Internacional

Entenda os erros do Serviço Secreto durante ataque contra Trump que levaram à renúncia de chefe de agência

Ataque feriu ex-presidente na orelha, deixou um morto e feriu duas pessoas; Kimberly Cheatle reconheceu falha 'significativa', mas evitou responder diretamente aos questionamentos técnicos

Agência O Globo - 23/07/2024
Entenda os erros do Serviço Secreto durante ataque contra Trump que levaram à renúncia de chefe de agência
Trump

A diretora do Serviço Secreto dos Estados Unidos, Kimberly Cheatle, renunciou nesta terça-feira, informou a imprensa americana, um dia após reconhecer que a agência falhou em sua missão de evitar uma tentativa de assassinato contra Donald Trump durante um comício na Pensilvânia. Apesar de ter protegido o presidente Joe Biden e o ex-vice-presidente Richard Bruce Cheney (2001-09), a veterana assistiu sua credibilidade ruir após os erros gritantes cometidos durante o último dia 13.

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Assim que o choque e a adrenalina começaram a se dissipar, as principais dúvidas focavam na falha que permitiu ao atirador, abatido 30 segundos depois, se posicionar a menos de 200 metros e disparar oito vezes contra o palco, atingindo Trump na orelha, matando o bombeiro Corey Camperatore, de 50 anos, e deixando dois apoiadores de Trump gravemente feridos.

Na segunda-feira, ao prestar depoimento para o Comitê de Supervisão e Responsabilidade da Câmara dos Representantes (o equivalente à Câmara dos Deputados brasileira), a diretora disse que o Serviço Secreto foi informado sobre uma pessoa "suspeita" entre duas a cinco vezes antes do ataque.

Os próprios apoiadores de Trump afirmaram à veículos de imprensa americanos que informaram autoridades presentes no local sobre um homem armado no telhado da área adjacente ao comício. Cheatle destacou, porém, que há uma diferença entre "suspeita" e "ameaça".

Ela também revelou que o telhado onde o atirador abriu fogo havia sido identificado como uma vulnerabilidade potencial dias antes. Mas não respondeu por que não havia nenhum agente no telhado ou se o local estava ou não dentro do perímetro de monitoramento da agência.

Em uma conversa separada, citado pelo Financial Times, disse que a agência "não sabia... como o indivíduo conseguiu ter acesso ao telhado". Ela refutou que o Serviço Secreto estivesse com poucos recursos no dia, afirmando que "para o evento de 13 de julho, os recursos que foram solicitados para aquele dia foram fornecidos". No domingo, a agência admitiu pela primeira vez que rejeitou pedidos de Trump por mais agentes nos últimos dois anos.

Na semana passada, a diretora chegou a dizer que havia três agentes da polícia no local, mas a informação foi rebatida pelas demais forças de segurança que patrulhavam o comício. E, ao ser questionada pela republicana Marjorie Taylor Greene, da Geórgia, sobre um cronograma a partir do tiroteio, a Cheatle disse que tinha um cronograma "que não tem detalhes específicos".

'Estava atrasada'

O presidente do comitê, o republicano James Comer, instou a renúncia da diretora na segunda-feira por não ter demitido nenhum agente pela falha, o que Cheatle rebateu, explicando que a investigação interna ainda estava em andamento.

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Além disso, apesar de ter reconhecido a falha, que descreveu como a "mais significativa em décadas", a decisão de Cheatle em sair pela tangente em alguns questionamentos mais técnicos ou se recusar a fornecer detalhes mais específicos sobre o ataque irritou deputados republicanos e democratas, que já vinham pressionando para que deixasse o cargo.

— Estava atrasada, ela deveria ter feito isso pelo menos uma semana atrás — disse republicano Mike Johnson, presidente da Câmara dos Representantes, aos repórteres nesta terça-feira. — Estou feliz em ver que ela atendeu ao chamado tanto dos republicanos quanto dos democratas.

Até esta terça-feira, Cheatle mantinha-se firme, destacando que era a "melhor pessoa para liderar o Serviço Secreto neste momento". Em uma carta obtida pela agência Associated Press, porém, afirmou que "à luz dos eventos recentes, é com o coração pesado que tomei a difícil decisão de renunciar como sua diretora".

Críticas machistas

Além do Serviço Secreto, responsável primário pela segurança do presidente e dos candidatos à Presidência, o evento eleitoral também contou com a atuação de integrantes do FBI, e da polícia local da Pensilvânia. Mas, desde o atentado, influenciadores da direita ultraconservadores americana, congressistas e até o bilionário Elon Musk atribuíram a falha de segurança às mulheres que trabalham na agência, inclusive Cheatle.

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"Muito pequenas ou fracas demais", repetem os extremistas, que também alegam que as políticas de diversidade e inclusão causaram uma suposta queda no padrão de recrutamento. No momento dos disparos, várias mulheres de terno e óculos escuros, se lançaram para proteger Trump e retirá-lo do local.

O recrutamento no Serviço Secreto já foi criticado em maio, após o Congresso iniciar uma investigação sobre um incidente envolvendo uma agente de segurança da vice-presidente Kamala Harris. Em uma carta para Cheatle, Comer expressou preocupação com a contratação da agente e a verificação de seus antecedentes, argumentando que a atual escassez de pessoal "levou a agência a diminuir seus rigorosos padrões como parte dos esforços de diversidade, equidade e inclusão".

Na segunda, a diretora defendeu as agentes do Serviço Secreto:

— Estou contratando as candidatas mais qualificadas que se candidatam e que querem trabalhar para nossa grande organização — rebateu Cheatle.

Além do Comitê de Supervisão e Responsabilidade da Câmara dos Representantes (o equivalente à Câmara dos Deputados brasileira), também estão investigando o atentado o FBI, o próprio Serviço Secreto, e a Agência americana de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos.

Cheatle serviu como agente do Serviço Secreto por 27 anos antes de deixar o cargo em 2021 para se tornar chefe de segurança da PepsiCo na América do Norte. Ela havia sido nomeada pelo presidente Joe Biden em 2022 para liderar a agência. Em uma declaração, Biden e a primeira-dama, Jill, disseram que são "gratos" pelas décadas de serviço público de Cheatle, acrescentando que nomearão um novo diretor "em breve". (Com AFP)