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Super-heróis por toda parte, filas de uma hora e novas séries: como a San Diego Comic-Con preparou-se para superar anos de baixa

Com ao menos 135 mil participantes, evento peso-pesado do entretenimento voltou com força após edições marcadas pela pandemia e greve dos atores

Agência O Globo - 26/07/2024
Super-heróis por toda parte, filas de uma hora e novas séries: como a San Diego Comic-Con preparou-se para superar anos de baixa

O centro da cidade californiana de San Diego, nos Estados Unidos, está tomado de criaturas das mais diferentes origens. Basta uma breve observação para encontrar alguns Wallys, Batmans, Deadpools e outras figuras icônicas da cultura pop. Numa das mais importantes avenidas da região central, já teve banda de minions (os personagens amarelinhos da franquia “Meu Malvado Favorito”) tocando a trilha sonora dos X-Men para que um Wolverine pudesse dançar em plena via pública.

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O motivo da movimentação de toda sorte de criaturas na cidade é a nova edição da San Diego Comic-Con, evento peso-pesado de entretenimento e cultura pop. A atividade volta à programação da cidade após atravessar desafiadores anos de pandemia e mais a greve de atores e roteiristas que atingiu em cheio a convenção em 2023. A tônica do evento é justamente unir uma ampla seleção de produtores de quadrinhos, cinemas, séries de TV, HQs e outros segmentos artísticos com o público consumidor.

Atores e diretores

Ao longo de quatro dias — a atividade começou oficialmente na quinta-feira e vai até amanhã —, os visitantes podem conferir encontros com atores, produtores, atrizes e diretores de filmes e séries, mas também comprar uma série de produtos ligados num dos mil expositores disponíveis no evento. Os organizadores estimam que são mais de duas mil horas de conteúdo disponibilizadas aos visitantes (considerando todos os ambientes ocupados pela “Con”).

As filas para garantir um produto são grandes. Era preciso esperar mais de meia hora, por exemplo, para garantir uma camiseta, uma caneca ou pelúcia do cachorrinho Snoopy e a turma do tristonho Charlie Brown (ambos frutos da série de quadrinhos do americano Charles M. Schulz). Algumas pessoas chegavam a esperar uma hora por uma camiseta.

— É difícil até achar o fim da fila (de tanta gente que há), mas gosto de levar uma lembrança para casa quando estou aqui, um souvenir. Venho sempre com meu filho e marido. É um programa de família desde 2013 — diz Margue Rhodes-Ousley, funcionária de uma universidade da Califórnia que aguardava pacientemente para comprar os produtos do Snoopy.

As opções são as mais diversas. Há, por exemplo, desenhos pornográficos inspirados na estética de mangás e até uma seleção de quadrinhos que faz uma sátira de Donald Trump e Joe Biden num universo de super-heróis. As revistas, publicadas pela editora Keen Spot, costumam ainda recriar outros personagens relevantes da política americana.

É até difícil se locomover dentro do pavilhão apinhado, sobretudo, de jovens. De acordo com levantamento da organização, a fatia de rapazes e moças de até 30 anos é de 58% dos participantes. Se estendermos o grupo até os que têm entre 17 e 34 anos, chega a 64%. Estava nessa faixa de idade um rapaz fazendo cosplay de Batman que posava para fotos nos amplos corredores do pavilhão.

— Aqui consigo experienciar uma nova forma de ser eu, é uma maneira muito mais legal de ser visto — diz o gerente de salas de cinema Niko Matkovitch, de 23 anos, que veio da cidade californiana de Cupertino para ostentar uma fantasia feita à mão.

Embora a programação oficial do evento se restrinja majoritariamente ao pavilhão do centro de convenções de San Diego em seus 42,7 mil metros quadrados, além de alguns hotéis do entorno, a cidade toda já respira a atmosfera pop. Do aeroporto, já dava para tirar fotos com heróis como o Capitão América (absolutamente sorridente aos forasteiros) e o Homem-Aranha. Pelas ruas, há elementos que remetem ao evento até nos mais discretos (diferentemente dos trabalhados cosplays), que trajam uma diminuta orelhinha de elfo ou bolsas e mochilas que estampam o rosto de figuras conhecidíssimas das telonas, caso do irreverente Deadpool. No avião de Houston até San Diego, na manhã de quarta-feira, a comissária de voo não resistiu ao ver a movimentação na aeronave e perguntou no alto-falante: “Por curiosidade, alguém aqui vai para a Comic-Con?”, para riso dos presentes.

A cidade californiana se tornou epicentro da cultura pop ainda em 1970, quando alguns amigos decidiram reunir fãs de quadrinhos (a vocação original da convenção), ficção científica e cinema. No começo, foram 300 participantes (hoje são estimados pelo menos 135 mil), mas a possibilidade de unir o público consumidor com os criadores das histórias se mostrou boa ideia e a Comic-Con já ultrapassou as cinco dezenas de edições — o que deu à feira status de um dos principais eventos de entretenimento globalmente. O Brasil, por exemplo, criou seu próprio modelo de convenção, a CCXP, há dez anos em cartaz no país, e chegou a reunir 287 mil pessoas em São Paulo no ano passado (sim, uma marca maior do que a do evento original).

O que vem por aí

Em San Diego, há contornos importantes de consumo no espaço expositivo. Visitantes passeiam com amplas sacolas contendo action figures, camisetas, pôsteres, quadrinhos e outros itens. E as novidades, vale dizer, esgotam rápido. Quem de cara tentou comprar uma edição do livro “The Book of Elsewhere” (em tradução livre, “O livro de outro lugar”), escrito pelo ator Keanu Reeves e mais o autor britânico China Miéville, não encontrou cópias na quinta-feira, tudo evaporou em menos de cinco horas de evento. A previsão de reposição era somente para hoje.

Neste 2024, o evento seguirá o ritmo de dar detalhes inéditos de produções de TV, cinema e do mercado dos quadrinhos. Estão previstos painéis de séries inéditas como “Pinguim”, da HBO, com Collin Farrell fazendo as vezes do lendário vilão. Houve também programação ligada aos 25 anos de Bob Esponja, às franquias Percy Jackson e Transformers.

Também está confirmada a agenda que dará detalhes da segunda temporada de “O Senhor dos Anéis: os Anéis de Poder”, série inspirada na saga de J.R.R. Tolkien (1872-1973) com continuação confirmada no Prime Video a partir de 29 de agosto. A Marvel Studios, entre outras novidades, teve um momento especial dedicado ao novíssimo “Deadpool & Wolverine”, que estreou ontem no cinemas. Na sexta, o painel da série “The Boys”, também do Prime Video, ganhou contornos de celebração pela quarta temporada, que acaba de entrar no serviço de streaming.

Boa parte do elenco, incluindo o ator Jeffrey Dean Morgan (anteriormente em “Supernatural” e “The walking dead”) esteve no painel para comentar suas impressões da produção. Um curto vídeo com erros de gravação também foi oferecido aos fãs que assistiam ao painel inicial.

— O roteiro diz exatamente o que é a série. Lá descrevia que são super-heróis, mas todos meio ferrados — diverte-se Jack Quaid, ator que faz Hughie Campbell.

No painel, houve a apresentação de cenas da segunda temporada de “Gen V”, um spin-off da série principal. A previsão de lançamento é 2025. A série ainda terá mais um lançamento derivado, atualmente em processo de roteiro. Trata-se de uma série chamada de “Vought Rising” e terá Jensen Ackles (também em “The Boys”) no elenco.

* Mariana Rosário viajou a convite do Prime Video