Internacional
Eleição na Venezuela: o que pode acontecer se ganhar Maduro ou a oposição?
A líder opositora María Corina Machado disse que é impossível uma vitória do presidente; analistas afirmam que participação eleitoral será chave para determinar as chances da oposição

Numa eleição presidencial histórica para a Venezuela, os dois lados em disputa afirmaram, até o último minuto de campanha que estavam certos de sua vitória. Nem o presidente Nicolás Maduro, que concorre à segunda reeleição consecutiva, nem a oposição liderada por María Corina Machado e que tem como candidato o diplomata aposentado Edmundo González Urrutia, cogitaram a possibilidade de uma derrota. Isso torna o cenário pós eleitoral complexo, e analistas como Luis Vicente León, diretor da Datanálisis, uma das empresas de consultoria mais importantes do país, procurada por chavistas e opositores, são cautelosos na hora de antecipar o que poderá acontecer na noite deste domingo, ou madrugada de segunda-feira.
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Não é simples analisar o atual panorama político venezuelano. Para León, a oposição teve uma clara estratégia de instalar dentro e fora do país a ideia de que se o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), anunciar um triunfo de Maduro teria sido cometida, em palavras de María Corina, “uma gigantesca fraude”. Ou seja, a líder opositora já deixou claro que não aceitará outro resultado que não seja a vitória da oposição, e essa ideia, diz o analista, penetrou em amplos setores da sociedade venezuelana. Isso, acrescenta, abriria uma crise se o CNE anunciar a reeleição de Maduro.
— A grande maioria dos venezuelanos quer uma mudança, sobre isso não há dúvidas. Mas não podemos descartar uma vitória de Maduro — afirma León.
Se o CNE, de fato, anunciar a reeleição do presidente, diz o analista, “o primeiro desafio de Maduro será que essa vitória seja considerada legítima”.
— María Corina vai desconhecer esse resultado e uma de suas estratégias poderia ser, sabendo que esse será o resultado que o CNE vai divulgar, chamar as pessoas para as ruas antes do anúncio, para festejar a vitória da oposição em base a seus próprios dados — comenta o analista.
Se isso acontecer, a Venezuela viverá momentos de extrema tensão, com uma oposição em pé de guerra com o governo, e um governo que insistirá em que deve ser respeitado o que terá dito o CNE.
Um dos fatores que os analistas mais observarão para avaliar se um eventual triunfo de Maduro faz sentido é a participação popular. Estima-se que entre 13 e 16 milhões de venezuelanos irão às urnas neste domingo. O governo, comentam analistas, espera que sejam menos, em torno de 11 milhões. A máquina chavista entrará em campo para mobilizar seus eleitores, o que sempre favorece o chavismo. Empresas de consultoria como a Danatálisis terão informação sobre a participação e, de acordo com León, se ela for elevada, chegando até a 80%, “o chavismo poderia estar em problemas”.
Outro elemento a ser considerado é o horário em que o CNE divulgará o resultado. O cenário ideal para Maduro, aponta León, “é vencer com uma diferença razoável, e poder anunciar essa vitória cedo, entregando a todos os observadores as atas de votação como prova. Nesse caso, a oposição não terá nada a fazer”.
— Se os resultados demorarem muito, uma hipótese sobre essa demora será que o chavismo está com dificuldades — diz o diretor da Datanálisis.
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Suas pesquisas mostraram, até o final, um ampla vantagem de González Urrutia. Nas últimas horas, analistas como León admitiram que essa vantagem se estreitou, mas indicaram que o candidato opositor continuava na frente. Já pesquisas divulgadas pelo chavismo, por exemplo da empresa de consultoria Hinterlaces, indicaram que Maduro superava González Urrutia.
Se o resultado for contundente a favor da oposição, León acredita que uma negociação será imposta, e que o chavismo não aceitará a participação de María Corina. Se, nesse cenário, o candidato opositor aceitar, a oposição terá rachado e María Corina deverá, segundo fontes opositoras, partir para um conflito com Maduro e com os moderados da oposição. Se González Urrutia não aceitar as eventuais condições do chavismo, abriria-se, também, uma crise.
No sábado, houve conversas relevantes entre representantes da comunidade internacional que estão em Caracas, entre eles o assessor internacional de Lula, o ex-chanceler Celso Amorim, que se reuniu com os ex-presidentes da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, e da República Dominicana, Leonel Fernández. Ambos têm diálogo fluido com o chavismo. Fernández também esteve com González Urrutia, e não com María Corina. Fontes que acompanharam os encontros afirmaram que “essas pontes poderão ser úteis, caso a situação se torne muito complexa”.
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