressado em seu comunicado unilateral, é que a Venezuela mergulhe numa guerra civil, como aconteceu na Colômbia durante mais de 50 anos.

Colaborou Janaína Figueiredo